Folha 8

COM 86% DE CRIANÇAS FAMINTAS, FESTEJA-SE O QUÊ?

- BRANDÃO DE PINHO

Se pensarmos bem, festejar a passagem de ano é uma coisa que tanto, talvez, tilinte num tinido de tino como que soe a tonteria. Primeiro: é uma data mundial e perfeitame­nte universal o que a torna banal. Segundo: nem se comemora santo algum ou ícone e festividad­e religiosos que sejam, nem data comemorati­va de algum importante feito histórico local, regional, nacional, continenta­l ou terráqueo. Ainda mais sendo mundial, não acontece ao mesmo tempo em todo o mundo (se bem que isso se aplica a qualquer data na verdade), ou seja, havendo 24 fusos horários – a que se somam aqueles fusos das meias horas dos países “não alinhados” -, e, sendo que a passagem de ano são os 12 segundos antes mais os 12 segundos depois daquele segundo exacto, segundo tal, teremos uma festa e um feriado (aliás feriado e festa têm no latim intrincada­s “co-ligações”) de 24 segundos de folia multiplica­dos por 24 fusos (não contabiliz­ando a Venezuela, a Coreia do Norte e outros países exemplares na óptica da esquerda extremista e dos comunistas que não o MPLA, suponho, que ainda não reviu a sua posição ideológica, apesar dos seus congéneres chineses e portuguese­s já o terem feito (aliás o comunismo científico, ou melhor o socialismo cientifico pressupõe a evolução ideológica e etapas revolucion­árias) mas como o “Eme” é mais uma agremiação de amigos com vista ao seu bem comum e ao beneficio dos seus membros, e, menos um partido político… está tudo bem). Ou seja, festejamos na data do começo de um novo ano porque temos um calendário gregoriano instituído. Mas se pensarmos bem, e a propósito de passagens de conjuntos de unidades temporais, mais importante do que a passagem-de-ano que só dá direito a um feriado de um dia, é o chamado fim-de-semana ou final-de-semana porque ao menos são 2 dias de folga, festa ou feriado e têm uma periodicid­ade de 7 dias e não 365. Por isso proponho que não se comemore o final-de-ano e que se passe a festejar um admirável novo feriado 12 vezes por ano – o final-de-mês; aproveitan­do-se para se criar toda uma panóplia de tradições e rituais com o beneplácit­o e chancela, por exemplo, da Sociedade das Nações geral-secretaria­da pelo bento e bem-aventurado lusófono São Guterres. Esta premissa tem uma falácia pois a data da celebração do último fim-de-mês do ano coincide com a futura antiga celebração do “Réveillon” e poder-se-ia (excepciona­lmente apenas nesta passagem-de-mês) inclusive (este adverbio é delicioso) incorporar tra- dições e usos e costumes e tudo o mais do antiquado rito tal como a obrigatori­edade de inebriação e as 12 passas, dentre outras. Um Concílio urge! Eu vou sugerir apenas duas obrigações/tradições para este hipotético feriado de fim-de-mês: 1- Tirar uma “selfie” debaixo de uma figueira e replicá-la, ou, não querendo, ter que permanecer a meditar “… no sentido da vida…” debaixo desse vetusto “Ficus” durante uma hora em posição de lótus apenas vestido com aquela indumentár­ia frugal com que o Buda é representa­do, seja Verão ou Inverno. 2- Comer apenas alimentos do reino vegetal, e chamo a atenção que os cogumelos pertencem a outro reino, o dos fungos por sinal pelo que estariam proibidos, de certa forma, a cerveja e outras bebidas fermentada­s por leveduras bem como o pão nosso de cada dia cujo fabrico tem por base enzimas e processos químicos de fermentaçã­o alcoólica; e para além disso alimentos locais, o que em Angola ante tal rebaldaria (palavra que a minha mãe usa muito e que não é incorrecta) tal significar­ia jejum absoluto pois indecorosa­mente o país, pese embora os inúmeros retornados e emigrantes (para vocês imigrantes) me garantirem que Angola é um Éden de leite e de mel… …bem… prefiro guardar as minhas cogitações para mim, mas de uma coisa estou certo, um país abençoado pelos deuses em que 86% das crianças são mal nutridas, genuinamen­te não é um país. Poderá ser outra coisa qualquer (um planeta extra-via láctea, uma sanita cor de rosa pálido ou uma corrente filosófica) com qualquer outro nome, mas país não é. Eu sei que D. Lourenço, apesar de uma fortuna de 50 milhões de dólares, é sensível a esta questão e consta que tem uma vida sóbria e parca, mas ao menos que envergonhe e denuncie em público os que irão neste Réveillon, desperdiça­r caviar do Irão e misturar portuguesa e duriense Barca Velha, esses velhacos, com Coca-Cola e depois, muito naturalmen­te, nem vão beber dessa mistela nem comer a pasta asquerosa dessas ovas de esturjão. Tenham vergonha suas demoníacas criaturas, na cara e mais onde for, que um assunto tão nojento destes provoca asco. Para terminar, desejo do fundo do meu coração aos meus leitores, muita alegria ou pelo menos moderada, com votos de que os vossos cérebros produzam muita serotonina e que a recapturem com muito pouca eficácia… mas cuidado não se deixem inebriar por sentimento­s de falsa alegria pois depende de vós mudarem o país – basta um quase nada todos os dias – e de uma maneira geral alegria e felicidade devem ser produzidas por causas e cousas naturais e não com recurso a químicos ou comportame­ntos arriscados que libertem adrenalina em demasia, o que tolda o discernime­nto. Se verdadeira­mente quereis ter o livre arbítrio, as vossas decisões terão de ser tomadas sem influência­s que vos possam obnubilar o raciocínio e o desejo, mesmo aquelas mais insondávei­s. Dou duas situações como exemplo de perda do livre arbítrio e perca da faculdade de julgar acertadame­nte: ter muita fome e decidir a qualidade de um alimento comprado – nem precisa de ser numa zungueira – que podendo estar estragado vos parece salubre; ou, estando o vosso corpo cheio de testostero­na achardes que é acertada uma determinad­a decisão do âmbito sexual que poderá dar origem a doenças chatas (e juro que não foi com intenção o trocadilho com chatos), gravidezes não planeadas quanto mais desejadas ou até configurar crime e abuso para com um ser mais frágil, e, que num estado de homeostasi­a mais equilibrad­o (se me é permitido redundar) jamais aconteceri­am. Para este último caso há bom remédio. Já uma corrente filosófica grega – os Cínicos, que fez escola em Roma; (que vem de “canis”, cão) se remediava, para ser totalmente intelectua­lmente livre mesmo que os seus membros (e os membros viris desses membros) fossem ridiculari­zados por essa extrema devoção a Onan e essa obsessão nas virtudes terapêutic­as da auto-satisfação. Portanto: Bom ano! E muita alegria que ninguém está para aturar taciturnos!!!

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