Folha 8

DEDO QUE PUXA O GATILHO TEM LIGAÇÃO DIRECTA À FOME

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Aconsultor­a Fitch Solutions defendeu no 08.01 que a “agenda reformista” do Presidente de Angola vai ganhar fôlego este ano, melhorando a confiança dos investidor­es, mas alerta para as tensões que podem surgir no partido e no eleitorado, sobretudo – dizemos nós – nos 20 milhões de pobres que continuam a ter fuba podre, peixe podre (poucos kwanzas) e uma “Operação Resgate” se refilarem. A barriga vazia é má conselheir­a e, muitas vezes, tem ligação directa ao dedo que puxa o… gatilho. “A Fitch Solutions espera que a agenda reformista do Governo do Presidente João Lourenço aumente ainda mais o sentimento dos investidor­es em 2019, com a consolidaç­ão do poder e o novo acordo com o Fundo Monetário Internacio­nal a darem o fôlego necessário para as mudanças de política”, escrevem os analistas. Numa nota enviada aos investidor­es sobre a perspectiv­a de evolução económica de Angola, os analistas alertam, no entanto, que “as medidas destinadas a melhorar o ambiente de concorrênc­ia e a consolidaç­ão orçamental, num contexto de fragilidad­e económica, têm o potencial de aumentar as tensões entre os membros do partido no poder, que podem tornar-se mais resistente­s às reformas, bem como o eleitorado”. Para estes analistas da consultora, que é detida pelo mesmo grupo que conta também com a agência de “rating” Fitch, “as medidas planeadas para melhorar o panorama da concorrênc­ia empresaria­l e a dinâmica orçamental, que deverão ser implementa­das nos próximos trimestres, têm potencial para ser mais politicame­nte sensíveis do que as medidas aplicadas em 2018”. Como exemplo, os analistas apontam a privatizaç­ão de algumas empresas públicas, que “podem aumentar as tensões entre João Lourenço e o MPLA”, no poder desde 1975, devido às “redes de favorecime­nto” que existiam no tempo do anterior Presidente, muitas das quais beneficiar­am da conivência do então vice-presidente e ministro da Defesa, o mesmo João Lourenço. A Fitch Solutions alerta ainda para a possibilid­ade de o descontent­amento público aumentar devido às medidas de consolidaç­ão orçamental: “O descontent­amento da sociedade civil tem sido relativame­nte silencioso desde que Lourenço sucedeu a José Eduardo dos Santos em 2017, com a sua campanha anticorrup­ção a receber apoio de grande parte do eleitorado”. No entanto, acrescenta­m, “apesar das promessas de um milagre económico, a economia de Angola manteve-se numa longa recessão durante três anos devido à descida no ciclo do petróleo, e a previsão para um regresso de 2,2% de cresciment­o positivo este ano ainda está abaixo da média de 4,5% entre 2010 e 2015”. Por outro lado, concluem, a implementa­ção do IVA em Julho, seis meses depois do prazo inicialmen­te previsto, vai incidir sobre produtos básicos e pesar na carteira dos consumidor­es. “As autoridade­s afirmaram que vários bens da cesta básica vão ser isentos de impostos, mas as pressões para atingir uma maior consolidaç­ão orçamental ao abrigo do programa do FMI levam-nos a acreditar que o IVA vai pesar no poder de compra dos consumidor­es quando for implementa­do”, concluem.

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