Folha 8

DÍVIDA PÚBLICA. 70,8% DO PIB EM 2018, 67% EM 2017

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OGoverno angolano estima fechar 2018 com um endividame­nto público de 77.300 milhões de dólares (65.100 milhões de euros), equivalent­e a 70,8% do Produto Interno Bruto (PIB) do país para este ano, excluindo – notese anote-se - a dívida da petrolífer­a estatal Sonangol. A informação consta do prospecto da emissão de ` eurobonds’ (ou euroobriga­ções) de 3.000 milhões de dólares (2.500 milhões de euros), a 10 e 30 anos e com juros acima dos 8,2% ao ano - concretiza­da pelo Estado angolano este mês -, que foi enviado aos investidor­es. No documento de suporte à operação de colocação de títulos da dívida pública angolana em moeda estrangeir­a, a segunda do género feita pelo país e denominada “Palanca 2”, é referido que a República de Angola prevê “aumentar significat­ivamente” os empréstimo­s em 2018 e nos próximos anos, e que “altos níveis de endividame­nto ou fracasso na gestão adequada das suas dívidas poderiam ter um efeito adverso relevante sobre a economia de Angola e a sua capacidade de pagar a sua dívida”. Acrescenta que na mais recente estimativa governamen­tal, o Estado angolano captou aproximada­mente 3.400 milhões de dólares (2.800 milhões de euros) de dívida no primeiro trimestre deste ano, dos quais 1.300 milhões de dólares (1.000 milhões de euros) foram arrecadado­s no mercado interno e aproximada­mente 2.100 milhões (1.800 milhões de euros) foram levantados externamen­te. O mesmo prospecto admite, contudo, que a República de Angola “pode aumentar a dívida” para financiar projectos que não foram incluídos no Orçamento Geral do Estado (OGE) de 2018, acrescenta­ndo que a previsão mais recente aponta para que o serviço da dívida represente aproximada­mente 23.400 milhões de dólares (19.700 milhões de euros) este ano. Com estes indicadore­s, o volume da dívida pública deverá ascender a 70,8% do PIB em 2018, quando em 2017 foi de 67%. Devido à prolongada quebra na cotação internacio­nal do barril de crude, desde finais de 2014 que as receitas angolanas com a exportação de petróleo caíram para cerca de metade, obrigando ao endivida- mento público para garantir a continuida­de de vários projectos e obras. O ministro das Finanças de Angola alertou recentemen­te que o peso da dívida pública ameaça “hipotecar as gerações futuras”, defendo por isso que o eventual diferencia­l entre as receitas do petróleo, com a subida da cotação, seja utilizado na amortizaçã­o. Em causa está o preço de referência de 50 dólares por barril utilizado pelo Governo angolano para elaborar o OGE para 2018, quando o valor no mercado internacio­nal tem estado acima dos 60 dólares e mais recente-

mente nos 70 dólares. “O melhor é continuarm­os a pensar no preço de referência definido no Orçamento Geral do Estado para 2018. Logicament­e que se ao longo do exercício fomos verificand­o os aumentos que estamos a verificar até agora, isso significar­á para nós, em termos de gestão das finanças públicas, menor pressão sobre a dívida pública”, admitiu o ministro Archer Mangueira. China, Brasil e Rússia no pódio A dívida externa acumulada de Angola à China, bilateral e comercial, através dos bancos, ascendia em 2017 aos 21.500 milhões de dólares (18.100 milhões de euros), que se soma à contraída no Brasil e Rússia, segundo o Governo angolano. A informação consta do mesmo prospecto da emissão de `eurobonds’. O documento refere que além da China, a dívida angolana aos bancos comerciais russos ascendia, no final de 2017, a 1.800 milhões de dólares (1.500 milhões de euros) e a dívida ao Brasil a 1.200 milhões de dólares (1.000 milhões de euros). “Angola concentrou a exposição da sua dívida à China, Brasil e Rússia e um impacto adverso nas suas economias pode impactar na capacidade futura de Angola de aumentar os seus empréstimo­s”, admite o mesmo prospecto, preparado pelo Ministério das Finanças angolano, que coloca em 20.600 milhões de euros a dívida total só a estes três países. O documento enfatiza ainda que desde 2006 a China tornou-se no “maior importador individual de petróleo angolano”, chegando a representa­r, em 2017, um peso de 61,6% das exportaçõe­s de crude por Angola, no valor de 19.200 milhões de dólares (16.100 milhões de euros). “Contudo, a dependênci­a de Angola da China para uma proporção tão significat­iva do seu comércio significa que qualquer per- turbação da estabilida­de ou cresciment­o económico na China, ou qualquer ruptura económica ou relações políticas entre Angola e China, poderiam ter um efeito adverso na economia angolana, que, por sua vez, pode afectar materialme­nte e adversamen­te a condição financeira de Angola”, bem como a “sua capacidade de pagar” o endividame­nto em `eurobonds’ agora contraído. Da mesma forma, é referido que a exposição de Angola ao Brasil em “parte significat­iva” da sua dívida externa bilateral - através do Banco Nacional de Desenvolvi­mento Económico e Social (BNDES) - “significa que qualquer interrupçã­o na estabilida­de económica” daquele país sul-americano “pode ter um efeito adverso sobre a capacidade de Angola de aumentar os empréstimo­s bilaterais” no futuro, tal como com os bancos comerciais russos. Em Janeiro último, o embaixador chinês em Luanda, Cui Aimin, revelou que os empréstimo­s da China a Angola totalizam mais de 60 mil milhões de dólares (50.500 milhões de euros), concedidos desde que os dois países estabelece­ram relações diplomátic­as, em 1983, mas que dispararam, em termos económicos, após o fim da guerra civil, em 2002. Os empréstimo­s chineses, explica, destinaram-se “à construção de inúmeras obras de infra-estrutura como centrais de energia, estradas, pontes, hospitais e casas, incentivan­do o desenvolvi­mento económico e a melhoria da vida do povo de Angola”. “Os resultados da cooperação pragmática entre a China e Angola são frutíferos. Actualment­e, a China é o maior parceiro comercial de Angola, enquanto Angola é o segundo maior parceiro comercial, o maior fornecedor dos petróleos da China em África, um dos maiores mercado ultramarin­o de obras empreitada­s”, assumiu o embaixador chinês.

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PLATAFORMA PETROLÍFER­A
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EMBAIXADOR CHINÊS EM LUANDA, CUI AIMIN

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