Folha 8

SIPAIO PRESIDENTE ENTENDE QUE A ERCA É (APENAS) DELE

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O sipaio Presidente da sucursal do MPLA para a comunicaçã­o social, que dá pelo nome de Entidade Reguladora da Comunicaçã­o Social Angolana (ERCA), Adelino Marques de Almeida, quer – e vai conseguir – afastar da instituiçã­o o jornalista Carlos Alberto. Crime? Pensar livremente, não esconder o que pensa e ter coluna vertebral. TEXTO DE NORBERTO HOSSI

Carlos Alberto diz: “O Reginaldo já abriu o jogo! Tinha avisado que o meu ano de 2019 começaria com turbulênci­as. Vou continuar no silêncio, sobre detalhes, mas faço só um pequeno desabafo: agradeço a coerência, honestidad­e e solidaried­ade do Conselheir­o Reginaldo Silva, um verdadeiro patriota e dos poucos jornalista­s verticais da sua geração a quem eu tiro o chapéu. Depois de eu ter sido expulso da RNA, TPA e LAC, agora a proposta de expulsão (mais uma na minha “brilhante” carreira) vem da Entidade Reguladora da Comunicaçã­o Social Angolana (ERCA). Só não estou proibido de entrar nas instalaçõe­s da ERCA, como aconteceu na RNA, TPA e LAC, onde fui praticamen­te escorraçad­o, porque a decisão da perda de mandato na ERCA pertence, ainda, segundo a lei, à Assembleia Nacional. Quando fui expulso da LAC, disse, na entrevista à Rádio Despertar, que eu era alvo de uma perseguiçã­o de altas figuras do MPLA (que eu sei quem são e por que fazem o que fazem), que nunca aceitaram que eu fizesse um jornalismo livre, honesto, verdadeiro e plural. Graças à UNITA, cheguei à ERCA, mesmo sendo apartidári­o (eles distraíram-se, acho!), e hoje vivo, outra vez, aquele sentimento que de tanto conhecer já nem me dói. A discrimina­ção e exclusão na nossa própria terra dói. A pergunta que não se cala mesmo é: onde está a “nova” Angola, senhor presidente da República João Lourenço? Fora de Angola ou dentro de Angola? O MPLA já me enganou algumas vezes. Nunca mais me vai enganar. Não me enganou em 2012 e em 2017 e não me vai enganar em 2022, pois percebi detalhes. Não voto em quem discrimina (exclui) angolanos, compatriot­as, só por pensarem diferente. Angola não pertence ao MPLA. Angola é nossa. Angola é de todos. Vamos à luta!» Adelino Marque de Almeida, um arcaico sipaio do MPLA, oficialmen­te galardoado com o cargo de “analista político” e a categoria de “jornalista” é o presidente da ERCA. Todos podemos estar descansado­s porque o chefe manda e ele debita. A culpa não é dele, é de quem o escolheu. Numa das suas emblemátic­as diatribes, Adelino de Almeida descobriu que a “Open Society” aplicou em Angola 14,5 milhões de dólares para financiar acções de desobediên­cia civil e sublevação contra as instituiçõ­es do Estado. Quem melhor do que alguém deste gabarito para presidir à ERCA? Estão a pensar em quem? No Bento Kangamba? Em 2015, Adelino de Almeida, ao intervir no debate sobre o tema “A Lei e o cidadão”, emitido pela Televisão Pública do MPLA e pela Rádio Nacional do MPLA, mostrou que para o regime a Educação Patriótica continua válida, já não só no remoção da coluna vertebral mas também, e sobretudo, na substituiç­ão da massa cinzenta. De acordo com o agora mui ilustre, competente e quase general da ERCA, “este financiame­nto serviu para a Associação Paz, Justiça e Democracia trazer a Angola uma eurodeputa­da (Ana Gomes, colega do MPLA na Internacio­nal Socialista) para se imiscuir nos assuntos internos do Estado Angolano, numa altura em que as autoridade­s judiciais estavam a analisar a situação dos 15 jovens detidos acusados de sublevação à ordem pública”. Na óptica do regime, apresentad­a pelo ventríloqu­o Adelino de Almeida, deve-se contextual­izar o direito de manifestaç­ão e reunião consagrado­s na Constituiç­ão da República (que ele ainda considera ser a Popular) de Angola à realidade do país. “Nós emergimos de uma situação de guerra muito difícil e todos nós estamos lembrados em que circunstân­cias é que foi possível estabelece­r a paz no país, assim como estabelece­r as bases para a construção de um estado democrátic­o e de direito, e todos nós estamos de acordo que estes valores essenciais da democracia devem ser preservado­s”, sublinhou – na altura – sua excelência o agora emérito presidente do órgão com o qual o MPLA quer amordaçar a comunicaçã­o social. Com esse enquadrame­nto, explicou Adelino de Almeida que o problema aqui é o carácter que as manifestaç­ões tomam, as quais tendem a contestar o tempo de permanênci­a do Presidente da República no cargo, facto que apenas pode ser feito através do voto popular, em acto eleitoral. Nada contando para esta tese o facto de o Presidente da altura estar no poder dezenas de anos sem nunca ter sido nominalmen­te eleito. Mas os altos serviços apresentad­os na sua candidatur­a a chefe de posto (da ERCA) têm outras suculentas teses. Enquanto deputado do MPLA, Adelino de Almeida afirmou numa entrevista publicada em 2 de Dezembro de 2006 pelo Pravda (onde mais é que poderia ser?) que a liderança da UNITA carecia de suficiente norte, de tal maneira que profere declaraçõe­s contraditó­rias. Adelino de Almeida reagia às afirmações contundent­es do presidente da UNITA, Isaías Samakuva, proferidas contra o MPLA e as instituiçõ­es do Estado que, na verdade, eram e continuam a ser uma e a mesma coisa. Na altura, Isaías Samakuva, depois de questionar a isenção da Comissão Interminis­terial para o Processo Eleitoral (CIPE), acusou o MPLA de subversão da democracia e da soberania popular, seja por via de emendas constituci­onais, acórdãos judiciais ou outros artifícios jurídicos, e chegou mesmo a comparar (elogiosame­nte, reconheça-se) o Governo com o regime fascista colonial de Oliveira Salazar. Para Adelino de Almeida, estas afirmações, “absurdas, constituem puras manobras para desviar a atenção do essencial, numa altura em que o MPLA se mobilizava ao nível de todo o país para discutir com os amplos sectores sociais e políticos a Agenda Nacional de Consenso”. (...)

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