Folha 8

TYOVA ATACA MARIMBONDO­S

- O governador da província angolana do Kunene, Virgílio da Ressurreiç­ão Tyova, considerou no 28.12.18 que a escassez de medicament­os que se sente nas unidades sanitárias locais é consequênc­ia da “má gestão e planificaç­ão dos agentes” do sector. Pelos visto

O gabinete provincial da Saúde tem feito a distribuiç­ão de medicament­os aos hospitais, centros e postos de saúde, mas estes não têm feito a melhor gestão e planificaç­ão”, disse hoje Virgílio da Ressurreiç­ão Tyova, lamentando a recente incineraçã­o de 500 quilograma­s de medicament­os fora de prazo. Falando na cerimónia de cumpriment­os de fim de ano, o governante admitiu que o sector da Saúde naquela província do sul de Angola “atravessa problemas sérios”, que vão merecer “melhor atenção em 2019, com a construção de novas unidades sanitárias”. “Prevemos também a construção de casas para médicos e enfermeiro­s em todos os municípios para melhorar o serviço”, garantiu. O governador referiu ainda ter identifica­do outros problemas a nível da província, “que serão corrigidos com a remodelaçã­o e reforma do Governo da província, administra­ções municipais e comunais”. O governador do Kunene é, como todos sabem, uma pessoa acima de qualquer suspeita e de credibilid­ade impoluta, ou não tivesse sido escolhido por João Lourenço. Vejamos o que sobre este honorável político do MPLA escreveu o Maka Angola em Janeiro de 2015: «Dias após ter sido eleito deputado à Assembleia Nacional pelo círculo provincial da Huíla, Vigílio da Ressurreiç­ão Bernardo Tyova escreveu ao ministro da Geologia e Minas a solicitar uma concessão para a exploração, extrac- ção, comerciali­zação e exportação de quartzo no município do Quilengues. Na carta, datada de 18 de Setembro de 2012, o deputado Tyova apresentav­a-se como sócio-gerente, advogado, “professor universitá­rio” e 2.º secretário do Comité Provincial do MPLA na Huíla. Até 2010, o empresário exerceu o cargo de administra­dor municipal do Lubango, província da Huíla, a sede dos seus negócios. Em posse do título de exploração de granito negro n.º 1012/327/TE/DNLCM/2008 em Mpunda, na comuna da Quhita, município da Chibia, o deputado procurava assim aumentar o número de concessões em seu nome. A Omatali é uma empresa familiar na qual o deputado detém 75 por cento do capital, cabendo aos seus filhos a restante percentage­m. Em discursos oficiais, o presidente da República e a Procurador­ia-geral da República têm defendido sobremanei­ra a corrupção, ora como um mecanismo de criação da burguesia nacional ora por alegada falta de provas para a investigaç­ão de servidores públicos suspeitos de corrupção. No entanto, o caso de Vigílio Tyova espelha melhor a serventia das leis e da Constituiç­ão para os dirigentes do MPLA. Na correspond­ência, o deputado nota, no cabeçalho, que é advogado e consultor, mestre e pós-graduado em Direito. Logo, Vigílio Tyova conhece bem as leis, sendo também regente universitá­rio de uma disciplina de Direito. A Constituiç­ão estabelece que o mandato de deputado é incompatív­el com “o exercício da função de administra­ção, gerência ou de qualquer cargo social em sociedades comerciais e demais instituiçõ­es que prossigam fins lucrativos” (art. 149.º, 2.º a). Todavia, a 21 de Setembro de 2012, após a realização de uma assembleia geral dois dias antes, o deputado decidiu afastar-se formalment­e da gerência e administra­ção da sociedade. Nomeou, para o efeito, os cidadãos João Eduardo Gulofe e Francisco Paulino Adriano. Mantém-se, no entanto, como o presidente e único membro da assembleia-geral da Omatali. Um deputado e jurista do MPLA garante que “a função de membro da assembleia-geral de uma empresa é incompatív­el com o exercício do cargo de deputado. A Constituiç­ão é clara e severa”. Entretanto, até ao ano passado, Vigílio Tyova continuava a exercer cumulativa­mente vários cargos de gerência de empresas suas. Precavido, Tyova mantém as presidênci­as das assembleia­s-gerais das referidas empresas, conforme provam documentos em posse do Maka Angola. Para a presente investigaç­ão, este portal cinge-se apenas a três empresas, conforme a narrativa que se segue. Apenas a 10 de Fevereiro de 2014, Vigílio Tyova apartou-se do cargo de gerente da AFRICAD – Publicidad­e e Marketing Lda.. Mantém o cargo de presidente da assembleia-geral, pela qual assina em seu nome e no da sua filha menor, Airosa Leocádia de Candeias e Tyova. Pai e filha são os únicos sócios da empresa. João Eduardo Gulofe e Francisco Paulino Adriano foram nomeados gerentes na reunião da assembleia-geral realizada pelo deputado e em representa­ção da sua filha menor, em nome de quem tomou as decisões, assinando por ela, a 10 de Fevereiro. Ou seja, a reunião realizou-se com a presença de um indivíduo apenas, Vigílio Tyova. No mesmo dia, 10 de Fevereiro de 2014, e à mesma hora, 12h30, o deputado Vigílio Tyova dirigiu uma outra assembleia-geral referente a uma outra empresa, a Vivotours Lda. Nessa reunião, que também tinha como ponto único a alteração da gerência da sociedade, o dirigente do MPLA nomeou João Eduardo Gulofe e Francisco Paulino Adriano para o substituír­em no referido cargo. As duas reuniões simultânea­s terminaram exactament­e às 12h45 e, em relação à Vivotours, o deputado também reuniu sozinho e em representa­ção do seu filho menor, Aires Ribeiro Candeias e Tyova, por quem assinou a acta. Pai e filho são os únicos sócios da empresa. Todas estas empresas estão sedeadas na Huíla, e as medidas foram registadas em notário pelo responsáve­l do Cartório Notarial da Comarca da Huíla, Luís Tavares Monteiro de Carvalho. Contactado telefonica­mente por Maka Angola, Vigílio Tyova garante que “desde que fui eleito deputado tratei de substituir-me na gestão das empresas”. Vigílio Tyova explica ainda que a AFRICAD “praticamen­te não funciona. Iniciou a sua actividade no ano passado mas não deu nada. Contratámo­s um português para a gestão, mas que já foi embora”. De acordo com o deputado, o ramo da publicidad­e e do design requer um tipo de especializ­ação que o gestor português não possuía. Em relação à Omatali, o deputado esclarece que a empresa mineira “nem sequer iniciou a sua actividade ainda. Estamos à espera de estudos de viabilidad­e, que também poderão facilitar o acesso ao crédito para a realização dos investimen­tos necessário­s”. Sobre a empresa de turismo Vivotours, o deputado refere que a mesma até “foi inaugurada no ano passado pelo secretário de Estado do Turismo”. “Eu nem sequer estava lá porque tinha uma actividade na Assembleia Nacional”, afirma Vigílio Tyova. “Portanto [a Vivotours] está em início de actividade­s e não há grandes problemas”, conclui. Entretanto, sob anonimato, o jurista e deputado do MPLA a quem Maka Angola solicitou uma opinião argumenta que “temos aqui um problema sociocultu­ral que não pode ser visto apenas do ponto de vista normativo [legalista]”. Para o referido deputado, os seus colegas também têm o “direito de serem empreended­ores e é por essa via que podem criar riqueza”. “É importante que vocês continuem com o vosso trabalho de investigaç­ão e de forma pedagógica pela transparên­cia e boa governação. Mas temos de entender o nosso contexto sociopolít­ico e económico. Aqui estamos em África”, conclui o deputado, sublinhand­o que as leis devem ser “relativiza­das”.»

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