TUDO SOBE CONTRA O POBRE
A desvalorização cambial mexe com toda a estrutura de preços da economia, aumentando a taxa de inflação, reduz o poder de compra dos consumidores, gera aumento das taxas de juro do banco central, encarecendo o preço do dinheiro na banca comercial, entre outras consequências directas e indirectas. Falta de estímulo para o investimento. Qualquer moeda é antes de tudo um meio de troca, substituindo a troca directa de bens por bens, como era feita há muitos séculos atrás. É através da moeda corrente que permite os cálculos de custos e proveitos de projectos e investimentos. Sendo o Kwanza uma moeda de circulação fechada, instável, sendo das moedas que mais caiu em valor em 2015 e já no ano de 2016 teve num só dia a oportunidade de cair 15% (04/01/2016), tal comportamento cambial influencia negativamente a vontade de investir num país com este critério depreciativo. Quando investidores investem — principalmente os estrangeiros —, eles estão, na prática, comprando um fluxo de renda ou lucro futuro. Para que investidores (nacionais ou estrangeiros) invistam capital em actividades produtivas, eles têm de ter um mínimo de certeza e segurança de que terão um retorno positivo. Mas se a unidade de conta é diariamente distorcida e desvalorizada, se sua definição é flutuante, há apenas incerteza no lado do investidor, independentemente da sua origem. Se um investidor não faz a menor ideia de qual será a definição da unidade de conta no futuro (sabendo apenas que seu poder de compra certamente será bem menor), o mínimo que ele irá exigir serão retornos altos num curto espaço de tempo, também por isso os preços e margens aplicadas em Angola terão que ser necessariamente maiores para compensar possíveis desvalorizações da moeda. Para países em desenvolvimento como Angola, que precisam de investimentos estrangeiros, essa questão da estabilidade da moeda é crucial, tal como o ponto seguinte: o conhe- cimento. E há outro factor: uma moeda estável cria as condições necessárias para a transferência de conhecimento. O conhecimento acompanha o investimento: o capital estrangeiro vem acompanhado de conhecimento estrangeiro. Se um país desvaloriza continuamente a sua moeda, ele está mandando um sinal claro aos investidores estrangeiros: mantenham o seu capital e conhecimento noutros países. O máximo a que um país de moeda fraca pode aspirar é utilizar para fins de curto prazo o capital puramente especulativo (o chamado “hot money”). Um país de moeda forte e estável envia um sinal bem diferente ao mundo: “tragam seu dinheiro; mandem para cá seus especialistas; construam as suas fábricas aqui; ensinem-nos tudo o que vocês sabem; e riqueza que vocês criarem aqui voltará para vocês multiplicada e numa moeda que mantém seu valor”.