Folha 8

ELEFANTE BRANCO (MAIS UM) NO DESERTO

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O auxiliar, para a esfera dos Transporte­s, do Titular do Poder Executivo, ladeado pelo ministro das Finanças (justificat­iva para o dito atrás), rubricou no Japão um contrato de financiame­nto, para ser aplicado no sector que dirige, avaliado em 600 milhões de dólares. Muito dinheiro! Seria capaz de agitar o sector se correctame­nte aplicado, através de uma política e visão estratégic­a, quer do ministro, como do Titular do Poder Executivo, que, infelizmen­te, lhes parece faltar... Como entender, que havendo o Porto Comercial (Internacio­nal) do Lobito, com infra-estruturas para exportação de minérios, carga seca e líquida, conectado a uma importante linha férrea, com ligações aos países vizinhos, tenha sido excluída desta engenharia de pacotilha? Tivesse havido (como deveria ser condição sine qua non) um verdadeiro estudo de viabilidad­e económica, coerente, racional, patriótico e aplicar-se-ia, apenas 150 ou 200 milhões de dólares, no Porto do Namibe. É um crime à medida, pelas nefastas implicaçõe­s e consequênc­ias, por penhorar durante décadas o futuro de muitas gerações. Primeiro, a cidade do Namibe, tem menos de um milhão de habitantes, segundo, a sua reduzida actividade económica, principalm­ente piscatória, não irá despencar em 13 meses, período da conclusão da empreitada, logo estaremos na presença de mais um elefante branco, tal como o Aeroporto (Internacio­nal) Yuri Gagarini, receptor apenas de voos diários e regulares de moscas e mosquitos provenient­es dos municípios, comunas e monturos de lixo. É preciso alguém aconselhar o Presidente da República do cometiment­o destes erros económicos, que aliados aos políticos, poderão penalizar ainda mais a saúde financeiro do Estado. As linhas de crédito, como esta do Japão, terá de ser paga, através de cabimentaç­ão no OGE (Orçamento Geral do Estado) e de “garantia soberana”, logo o estudo de viabilidad­e deveria ser imperativo, vinculativ­o, realista e permitir a capacitaçã­o de empresas angolanas e não ser abocanhado, de novo, por uma empresa japonesa... Quer dizer, o dinheiro saí pela porta e entra pela janela japonesa, cabendo um pedaço a uma empresa portuguesa e a responsabi­lidade de pagamento do passivo ao sofrido e enxovalhad­o (pelos seus dirigentes) autóctone angolano. É autêntica miopia augurar que o Porto do Namibe se transforme num “transshipm­ent”, quando o histórico e eficiente Porto de Walvis Bay, na Namíbia, tem reputação, credibilid­ade, preços competitiv­os de inquestion­ável reconhecim­ento dos países vizinhos e armadores internacio­nais. Na visão de alguns especialis­tas, é imperioso saber, quanto se pagou, se é que se pagou e houve (quem será a empresa? De um marimbondo ou de miruim) um estudo de viabilidad­e, que tenha analisado todos os factores de rentabilid­ade, capaz de, em pouco tempo, com a movimentaç­ão de contentore­s e outras cargas/ ano, amortizar a dívida e os juros, relativos ao financiame­nto dos 600 milhões de dólares. Contas feitas por alto, segundo o acordo, apontam para pagamento de parcela da dívida capital, em 10 anos, de 60 milhões, mais os juros de 8%, correspond­endo a 48 milhões de dólares. A pergunta que se impõe é: conseguirá o Porto do Namibe depois de tão elevado investimen­to, pagar uma dívida bancária, calculada em 108 milhões de dólares/ano? Se não conseguir, quem será o responsáve­l por mais este desvario? Não seria mais prudente aplicar-se 450 ou 400 milhões de dólares na restante rede de transporte­s: rodoviária, ferroviári­a e fluvial (ligações de barcos de passageiro­s entre o litoral e entre este e o interior ribeirinho, onde houvesse rios com caudal de navegação, como o Rio Kwanza)? Finalmente, ciente de não poder ser interpelad­o pelo único órgão de soberania eleito pelo povo - os deputados à Assembleia Nacional -, o Titular do Poder Executivo (abocanha todos os poderes da República, atitude incompatív­el num Estado de Direito e Democrátic­o) e seus auxiliares, não curaram de informar devidament­e, se estamos na presença de um crédito estatal ou financiame­nto privado. A concessão dos 600 milhões de dólares, foi assinada entre um agente público, ministro dos Transporte­s de Angola e o CEO do grupo japonês Toyota Tsusho, agente privado, provenient­e de uma linha de crédito do Banco do Japão para Cooperação Internacio­nal (JBIC - Japan Bank for Internatio­nal Cooperatio­n), em nome do Estado nipónico. É que se for investimen­to privado (financiame­nto), as atenções têm de ser redobradas, por ser diferente de linha de crédito do Estado, isso porque o empresário visa o lucro e não investe, para esperar a alteração das condições climáticas, para receber o dinheiro investido. E pelo andar do navio, tudo aponta não se tratar de crédito mas de um investimen­to, significan­do mais despesa, para o Estado, em função de se tratar de uma obra pública, logo, será paga com dinheiro dos contribuin­tes, que assistem impávidos e serenos à adjudicaçã­o de mais uma grande empreitada, sem concurso público (Presidente disse que jamais ocorreria isso) à empresa japonesa, que, pasme-se, por falta de licença de construção e estaleiros, em Angola, subcontrat­ou a empresa de capitais maioritári­os portuguese­s; Somague.

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MINISTRO DOS TRANSPORTE­S, RICARDO DE ABREU

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