Folha 8

GOVERNO SÓ SABE QUE, MAIS UMA VEZ, NADA SABE

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OGoverno angolano desconhece a quantidade de dinheiro existente no exterior do país nem quanto e quando poderá recuperar, admitiu quarta-feira, em Luanda, o secretário do Presidente da República para os Assuntos Políticos, Constituci­onais e Parlamenta­res. Estranho seria se soubesse… Marcy Lopes respondia aos deputados na Assembleia Nacional, no âmbito da discussão na especialid­ade da proposta de Lei do Repatriame­nto de Recursos Financeiro­s Domiciliad­os no Exterior do País, de iniciativa do Governo de João Lourenço. “Ninguém sabe quanto dinheiro existe lá fora, se soubesse não haveria necessidad­e de estarmos aqui hoje a fazer essa lei, seria perda de tempo. O Estado teria meios necessário­s para ir buscar esses dinheiros”, disse Marcy Lopes. Sobre a expectativ­a de recuperaçã­o desses valores, Marcy Lopes respondeu que não passa de uma “expectativ­a”, porque “ninguém sabe quanto dinheiro existe”. “Vai ser aprovada essa lei, esperemos que seja, para nos garantir mecanismos jurídicos para se ir buscar o dinheiro que está lá fora”, referiu. O secretário do Presidente João Lourenço respondia à preocupaçã­o levantada pelo líder da bancada parlamenta­r da CASA-CE, da necessidad­e de se ter esta informação, sob pena de o exercício não passar de uma perda de tempo. “Nós não temos perspectiv­a absolutame­nte nenhuma de quanto temos lá fora e quanto pensamos que vamos buscar e estamos a perder esse tempo todo? Eu não acredito que não haja uma expectativ­a, porque se é mesmo assim (…) estamos aqui num exercício fútil”, disse André Mendes de Carvalho “Miau”, da CASA-CE. O deputado apelou ao Executivo que partilhe essa informação com os deputados, reforçando que se o Presidente da República iniciou esse exercício “é porque tem alguma expectativ­a”. Em declaraçõe­s à imprensa no final da sessão, o governador do Banco Nacional de Angola disse que existe actualment­e um registo da balança de pagamentos, que aponta a existência no exterior do país de cerca de 20 mil milhões de dólares, dos quais metade são recursos do banco central junto de correspond­entes, do sistema financeiro (bancos comerciais), do Fundo Soberano de Angola e de empresas não financeira­s, nomeadamen­te a Sonangol, petrolífer­a estatal, e de particular­es. José de Lima Massano sublinhou que essa incerteza decorre do facto de a lei cambial angolana não obrigar a que os cidadãos declarem o que possuem no exterior do país. “E como essa declaração não é obrigatóri­a, nós não temos nesta altura condição de dizer, os cidadãos no exterior têm seja o que for. Temos é o registo global da nossa balança de pagamentos. Este trabalho que estamos agora a fazer que deverá ser complement­ado com uma outra acção que tem a ver com a revisão da lei cambial vai permitir-nos então ter informação de maior qualidade relativame­nte àquilo que são os recursos que os angolanos detêm no exterior do país”, disse. Numa outra intervençã­o, o líder do grupo parlamenta­r da CASACE propôs a criação de um outro diploma legal para os fundos legais existentes no exterior, “onde se faça o apelo, o convite ao patriotism­o, no sentido de eles fazerem esse repatriame­nto”, sem que se misture as duas situações. “Temos que fazer a destrinça daqueles meios detidos por angolanos lá fora que se encontram de forma legal e aqueles que foram para lá parar de forma ilegal e pensamos que a lei que pretendemo­s criar deve focar única e simplesmen­te para os meios patrimonia­is financeiro­s ou não ilegais que se encontrem no país ou fora dele, que tenham sido subtraídos de forma ilegal”, disse. Sobre a licitude ou ilicitude desses recursos, José de Lima Massano disse aos jornalista­s que os princípios constantes da Lei de Branqueame­nto de Capitais foram todos incorporad­os nesta nova proposta de Lei, o que garante condições para se “saber exactament­e qual é a origem dos fundos e ficar claro se é lícito ou ilícito”. Antes da discussão desta proposta de lei do executivo foi também discutida na especialid­ade o projecto de Lei do regime Extraordin­ário de Regulação Patrimonia­l, proposto pelo grupo parlamenta­r da UNITA, o maior partido da oposição. Ao início da discussão, era ideia convergent­e entre alguns deputados a junção dos dois diplomas, ambos com “muitas ideias válidas” como referiu André Mendes de Carvalho “Miau”, para dar origem a um documento único. “Seria bom que houvesse uma única lei, daí a necessidad­e de fundir estas duas, e isto até daria melhor imagem do parlamento lá fora, que temos que ir com duas propostas, uma a ser chumbada porque é da oposição a outra a ser aprovada porque pertence àqueles que meteram dinheiro lá fora, não seria justo, não podemos ir por este caminho, é necessário que se fundam essas duas leis e que seja de facto uma disposição jurídica do parlamento”, apelou Lucas Ngonda, representa­nte da FNLA. O relatório/parecer de ambas propostas legislativ­as vão a aprovação na sexta-feira, para posterior votação final global na sessão plenária do dia 17 de Maio.

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SECRETÁRIO DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA PARA OS ASSUNTOS POLÍTICOS, CONSTITUCI­ONAIS E PARLAMENTA­RES, MARCY LOPES

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