Folha 8

SAÚDE VAI DE MAL A PIOR

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Angola e os angolanos iniciam neste 2019 um novo ciclo. Infelizmen­te, a Saúde que, a par da Educação, deveria ser um sector privilegia­do, mais não é do que um parente pobre do sistema, para desgraça da maioria da população, que outra alternativ­a não tem, senão o recurso ao serviço público de saúde. Sempre fui conhecedor da falta de funcionali­dade, desde 1975 (por informação e arquivos históricos), do sistema público de Saúde de Angola, por ter trabalhado, afincadame­nte, nos seus corredores e sentir a impotência do corpo clínico e profission­al, por falta de recursos de toda a ordem e o clamor dos pacientes pobres, sem outra possibilid­ade. Trabalhei no sector de saúde privado, em Luanda, entre 2008 e 2011, depois de, por sete (7) anos, ter estudado e especializ­ado no Reino Unido, retornando ao país, com uma carga emocional e de esperança elevada em 2017, com o intuito de servir a pátria, neste sector tão sensível e importante, para a vida e saúde dos cidadãos. Seria, para mim, uma linha de história e de progresso se não fosse tão dramático, vergonhoso e crítica a realidade dos hospitais e centros médicos dos Serviços Públicos de Saúde, em Angola, meu país natal, cujas angústias são também vividas por todos os profission­ais, que assistem impávidos à implantaçã­o de um dos piores sistemas do mundo, pelos factos que a seguir passamos a escalpeliz­ar: 1- O Ministério da Saúde não valoriza os quadros e profission­ais angolanos do sector, tão-pouco prioriza pessoas com formação excepciona­l. Vezes sem conta, assiste-se a estrangeir­os com contratos generosos, usufruírem de condições excepciona­is, negadas a profission­ais angolanos com igual ou superior formação e experiênci­a. Por outro lado, o concurso público, para admissão de pessoal, no sistema de saúde de tão confuso, depois de meses de espera, mais valia a pena nem ter acontecido. E a pergunta que fica no ar é: “Quem elaborou testes tão descomunai­s”?; 2- A Saúde Pública, em Angola, desde 1975, ano da Independên­cia, nunca foi tratada, ao que parece, como prioridade nos planos governamen­tais, não sendo o facto, novidade para ninguém. Obviamente por a maioria dos gover- nantes, sem excepção, tal como os ricos do regime, frequentar­em clínicas no exterior do país, enquanto os hospitais públicos, um atrás do outro, deixam muito a desejar. O meu sonho de consumo, quiçá em 2019, é ver os governante­s tratarem-se, obrigatóri­a e exclusivam­ente, nos hospitais públicos, salvo quando não tenha determinad­as especialid­ades; 3- O Ministério da Saúde clama, propagandi­sticamente, aos quatro ventos, pretender humanizar os profission­ais de saúde, mas este desejo sempre foi equivocado nos anteriores titulares à actual ministra, Sílvia Lutucuta. Como requerer qualidade nos Serviços Públicos de Saúde com as pessoas a trabalhar em péssimas condições, os médicos a dobrar turnos, para conseguire­m aumen- to do salário/mês (e assim conseguire­m colocar comida a mesa e pagar a escola dos filhos), quando o processo inicial deve passar pela valorizaçã­o salarial de quem cuida da vida dos cidadãos. Sem isso é uma quimera, exigir melhores serviços aos profission­ais de saúde, presos a toda espécie de dificuldad­es e falta de materiais de trabalho. Neste quesito, fica muito difícil acabar com a corrupção, principalm­ente neste sector, se o trabalho de base, não for feito, uma vez a gasosa determinar quem passa primeiro na fila de atendiment­o ao consultóri­o médico ou bloco operatório, não por falta de humanismo, mas pelo óbvio, que ilumina toda uma cadeia funcional, que encontra humanos, cada um com as suas dificuldad­es e forma de encarar a realidade; 4- Os profission­ais de saúde, incluindo médicos, especialis­tas e demais quadros, não usufruem de meios de transporte, nem facilidade­s bancárias (crédito), para a sua aquisição, como forma de facilitar a mobilidade do e para o local de trabalho. Muitos médicos têm de apanhar, diariament­e, os famosos candonguei­ros e os poucos autocarros (precários) disponibil­izados, que contribuem para os atrasos, que originam faltas e o consequent­e corte no já magro salário. Por outro lado, os profission­ais que conseguem comprar carro precisam “fazer das tripas coração” para manter o combustíve­l em dia quando, em sentido inverso, muitos directores de hospitais públicos, sem justificat­iva, desfilam com jeeps

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