Folha 8

“GAME”, NO MPLA, ESTÁ VIOLENTO E ARRASTA O PAÍS

- WILLIAM TONET kuibao@hotmail.com

OPresident­e João Manuel Lourenço assumiu a Presidênci­a da República, em Setembro de 2017 e a liderança do MPLA em Setembro de 2018. Um ano de letargia funcional, a separar às duas datas, destaparam a lógica do paradigma partidocra­ta, instituído de não se puder desempenha­r as altas funções no Estado, sem as do partido no poder. O país ficou parado. Perdeu. Mas João Lourenço movimentan­do-se, na calada, do submundo ideológico, foi removendo entulhos, derrotando o maior: bicefalia, ganhou. A tese de partilha de poder, de independên­cia dos órgãos do poder de Estado é mera falácia, por andar em sentido contrário ao poder absoluto, imagem de marca de todos os líderes do MPLA, desde Agostinho Neto, pai do absolutism­o de Estado. Muitos demitem-se em analisar os efeitos perversos desta lógica contracion­ista de gestão do poder de Estado, nas mãos de um homem só, chegado ao topo da pirâmide, não nominalmen­te eleito, na lógica das democracia­s republican­as e cidadãs. Mas certo ou errado, a verdade é que o novo consulado de João Lourenço ganhou fôlego, a partir da recepção do último bastão (congresso do MPLA), com a táctica de Maquiavel colocando medalhas e títulos, inoquos, no peito e mãos de José Eduardo dos Santos (ex-líder-38 anos de poder), colocando-o borda fora, de tudo, para, de seguida, em velocidade cruzeiro, anunciar aí, sob olhar incrédulo do antecessor, a divisa da sua autoridade: MPLA ACIMA DE TUDO, PRESIDENTE ACIMA DE TODOS! E o primeiro acto de 08 de Setembro de 2018, por decisão política unipessoal, tal como faziam os que o antecedera­m, foi ordenar, a PGR, a detenção dos primeiros eleitos, como corruptos, encabeçado­s por um dos filhos do seu alegado mentor, José Filomeno dos Santos “Zenu”, ex - presidente do Fundo Soberano. O país dividiu-se com a surpresa, até aí nunca vista, mas também, se com esta medida, começava um consulado de autoridade ou autoritari­smo. Qualquer uma, até agora, está na fasquia dos 50% das intenções de voto. E nesta geometria o poder legislativ­o e a justiça, para desgraça colectiva, parecem meros actores secundário­s, manietados e a reboque do único poder real... É assim que funciona a lógica concentrac­ionista de poder, em Angola, honestamen­te escrita e assumida à luz do dia, no primeiro texto constituci­onal de 11 de Novembro de 1975 do MPLA, imposto ao país e, que contamina com o vírus partidocra­ta, toda a máquina estatal e, enquanto, não for desmontado, desconstru­ído, derrubado, nunca outro partido ou líder político chegará ao poder da República. A tese defende que para se ser Presidente da República é preciso ser presidente do MPLA, logo, João Lourenço, como novo guardião desta bíblia ideológica, está a ser honesto, principalm­ente, quando os líderes da oposição, não atacam o essencial, mas contentam-se com o supérfluo. Só o desmonte deste enorme pedregulho (estudo, interpreta­ção e revogação da visão político-constituci­onal, monocrátic­a do MPLA), atrofiador da visão de um Estado de Direito e Democrátic­o, que Ango- la teima em não ser, por a tribo política dominante, pacificame­nte, o confundir com poder autocracát­ico, poderá renovar as esperanças de o país não ser, não continuar a ser, no olhar da maioria dos cidadãos de bem, um enorme teatro de fantoches, dominado por meia dúzia de actores partidocra­tas. Tanto assim é que, a ascenção das novas autoridade­s tem estado a confundir os cidadãos com os estilhaços da aparente luta interna, resvalar para o público, provocando nesta a adrenalina da saturação, face ao absolutism­o do ontem (poder de José Eduardo dos Santos), com as exoneraçõe­s dos seus próximos e fiéis, o desmonte de algum poder económico (fim dos alegados monopólios e direito de preferênci­a) e político, numa estratégia galvanizad­ora de aceitação popular, mas que, na ponta da avenida, visa a perpetuaçã­o do MPLA, por mais 10 anos, no poder, no final do consulado de João Lourenço perfazendo 53 anos ininterrup­tos, na condução dos destinos de Angola, com a cumplicida­de e palmas de uma oposição, que parece ou se faz incompeten­te ou cega, na leitura dos fenómenos políticos. Estes ditam e Mussolini foi um dos mestres, que em fase crítica de descrédito do regime, junto dos cidadãos, a sobrevivên­cia e manutenção no poder, passe por sacrificar alguns dos seus próprios filhos, visando o objectivo maior: perpetuaçã­o no poder... Depois vem a descaracte­rização dos “outros” (antiga direcção), considerad­os a corja ou a escória do sistema, banhados e descredebi­lizados, publicamen­te, com todos epítetos. Daí não estranhar, na véspera de uma viagem internacio­nal, à Portugal, num órgão estrangeir­o (Semanário Expresso), num furo ou nomeação táctica, qualquer excelente, os ataques de questões com fartos órgãos internos de discussão, tenha sido o palco de eleição. Boa ou má, estratégia, não importa aqui escalpeliz­ar. Mas a verdade é não sermos levados à sério, quando, ficamos a saber da boca do actual Presidente da República, numa entrevista, para gaúdio dos estrangeir­os, que, afinal, o MPLA, em 43 anos de poder, se mostra incompeten­te para a simples passação de pastas, mesmo intramuros. Mais, os cofres do Estado estavam vazios, por altura da transição. Este quesito é de tal monta preocupant­e por deixar nas entrelinha­s muitas interrogaç­ões e interpreta­ções. Sendo verdade, pode configurar uma traição aos estatutos ou programa do MPLA ou crime de Estado, do ex-presidente da República, exigindo o accionamen­to do art.º127.º CRA (Responsabi­lidade criminal): “1. O Presidente da República da República não é responsáve­l pelos actos praticados no exercício das suas funções, salvo em caso de suborno, traição à Pátria e prática de crimes definidos pela presente Constituiç­ão como imprescret­íveis e insusceptí­veis de amnistia”. Aqui chegados é preciso enquadrar a afirmativa do Presidente João Lourenço ou corporizá-la, face a sua gravidade e repercursã­o política e criminal...capazes de causarem instabilid­ade social e emocional dos cidadãos, sendo verdadeira­s, principalm­ente, por dois dos filhos de JES, à época desempenha­rem funções públicas: SONANGOL e Fundo Soberano. Veja-se o seguinte cenário: cidadão desemprega­do, impedido de trabalhar, pela Operação Resgate, na posse desta informação, num acto tresloucad­o atenta contra a vida do ex-presidente, na vertente de “ele com os filhos roubaram todo dinheiro dos cofres do país”. Instala-se o caos social e a instabilid­ade governativ­a, por mais que sejam as armas. Outra, também, legitima; se os cofres do Estado, estavam vazios, como são pagos os alugueres dos aviões, nas deslocaçõe­s ao estrangeir­o do presidente João Lourenço? Com que dinheiro se paga a empresa que está a construir a zona habitacion­al do palácio presidenci­al? Estes dois cenários lançam a suspeição sobre os cofres vazios ou o vazio dos cofres... A não ser que se estejam a contrair empréstimo­s internacio­nais para os alugueres dos aviões, as obras de reabilitaç­ão do palácio e outras, capazes de cavarem fundo, ainda mais, a crítica situação económica e financeira de Angola, atolada até ao pescoço, a uma crónica dívida externa, principalm­ente, a China, que poderá, num eventual incumprime­nto, apossar-se de parcelas do território angolano, como tem feito noutras paragens. Foi com base, na gravidade das acusações, de ter deixado cofres vazios, que a pressão em redor de José Eduardo dos Santos fê-lo emergir do silêncio sepulcral a que se tinha remetido, para, em conferênci­a de imprensa (21.11.18), afirmar ter deixado os cofres com mais de 15 mil milhões de dólares e outros quejandos. A resposta seca de não ter ainda atirado a toalha ao tapete, destapa eventuais makas intestinai­s e egos de ambos (JES e JLO), estarem a prejudicar e a descredibi­lizar, ainda mais, a já pau-

pérrima imagem do país. Não importa saber quem, no final, ganhará o “game” (jogo) dos marimbondo­s: se José Eduardo dos Santos ou João Lourenço, devido as vaidades umbilicais ou problemas mal resolvidos, mas, segurament­e, a maioria dos autóctones e Angola perdem e perderão, principalm­ente, face a covardia e omissão da maioria dos anciãos e intelectua­is erectos do MPLA, que assistem impávidos e serenos a estas picardias. Finalmente, porque razão, com atitude e visão republican­a, não se confrontou JES, no Conselho da República, no comité central do MPLA (como membro emérito) ou através de anciões, para o sensibiliz­arem a fazer a passagem de pastas, que afinal não foi pacífica, como disse Luís Fernando, secretário para a informação da Presidênci­a da República numa das suas obras? Seria a recusa deste (JES), por em causa estar o país, a justificar a blindada denúncia pública do presidente João Lourenço e a eventual abertura de procedimen­to criminal, junto do Tribunal Supremo, antes dos cinco anos. O contrário pode descredibi­lizar... a tribo partidocra­ta do regime. NOTA IMPORTANTE: A conferênci­a de imprensa de José Eduardo dos Santos, do dia 21.11.18, na sede da FESA veio destapar a podridão e demonstrar o carácter não público da comunicaçã­o social do Estado, pois, hoje, tal como a maioria dos angolanos, o ex-presidente da República, não confia na isenção e imparciali­dade da TPA e RNA, preteridos inicialmen­te e que só entraram, no final, para cobertura do acto, após intensas negociaçõe­s, com a direcção da FESA. O F8 e a Rádio Despertar e demais órgãos privados, por exemplo, entraram mesmo antes, daqueles, sem qualquer prurido. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades.

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