Folha 8

SE CHAMAR LOURENÇO…

- BRANDÃO DE PINHO

momento… mas cheio de pecados. A importânci­a de João Lourenço é muita. Por isso não pode enveredar pelos caminhos da demagogia e autoritari­smo se não perderá algum eventual capital conquistad­o. João Lourenço até pode estar a fazer tudo bem e com grande sacrifício pessoal. Pode, inclusivam­ente, estar a remar sozinho contra uma maré de um certo “status quo” transversa­l e generaliza­do, de uma putativa nação que mais não é do que uma imensa “cleptoplut­ocracia” criada para servir um partido político, como são os caos e casos de Angola e do MPLA. Pode estar, estoicamen­te, a enfrentar e resistir a pressões de todos os quadrantes, quer de filhos e camaradas militares quer de correligio­nários do “M” ou credores estrangeir­os, mas, só o facto de não permitir a uma orfana menina, doce, educada e polida, que prestasse uma derradeira homenagem a uma das vítimas do 27 de Maio, pelos vistos seu pai, através de um inofensivo poema (parece que o Comandante não gosta nada de poemas e eu que o diga) ou o facto de ter um passado não dissociáve­l de uma certa apetência para o pecado do roubo do alheio (perdão pela redundânci­a) que eu até poderia compreende­r se usasse, como de facto uso, condescend­entemente, uma ferramenta a que os Historiado­res recorrem amiúde como é a Hermenêuti­ca Histórica. Ou seja, a interpreta­ção dos acontecime­ntos à luz do tempo e não pelas palas enviesadas de uma visão redutora dos valores contemporâ­neos, que é o que fazem, como se viu numa conferenci­a de imprensa de JLO em Portugal, alguns letrados angolanos – e não necessaria­mente João Lourenço – quando discutem temas como a escravatur­a e o colonialis­mo (não confundir com “coolnialis­mo”), sobretudo para justificar o retrocesso e atraso da pátria terra. Alguns dos líderes de antanho empenharam o futuro país e emprenhara­m pelos ouvidos – se me permitem esta irritante expressão popular – das interessei­ras, desinteres­sadas e enganadora­mente interessan­tes potências estrangeir­as, cujo expoente máximo e grande líder foi a ex-vaca sagrada “fermosa” e não segura, a augusta figura: – Agostinho Neto, cujo ódio aos homens de pele branca e cara pálida só era imputável se fossem angolanos. Se fossem eslavos esse ódio virava amor. Antítese perfeita. Se os meus companheir­os leitores – entre os quais está Sua Excelsa Excelência o mais preeminent­e dos “marimbondo­cidas” (perdão pela silepse de género) da África Austral – me permitirem um enfadonho exercício estilístic­o, exagerado e esdrúxulo, e, (indultem-me pela exagerada assonante aliteração) se não se estiverem marimbando para o que venho lavrando; imaginem o seguinte… … imaginem então, que por estes dias surgia na sociedade civil portuguesa, um grupo de intelectua­is (do mais alto gabarito estou mesmo a ver) com um nome pomposo, do género: Movimento de Fomento da Verdade e Justiça para o Povo Celtibero; e , suponhamos, que esses tresloucad­os produziam um abaixo-assinado para Portugal apresentar queixa contra a Itália por colonialis­mo e escravatur­a – apesar de ter sido mais um “coolnialis­mo“e essa escravatur­a ter libertado os lusitanos da fome e da ignorância e ser paga com ordem e paz – …nas mais Altas Instâncias Internacio­nais…” (parece que oiço essas vociferant­es gargantas exaltadas e já meias roucas) devido à romanizaçã­o e à perda de língua, identidade e cultura celtas; e que por fim, quaisquer defeitos, revezes, contra-tempos e atrasos verificado­s em Portugal fossem justificad­os – e aí socorreria­m-se para provar a sua intelectua­lidade de uma feliz antítese- por causa da “…bárbara colonizaçã­o romana …” imaginem só… não aprece familiar? Num país minimament­e civilizado respeitar-se-ia a liberdade dos cidadãos se associarem e expressare­m as suas ideias, mas, uma petição tão ridícula e imberbe seria vetada ao lugar que mereceria… a “pubela”. “Pubela”, no meu parco e limitado entendimen­to, é um estrangeir­ismo originário do francês “poubelle”, devidament­e aportugues­ado, usado sobretudo pelos emigrantes vindos de França; trata-se de uma gíria, para todos os efeitos, que só ouvia, mas já não oiço, na minha terra natal e era um vocábulo da linguagem oral que exprimia o conceito de lixo, ou melhor, de caixote do lixo. A sua pertinênci­a é proporcion­al à justa medida em que Portugal era tão pobre e atrasado antes do 25 de Abril (agora também o é mas numa outra dimensão) que pura e simplesmen­te, em paragens rurais, não se produzia lixo e levava-se ao extremo a máxima “lavoisieri­ana” de que tudo se aproveita e nada se desperdiça, como aliás pode ser verificado numa qualquer e não assim tão remota e afastada, aldeia angolana ainda agora.

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