NINHO DE MARIMBONDOS
vatura dos seus próprios pares, mais 100 anos de colonialismo lusitano e 43 de uma cleptocrática ditadura, mais fascista do que comunista, o que os torna à partida menos preparados para basearem a sua vida em princípios de integridade e lealdade intelectuais e laborais como se estivessem presos a um destino determinista e talvez já sem quaisquer vínculos e referências dos seus pais, avós e bisavós no que concerne a uma certa filosofia e modo de vida assente na livre iniciativa, cultura do trabalho e da iniciativa privada, e, da necessidade absoluta de ambição, espírito de sacrifício, preparação, formação e educação como ferramentas para se vencer na vida e singrar nos negócios. Será que os marimbondos são assim tão poucos como JLO afirmou em Portugal? E será que os cerca de 30 milhões de angolanos estarão comprometidos e unidos nesse intuito e têm força para os aniquilar – mesmo sabendo-se que o emepelialismo e imperialismo pseudo-comunista eduardista criaram uma sofisticada classe de sanguessugas, que habituada a muito e muito fácil dinheiro e a uma total impunidade não se vai deixar perseguir nem render brandamente? Em “Voando sobre um Ninho de Cucos”, Milos Forman, realizador da ex-Checoslováquia, fez uma metáfora perfeita entre a sua própria vida e a do seu país, percebendo que o que iria filmar não era apenas literatura, mas a vida real, a vida que viveu desde o seu nascimento até à sua morte na década de sessenta. O Partido Comunista no seu país (e país dos dentistas do MPLA) era a enfermeira do filme e do livro e era esse mesmo partido que decidia o que se podia e não podia fazer, o que ele era ou não era e o que se podia ou não podia dizer. Era quem determinava onde cada um deveria estar e onde não poderia ir, e no limite, até quem cada cidadão era e o que não era. Este filme é uma alegoria perfeita sobre o que ocorre com uma sociedade que entrega um poder ilimitado nas mãos de um punhado de pessoas sem exigir, simultaneamente, que prestem contas. O Comandante Supremo neste momento goza desse pesado regime e por melhores que sejam as suas intenções, trata-se de uma conjuntura arriscada e perigosa. É a alegoria de Angola que se entregou passivamente, primeiro aos portugueses, depois aos traidores do MPLA e mais recentemente aos chineses com as quais toda a pachorra para negociar é pouca. Angola, por um certo prisma, é uma sociedade fascista, governada por tabus e normas de conduta, e, em que a normalidade é determinada pela elite e toda a irreverência trazida para esta normalidade e quotidiano dos angolanos é severamente castigada, revelando-se este tema como um dos principais quer do país quer do filme. Angola é um gigantesco Hospital Psiquiátrico como aquele onde se desenrola o filme, em que os seus doentes vivem obedientemente dopados, amansados e sem quaisquer desejos que não viver dia após dia. O protagonista do filme (que metaforicamente representa o cidadão co- mum angolano) vai contra esta normalidade e bate de frente com o sistema acabando por ser vítima de uma lobotomia. Na mesma medida o cidadão angolano vive lobotomizado ao ponto de achar que a gasosa, a grande corrupção, o nepotismos, a bajulação e os roubos descarados dos poderosos ao erário público mais não são que a norma e padrão. O que parece às vezes é que o povo angolano já desistiu e se acomodou a essa normalidade imposta pelo MPLA, normalidade que João Lourenço não consegue mudar, procrastinando para as novas gerações o objectivo da plena democracia, com todos os direitos e deveres associados. Não se sabe se João Lourenço voa sobre um ninho de marimbondos ferozes e perigosos ou de cucos parasitas e traiçoeiros ou até de cucos no sentido de loucos como referi num sentido não literal no início da crónica. Mas é quase certo que se perder a batalha que tem contra os marimbondos e também a batalha da diversificação económica (bem mais difícil do que o que parece pois nessa, os angolanos terão de participar activamente) vai perder a guerra e Angola tornar-se-á numa Guiné-Bissau ou numa Líbia. Será aconselhável ao Comandante que seja um homem avisado e use muita prudência pois talvez estes traidores da pátria sejam simultaneamente parasitas, traiçoeiros, ferozes, perigosos e… loucos. E talvez os angolanos, sozinhos, ainda não estejam preparados para pôr o país a laborar ao ritmo louco dos dias de hoje.