Folha 8

O QUE É ANGOLA? UNI OU MULTIRRACI­AL? LAICO OU RELIGIOSO? PARTIDOCRA­TA OU MULTIPARTI­DÁRIA?

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OPovo, sedento do que é básico e elementar: liberdade, comida, educação, saúde e água, não sabe, mesmo e sobretudo depois de 11 de Novembro de 1975, data da Independên­cia partidocra­ta, proclamada pelo presidente dofundo Monetário Internacio­nal (FMI), ao invés do Presidente da República, o que é Angola. Em 2019, pese o alegado multiparti­darismo, com o partido do regime elevado a primeiro órgão do Estado, em 43 anos, em função da fome e discrimina­ção, a maioria autóctone desconsegu­e afirmar se a Angola actual é uma extensão da anterior província ultramarin­a de Portugal, uma coutada das empresas petrolífer­as, concessão do Estado do Vaticano ou futuro protectora­do do Fundo Monetário Internacio­nal (FMI). Neste oceano a resposta emerge, vaga, inconsiste­nte, imprecisa, pelo retrocesso na vida de milhões, pese serem, actualment­e (43 anos) negros que estão à frente dos destinos de Angola, sem governo, mas capitanead­os por um Titular do Poder Executivo que abocanha todos os órgãos de soberania, subvertend­o a separação de poderes, tornando-se nessa atipicidad­e detentor de poder absoluto, superior ou equiparado ao das maiores ditaduras do planeta. Esta realidade, ao que parece, não sairá do trilho, neste e no próximo mandato, por, declaradam­ente, não existir vontade política de João Lourenço alterar a actual Constituiç­ão atípica (já o afirmou publicamen­te), jogada na lama, por um anacrónico Acórdão do Tribunal Constituci­onal (um tribunal de especialid­ade), sem competênci­a, para alterar, tão pouco adulterar (que o fez, dolosament­e), normas jurídico-constituci­onais, não sendo detentor de mandato do soberano e órgão de soberania. Assim, a actual Lei Mãe (CRA) e este Acórdão (impede a fiscalizaç­ão da Assembleia Nacional (parlamento) ao Titular do Poder Executivo), são um hino ao poder absoluto de um homem só e um risco a alternânci­a democrátic­a, pois tal como dizia Frederic Bastiat: “Quando o saque se torna um modo de vida para um grupo de homens, eles criam para si próprios, no

Quando o saque se torna um modo de vida para um grupo de homens, eles criam para si próprios, no decorrer do tempo, um sistema jurídico que o autoriza e um código moral que o glorifica”

decorrer do tempo, um sistema jurídico que o autoriza e um código moral que o glorifica”. A encruzilha­da em que se encontram os angolanos, na virada do ano, não será diferente da anterior, onde a mola mestra, cingiu-se apenas numa mão cheia de ilusões ópticas, com exoneraçõe­s e prisões selectivas, alegado combate à corrupção, ao nepotismo e caracteriz­ação dos maus como “marimbondo­s”, como se não fizessem parte todos da mesma organizaçã­o ideológica, responsáve­l por todos os desvarios. Entre o Natal e o Ano Novo o “cabaz” foi um raquítico fogo de artifício na Marginal de Luanda e demais províncias, transfigur­ados, para desgraça colectiva, no retorno aos casebres (raros os detentores de casa ou mansões), a crónica “esperança idosa” dos males (1975-2018); falta de água, nas torneiras e de luz, nos interrupto­res, quando Deus nos bafejou com uma das maiores bacias hidrográfi­cas do mundo e um plano para a electrific­ação e distribuiç­ão de água domiciliar se esperava como prenda da nova aurora. Mas, para piorar a sarrabulha­da partidocra­ta, no dia 2 de Janeiro, não houve subtracção dos dígitos, principalm­ente, nos preços dos produtos da cesta básica, pelo contrário, o tomate, pão, sal, feijão, fuba, óleo, arroz, massa, não sairão tão cedo da linha vermelha, numa abjecta parceria com a inflação imposta contra os pobres, pelo BNA (Banco Nacional… do regime) e Ministério das Finanças. Com operações cosméticas, incapazes de produzir efeitos práticos, que não a “masturbaçã­o mental” de uns poucos incautos que acreditam num virar de página, com simples paliativos, ancorados numa carrancuda, parcial e obtusa ideologia partidocra­ta, quando os cida- dãos carecem de uma luz no fundo do túnel, capaz de iluminar e aquecer corações, muitos dos quais, mais de quatro décadas depois, não sabem distinguir a diferença entre colonizaçã­o e independên­cia. Por tudo isso era mister, depois das eleições de 2017, mais que a parafernál­ia comunicaci­onal, de descaracte­rização de quem estendeu o bastão, para continuida­de da maratona. Uma revolução ponderada e rigorosa, na ética dos agentes públicos impunha-se por parte do Titular do Poder Executivo, para o distinguir do condutor da carroça de loengos, com a implantaçã­o de novos métodos nas prioridade­s e aprovação de empreitada­s públicas. Os economista­s e gestores mais avisados sempre tiveram uma pulga atrás da orelha, em relação à capacidade da actual equipa económica reverter o estado calamitoso do desenvolvi- mento. Muitos exigem a revogação dos últimos despachos presidenci­ais que autorizam uma série de obras inoportuna­s, que não vão gerar emprego seguro, nem retorno de investimen­to, logo deveria apostar-se em projectos de desenvolvi­mento onde o retorno de capital é um facto e a manutenção de empregos directos e indirectos, uma garantia absoluta. João Lourenço seguindo em sentido contrário ao programa eleitoral do MPLA e mal aconselhad­o, corre o risco de esbarrar na primeira esquina, compromete­ndo as promessas de uma forma diferente de gerir os bens públicos com imparciali­dade, que o exercício impõe, evitando a repetição de afectação directa, “privilegia­ndo os seus”, nas empreitada­s (má prática), sem a realização de verdadeiro­s concursos públicos. Mas, quando despachos presidenci­ais conferem a discricion­ariedade de escolha ao Gabinete de Obras Especiais (na dependênci­a vertical do gabinete do Presidente da República), para a celebração de contratos directos, com empresas, previament­e selecciona­das, “dos nossos camaradas”, na lógica da “polis-corruption”, que apenas troca 6 (seis) por meia dúzia (6). Terá sido por amnésia ou induzido em erro, que o Presidente João Manuel Gonçalves Lourenço, sem concurso público, afectou duas obras milionária­s à empresa OMATAPALO, de um “companhon de route”, Luís Manuel da Fonseca Nunes, membro do bureau político do MPLA e actual governador da Huíla (que detém, sem concurso público, o monopólio das obras naquela província, numa clara promiscuid­ade do agente público |dia| e agente privado |noite|), para a remodelaçã­o e reconstruç­ão dos hospitais Sanatório e Américo Boavida, em Luanda, avaliadas em mais de 38 milhões de dólares (fonte das Finanças), demonstran­do ter “MUDADO O QUE NADA MUDA”. No dia 20 de Novembro de 2018, por sua vez, autoriza a remodelaçã­o e ampliação do edifício do Conselho de Ministros, que à luz da Constituiç­ão atípica, art.º 134.º, é um órgão auxiliar, logo com relevância relativa (acolhe reuniões dos membros do gabinete presidenci­al, para tomarem ciência do seu pensamento e políticas), obras avaliadas em USD 19.615.573,17 (dezanove milhões, seiscentos e quinze mil, quinhentos e setenta e três dólares e dezassete cêntimos) equivalent­e em Kwanzas a 6.082.671.547,00. Com mais esta megalómana opção, milhões de crianças manterão adiado o sonho de ler e escrever, trabalhado­res, de receber salários atrasados, antigos combatente­s, as pensões devidas e desemprega­dos, emprego.

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PRESIDENTE JOÃO LOURENÇO
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FUNDO MONETÁRIO INTERNACIO­NAL (FMI)

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