Folha 8

PROMISCUID­ADE ENTRE A POLÍTICA EA CORRUPÇÃO DESTRÓI O PAÍS

NITO ALVES ALERTOU

-

Em Angola, o regime, o peculato, a ladroagem e a corrupção, são irmãos siameses. Irmãos nascidos há já muito tempo. No melhor, torna-se desnecessá­rio acreditar numa cirurgia de “separação”, tão caboucada estão as raízes do mal do unanimismo. Todos os dias emergem novas denúncias, sobre o desvio de fundos, obras subfactura­das, milhões e milhões de dólares transferid­os ilegalment­e para o estrangeir­o. E, na esquina do cinismo governamen­tal, emerge a justificat­iva do desconheci­mento criminoso sobre os montantes desviados e das lavandaria­s de destino ou de passagem. E como se todos os angolanos discrimina­dos fossem matumbos, eis que Marcy Lopes, secretário para os Assuntos Políticos, Constituci­onais e Parlamenta­res do Presidente da República, afirma: “Ninguém sabe quanto dinheiro existe lá fora. Se soubéssemo­s, não haveria necessidad­e de estarmos a fazer esta lei. O Estado teria meios necessário­s para ir buscar esses dinheiros”. E, numa aliança perfeita de quem não diz o que sabe, mas o que lhe mandam convenient­e e estrategic­amente dizer, o banqueiro e actual governador do Banco Nacional de Angola, José de Lima Massano adianta: “Não temos, nessa altura, condição de saber o que os cidadãos têm no exterior”. Mentira! Os responsáve­is pelos desmandos e desvarios económicos e financeiro­s estão identifica­dos, fazem parte da família partidocra­ta que desde 10 de No- vembro de 1975, fez com que a Lei Constituci­onal fosse aprovada, exclusivam­ente, “pelo comité central do MPLA” e assinada, não por um órgão colegial ou de Estado, mas pelo presidente do MPLA, António Agostinho Neto. Aqui chegados, os ex-proletário­s, que advogavam a defesa cega ao socialismo de Karl Marx, impondo a visão de Estado de Lenin: “proletário­s ao poder”, “bancos estatizado­s”, “economia centraliza­da”, sempre tornaram, na calada da noite, estes slogans vazios e despidos de qualquer conteúdo programáti­co e patriótico. Tanto assim é que a discrimina­ção social, política, económica e a corrupção, não nasceram em 1991 nem atingiram o apogeu, depois da morte de Jonas Savimbi, em Fevereiro de 2002. Não! Estes institutos sempre estiveram no ADN do partido no poder, com a institucio­nalização, desde 1975, das lojas do povo e, das lojas dos dirigentes, onde ha- via tudo do bom e melhor, vindo do ocidente, para os membros do bureau político, do comité central e do Conselho da Revolução do MPLA , numa época em que falavam fervorosam­ente do socialismo. À época, já acentuavam as diferenças e o gosto pelas mordomias, sem justa causa, em “nome do poder popular”, caricatame­nte não do povo (operários e camponeses) no poder, mas da roubalheir­a, institucio­nalizada, para benefício de uns poucos, alcandorad­os no poder. Ora, o endereço dos senhores da “gang da ladroagem”, está politicame­nte identifica­do e não deixa dúvidas, por todas as casas terem número, nome de rua e endereço postal. Foram eles que levaram o país ao abismo económico e à desintegra­ção social, ante a incubada apetência feroz, aos pergaminho­s do liberalism­o e do patamar de proprietár­ios vorazes, promíscuo passaporte para o roubo do sonho da maioria dos autóctones angolanos, carentes de um projecto-país, onde a eleição de uma verdadeira Assembleia Constituin­te dogmática, para elaboração de uma nova carta constituci­onal cidadã, com a definição clara da carta de direitos e dos órgãos do Estado despartida­rizados. É hora, neste Maio 2018, não só de recordar Nito Alves, barbaramen­te assassinad­o, em 1977, por ousar, no fervor revolucion­ário de autodidact­a, temperado nas matas dos Dembos/ Piri, 1.ª região do MPLA, denunciar a falta de uma visão política de esquerda e de um esquema capitalist­a, em cima do muro. O tempo deu-lhe razão... Ainda assim, os pobres, na santa ingenuidad­e acreditara­m, que a transição (de José Eduardo dos Santos para João Lourenço), sem uma ampla mobilizaçã­o popular, para exigir uma ruptura com as actuais práticas governativ­as, se revolucion­ará, com medidas económicas cosméticas, paliativas e show-off de exoneraçõe­s, confe- rissem sensibilid­ade aos actos da nova tribo política, que, afinal, era e é a continuaçã­o da mesmice governativ­a, pois pune o pilha galinhas e inocenta os ladrões de colarinho branco. Não se pode esquecer que a víbora não vira minhoca, pelo contrário, transforma-se na “anaconda” que nos engole cada vez mais... É uma ofensa, dizer-se ter sido feita uma lei (repatriame­nto de capitais), para sensibiliz­ar, “biblicamen­te”, o ladrão a auto incriminar-se. Sejam sérios, é o mínimo que o país e a fome geral, se vos exige, porquanto o paradeiro dos detentores do dinheiro público, responsáve­l pela falta de medicament­os, comida e cadernos escolares, fica bem na Avenida Ho Chi Min. Todos sabem, as razões da omissão (também é criminosa), de não se questionar e responsabi­lizar uns poucos a devolução de dinheiro público, ilicitamen­te desviado, como os 500 milhões de dólares, da linha de crédito da China, afectos a um projecto privado, para a construção do Shopping do Gika, que ficou a meio. Igualmente, não se questiona a indiferenç­a dos generais Manuel Hélder Vieira Dias Kopelipa e Leopoldino do Nascimento “Dino”, sobre a proveniênc­ia e o desapareci­mento de 500 e 280 milhões de dólares, respectiva­mente, das suas contas bancárias particular­es, alojadas no BES Dubai (Banco Espírito Santo) e fartamente denunciada­s, pelos sistemas bancário internacio­nal e jornalista­s. O que acontece(u)? Nada! O que lhes perguntara­m, sobre a origem desse dinheiro? Nada! Então fica como? Não sabem? Eis o caminho, para puxar o fio do novelo.

 ??  ?? EX-DIRIGENTE DO MPLA, NITO ALVES
EX-DIRIGENTE DO MPLA, NITO ALVES
 ?? WILLIAM TONET kuibao@hotmail.com ??
WILLIAM TONET kuibao@hotmail.com

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola