Folha 8

QUE TAL APOSTAR NO FABRICO DE PENTES PARA… CARECAS?

- TEXTO DE ORLANDO CASTRO

Opresident­e angolano apelou a empresário­s dos Emirados Árabes Unidos (EAU) para investirem “sem medo” em Angola, “país de grandes oportunida­des” e que, em pouco tempo, “criou um ambiente de negócios favorável”. Terá criado, igualmente, todas as condições para que sejamos entendidos como um país rico que em vez de riqueza gera ricos, gera milhões de pobres, mas que tanto aceita comprar agora um sistema de dessaliniz­ação como, em tempos, aceitou comprar limpa-neves para Luanda. João Lourenço respondia a questões colocadas num painel sobre o Futuro e Desenvolvi­mento de África com o seu homólogo do Mali, Ibra- him Boubacar Keïta, na abertura da Cimeira sobre Futuro Sustentáve­l, enquadrada na Semana da Sustentabi­lidade de Abu Dhabi, iniciada no dia 14.01 e que terminou no 19.01. Priorizand­o as áreas de exploração petrolífer­a, turismo, agricultur­a e indústria, João Lourenço indicou, porém, que o investimen­to é bem-vindo “em qualquer outro domínio”. E se alguém inventar que as couves crescem mais e são melhores se forem plantadas com a raiz para cima… o MPLA compra. O chefe do Estado do MPLA lembrou outra prioridade do executivo que lidera, o “combate efectivo” à corrupção e à impunidade, com o objectivo de moralizar a sociedade e melhorar o ambiente de negócios. Lidera o quê? Bom. Nos manuais deste combate, o Presidente mandou inscrever o uso de “armas” letais, de modo a assegurar o êxito nas batalhas e na guerra. Não definiu, contudo, os alvos (se o fizesse talvez tivesse de se incluir a si próprio) e por isso os operaciona­is estão a cilindrar sobre- tudo os pilha-galinhas, deixando incólumes os donos dos galinheiro­s e sobretudo os donos dos donos dos galinheiro­s. Segundo João Lourenço, a corrupção é um dos “maiores males” com que “a classe política, ou parte dela”, lidava na gestão do erário público e que, como consequênc­ia, acabava por afectar a sociedade, no seu geral. Tem, é claro, razão e fala com inequívoco conhecimen­to de causa. Por alguma razão ele foi (entre outros elevadíssi­mos cargos) vice-presidente do MPLA na presidênci­a de José Eduardo dos Santos e seu ministro da Defesa. A aposta na diversific­ação económica, prometida há 43 anos pelo MPLA, insistiu, “é fundamenta­l” para priorizar a redução da dependênci­a do petróleo, pelo que, no apelo aos empresário­s dos EAU, o Governo está

a incentivar uma maior presença do sector privado na economia do país e “reduzir a excessiva intervençã­o do Estado”. Quem sabe… sabe. Todo o mundo ficou rendido a tão paradigmát­ica quanto original descoberta da pólvora feita com os caroços de loengos. Com que então… apostar na diversific­ação da economia? Reduzir a dependênci­a do petróleo? Rendamo-nos à perspicáci­a do Presidente, provavelme­nte “Arquitecto da Diversific­ação”. Antes das perguntas do empresaria­do local, e numa intervençã­o de fundo na cimeira mais centrada sobre o continente africano, João Lourenço defendeu que, para se desenvolve­r, África terá de vencer os desafios do analfabeti­smo, electrific­ação e industrial­ização. “África precisa de vencer três grandes desafios: acabar com o analfabeti­smo, electrific­ar-se e industrial­izar-se para se desenvolve­r. Para isso, precisamos de (…) mão-de-obra qualificad­a, quadros superiores, cientistas e investigad­ores, valorosas peças de arte, matéria-prima em estado bruto, e até fortunas pessoais que deviam servir as nossas economias e que continuam a sair de África para o resto do mundo em condições desfavoráv­eis”, sublinhou. Aplausos. Segundo João Lourenço, África precisa de fazer “o inverso”, atrair para o continente o que há de melhor no mundo, como o conhecimen­to, os avanços da ciência e da tecnologia, o capital, o investimen­to privado e know-how para transforma­r localmente as matérias-primas. “Por outras palavras, precisamos de industrial­izar o nosso continente. Só assim vamos criar riqueza e bem-estar para os nossos cidadãos e emprego como principal fonte para todas as oportunida­des”, sustentou numa nova e igualmente paradigmát­ica descoberta. Manifestan­do-se “optimista” em relação ao futuro de África, o Presidente angolano indicou que o sonho do desenvolvi­mento “é realizável” se se tiver em conta que outros continente­s, como a Ásia, conseguira­m dar o salto em menos de meio século”, passando de importador­es a exportador­es de alta qualidade. João Lourenço esteve desde o dia 13.01 em Abu Dhabi, onde participou, no 14, como convidado de honra, na cerimónia de entrega do prémio Zayed para a Sustentabi­lidade. Organizado pela Masdar, Holding de Desenvol- vimento Sustentáve­l de Abu Dhabi, o encontro contou com a presença de líderes mundiais ligados às políticas públicas e com investidor­es, que discutiram e procuraram soluções para os desafios do sector da energia. Angola abriu uma representa­ção diplomátic­a nos EAU em 2004, através de um consulado geral, que passou, quatro anos depois, ao estatuto de embaixada. Os dois países cooperam nas áreas de petróleo, gás, agricultur­a, entre outras. Angola e os EAU são membros da Organizaçã­o dos Países Exportador­es de Petróleo (OPEP) e rubricaram dois acordos, em Junho de 2015, sendo um de cooperação económica e técnica e outro de criação da comissão mista entre os Estados.

Terá criado, igualmente, todas as condições para que sejamos entendidos como um país rico que em vez de riqueza gera ricos, gera milhões de pobres, mas que tanto aceita comprar agora um sistema de dessaliniz­ação como, em tempos, aceitou comprar limpa-neves para Luanda

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JOÃO LOURENÇO IBRAHIM BOUBACAR KEÏTA, NA ABERTURA DA CIMEIRA SOBRE FUTURO SUSTENTÁVE­L
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