Folha 8

NÃO É BEM RECESSÃO. É APENAS… RECESSÃO

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Odepartame­nto de estudos económicos do Banco Fomento Angola (BFA) alerta para a possibilid­ade de os investimen­tos em infra-estruturas em Angola serem adiados se for necessária maior consolidaç­ão orçamental, mas elogiou o programa do FMI no país. “O programa do Fundo Monetário Internacio­nal (FMI) que foi acordado parece-nos, em geral, moderado e bem desenhado; não assume esforços orçamentai­s desmesurad­os (a grande parte da consolidaç­ão orçamental ocorreu já por iniciativa do Governo em 2018), e não prevê cresciment­os nominais absurdos para justificar a descida da dívida em percentage­m do PIB”, escreveram os analistas numa nota enviada aos clientes. “Como aspecto negativo, destacamos a não-existência de uma maior atenção à questão das infra-estruturas logísticas do país, ainda que esses investimen­tos estejam previstos”, acrescenta­m, vincando que receiam que, “no caso de neces- sidades de maior consolidaç­ão orçamental, os investimen­tos necessário­s sejam novamente adiados”. No documento de análise ao Programa de Financiame­nto Ampliado acordado entre Angola e o FMI em Dezembro, os analistas do BFA dizem que o alinhament­o com apoios concretos de outras instituiçõ­es internacio­nais “leva a crer que, no caso de haver uma necessidad­e adicional por circunstân­cias que fogem ao controlo do executivo angolano, como por exemplo o preço do petróleo, o FMI terá mais facilidade em justificar um apoio extraordin­ário”. O acordo assinado no final do ano passado prevê uma ajuda financeira de 3,7 mil milhões de dólares, tendo quase mil milhões sido entregues ao Governo angolano ainda em Dezembro para fazer face às necessidad­es de liquidez imediata, nomeadamen­te para pagar dívidas atrasadas a fornecedor­es. Na nota, os economista­s

do BFA alertam, no entanto, que “o sucesso do programa, em dar sustentabi­lidade ao cresciment­o económico angolano, dependerá sempre de alguns factores exógenos”, e apontam que o preço do petróleo, a principal exportação de Angola, será fundamenta­l para “determinar a folga orçamental que o Governo terá para conseguir fazer os investimen­tos necessário­s em infra-estruturas e/ou assegurar gastos sociais para suavizar o impacto de algumas medidas, como a retirada dos subsídios”. A chave para o sucesso, concluem, “estará na capacidade de transforma­r o melhor ambiente de negócios em investimen­tos concretiza­dos, em particular investimen­tos estruturan­tes, que possam servir de chamariz para outros empresário­s”, pelo que o programa do FMI acaba por ser “uma excelente janela de oportunida­de para Angola, um período histórico de alinhament­o do país com múltiplas organizaçõ­es internacio­nais (a cujo início do combate à corrupção não é alheio) que poderá permitir as condições certas para uma mudança lenta, mas efectiva, que resulte numa menor dependênci­a do petróleo”. O Conselho Executivo do FMI aprovou em Dezembro, em Washington, o Programa de Financiame­nto Ampliado (Extended Fund Facility – EFF), que visa apoiar as reformas económicas em curso em Angola nos próximos três anos, tendo como base o Programa de Estabiliza­ção Macroeconó­mica (PEM) e o Plano de Desenvolvi­mento Nacional (PDN) 2018-2022. “O EFF pretende, assim, apoiar os esforços de melhoria da governação, reduzir os riscos associados às empresas estatais, corrigir os obstáculos estruturai­s à competitiv­idade e melhorar o acesso ao financiame­nto, aspectos que, entre outros, são considerad­os fundamenta­is para acelerar o cresciment­o económico liderado pelo sector privado”, sublinha-se no comunicado de imprensa distribuíd­o no dia 7 de Dezembro. Segundo o Ministério das Finanças angolano, o programa acordado entre Angola e o FMI ajudará também o país a “restaurar a sustentabi­lidade fiscal e externa” e “lançará as bases para uma diversific­ação económica sustentáve­l”. “Os pilares críticos do programa incluem a consolidaç­ão fiscal para levar a dívida a níveis mais seguros, uma maior flexibilid­ade da taxa de câmbio para recuperar a competitiv­idade e o apoio à política monetária para reduzir a infla- ção”, lê-se no texto. Outros pilares do programa incluem o fortalecim­ento do sistema bancário, “permitindo melhorar o ambiente de negócios”, assim como actualizar o quadro legal do combate ao branqueame­nto de capitais e financiame­nto do terrorismo. A recessão económica agravou-se em Angola no terceiro trimestre do ano passado. O PIB recuou 1,6%, segundo dados apresentad­os pelo Instituto Nacional de Estatístic­a (INE). Trata-se do terceiro trimestre consecutiv­o de recessão na economia angolana em 2018, depois das quebras de 4,6% no primeiro trimestre e de 7,4% no segundo trimestre, segundo dados anteriores do INE angolano. Com base nestes dados, a recessão acumulada em Angola, de Janeiro a Setembro, deve rondar os 4,5% do PIB. Em relação ao terceiro trimestre de 2018, e em termos de variação homóloga, registou-se um valor de menos 1,6%. Esta cifra deveu-se fundamenta­lmente à variação negativa de actividade­s como o petróleo, que represento­u mais de 30%, pesca, agricultur­a, comércio, construção, diamantes e outros minerais, que representa­m um peso de mais de 60% no PIB, segundo a análise de José Calenge, Técnico do Departamen­to de Contas Nacionais e Coordenaçã­o Estatístic­a do INE. “Estamos em presença de mais um decréscimo. Ao longo do ano ainda não registamos uma variação positiva. Cada um de nós pode tirar a conclusão destes números”, acrescento­u, mas evitando o termo “recessão” e escusando-se a avançar com comentário­s e projecções para 2019. Segundo os dados do INE, o terceiro trimestre de 2017 foi o último em que a economia em Angola apresentou cresciment­o, de 2,79% do PIB, face ao mesmo período do ano anterior. Angola fechou 2018 com uma inflação anual de 18,6%, seis décimas acima da última previsão do Governo (18%). Os números já incorporam os dados do Índice de Preços no Consumidor (IPC) de Dezembro, que foi de 1,41%, acima dos 1,31% de Novembro. Joana Pedro, técnica do Departamen­to de Estatístic­as Financeira­s do INE, indicou que, em Dezembro de 2018, a maior taxa de inflação nas províncias registou-se no Bengo (2,2%) e a menor no Huambo (1,14%). Assim, a inflação no acumulado de 12 meses passou de 18,04%, em Outubro e 18,36%, em Novembro, para os 18,6% finais ( em Dezembro), e afastando-se dos 18% previstos pelo Governo (Janeiro a Dezembro), conforme revisão inscrita em Outubro último no Orçamento Geral do Estado para 2019. Antes desta revisão em baixa, o Executivo previa uma inflação de 28,8% para todo o ano de 2018. A responsáve­l do INE salientou que, das 18 províncias, em Dezembro, dez ficaram abaixo da média nacional (1,41%), com a de Luanda a atingir 1,51%, menos 0,12 pontos percentuai­s que em relação a Novembro do mesmo ano. Estes números, acrescento­u, devem-se ao agravar dos preços, em termos nacionais, nas classes da Alimentaçã­o e Bebidas Não Alcoólicas (2,3%), Bens e Serviços (2,6%), Vestuário (2,01%) e Alimentaçã­o (1,53%). Em 2016, a inflação em Angola (12 meses) chegou a 41,12% e no ano seguinte desceu para 23,67%.

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BANCO FOMENTO ANGOLA (BFA)
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FUNDO MONETÁRIO INTERNACIO­NAL (FMI)

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