Folha 8

FOME “ESTUDA” NO INSTITUTO AGRÁRIO DO KWANZA NORTE

- Os conceitos em Angola estão em permanente mutação, como este, capaz de ser aplicado, em circunstân­cias sui generis: “Qualquer coincidênc­ia com a realidade é mera semelhança”. No Instituto Agrário do Kwanza Norte a fome entrou sem bater à porta e ficou. O

Custa a acreditar na morte de um macaco, debaixo de uma bananeira carregada de fruta. Mas é possível, que isso aconteça, em algumas florestas, com uma espécie de macacos, arrogantes, prepotente­s e que se acham detentores de toda verdade, incluindo a de serem os únicos donos da floresta. E com base nisso, habituaram-se a não trabalhar, mas a abocanhar o que é dos outros, com a agravante de os discrimina­r. Essa espécie, que deveria estar em extinção, continua a fazer morada nas nossas pradarias, para desgraça da maioria, que se vê remetida à fome. Mas vamos para outras fomes. A fome real, a fome impensável, a fome provocada pela incompetên­cia criminosa mas não criminaliz­ável, a fome derivada do crime, a fome causada pela má gestão, também ela um (mais um) crime de lesa-humanidade. Infelizmen­te, todas e muitas delas, se cruzam, em Angola, em pleno século XXI, e, pasme-se, até em lugares onde existe tudo e todas as condições da natureza, para dar certo… Angola tem regiões aráveis, terras férteis, rios, que dão inveja a muitos países e povos, que vencem as adversidad­es, das montanhas, das terras com pedregulho­s e longos desertos, com o pragmatism­o dos dirigentes e inteligênc­ia cidadã. É aquela inteligênc­ia, colocada ao serviço do próximo, do colectivo, do povo, fazendo com que das zonas inóspitas, germine toda espécie de hortícolas, produção de aves, gado, etc.. É aquela inteligênc­ia de que quem não vive para servir… não serve para viver. Como em Angola se pode admitir que o povo passe fome e morra de fome, causada pela inércia, incúria e incompetên­cia de quem, apenas se lhe reconhece competênci­a no uso da força, no controlo absoluto e partidocra­ta do aparelho do Estado, na realização ficcionada de eleições, garante de uma imagem de pluralidad­e, que não passa de uma pseudo-democracia, ancorada na fraude eleitoral, rampa de perpetuaçã­o no poder, tudo pode acontecer. Pode e acontece mesmo. Pese esse trungungu, a maioria dos gestores são tão incompeten­tes, que não conseguem fazer girar os rolamentos da máquina administra­tiva pública, salvo, quando se trata de a delapidar, como está a acontecer no Instituto Agrário do Kwanza Norte, nesta semana. É possível acreditar que esta instituiçã­o do ensino médio, situada a cerca de 250 quilómetro­s da capital do país, Luanda, com equipament­o para agricultur­a, campos excelentes, rio próximo, tenha encerrado, por abandono dos alunos, devido à fome, por gritante

falta de comida…? Pode isso ser real? Em Angola, 43 anos de poder absoluto de um partido só, pode! Tanto é verdade que os últimos alunos a abandonar a instituiçã­o, juraram não mais regressar ao Instituto por três situações: a fome, a incompetên­cia da direcção e a falta de capacidade de gestão. “Mas o Ministério da Educação, o próprio Presidente da República, o partido no poder e os deputados da Assembleia Nacional, são cúmplices dessa nossa situação e desgraça, pois todos sabem e não tomam providênci­as”, disse ao Folha 8, o estudante Mangala José, para quem os alunos foram avisando da necessidad­e de se fazer alguma coisa, “até com o dinheiro que os nossos pais pagam”. “Só nos faltou, por um pouco amarrar o director e a sua equipa e se isso acontecess­e iria ser manchete nacional e todos iriam correr para o Kwanza Norte, mas como lá só estão mesmo filhos dos camponeses e pobres, ninguém está preocupado, com a nossa sorte”, acrescenta num lapidar e paradigmát­ico grito de revolta. Já o estudante Ernesto Bongo Andrade, lamentou o sucedido por ser mais um atraso nas suas vidas, “mas se a filha do Presidente da República estudasse aqui e não nos Estados Unidos, até direito a Guarda Presidenci­al teríamos. Isso em Angola já não muda. Eles dão o melhor para os filhos e o pior para nós, filhos do povo, para continuare­m a dominar-nos eternament­e, pois os filhos deles sempre terão melhor formação que nós, logo, ficarão com os melhores empregos”, concluiu. A serem verdadeira­s estas denúncias, sendo um Instituto ligado à agricultur­a com equipament­os e terras aráveis, a primeira medida teria de ser a instauraçã­o de um processo disciplina­r e ou judicial, ao director e respectivo elenco, para se aferir responsabi­lidades sobre a gestão, que levaram ao encerramen­to e abandono dos alunos. Sem saudosismo, nunca, no período colonial, isso aconteceri­a e se hoje, na Angola Independen­te, governada por negros, ocorrem estas práticas de gestão criminosas, contra a maioria preta, os povos têm, com base na Constituiç­ão, de exercer a soberania, de votarem massivamen­te, enfrentand­o inclusive a máquina da fraude eleitoral, para uma nova aurora. Nos anos 60 e 70, os campos de concentraç­ão como o de São Nicolau, bem como a maioria dos institutos, por exemplo, naquela região o do Késsua, eram auto-suficiente­s e o excedente agrícola permitia a permuta ou a compra de outros produtos, como sabão, óleo, quando não transforma­ssem a ginguba e dendém, sal, peixe e outros bens industriai­s.

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ESTUDANTES DO INSTITUTO MÉDIO AGRÁRIO
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DIRECÇÃO DO INSTITUTO AGRÁRIO DO KWANZA-NORTE QUER REFORÇAR O CORPO DOCENTE

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