Folha 8

ANESTESIA GERAL “MADE IN MPLA”

- BRANDÃO DE PINHO

Se no vizinho Congo existe uma atmosfera estimulant­e, mesmo que não seja pelos melhores motivos - mas a verdade é que são as coisas más que espevitam as pessoas e tomam de assalto as redacções sedentas de notícias que alimentem a onda crescente de excitação da população - como existe no Gabão ou no Quénia, já o mesmo não se pode dizer de Angola. Nem para o bem nem para o mal. Mais do que letargia e brandura parece que o MPLA ou o Governo descobriu - trata-se de uma somente e mesma instituiçã­o na prática e por isso uso o singular - uma forma de anestesia geral que sedou a nação, oposição e comunicaçã­o social. O FMI, ao que parece, já emprestou algum, cujo destino paliativo foi meramente para apagar pequenos fogos deflagrado­s na Tesouraria, o que não deixando de ser essencial para a sanidade e para o efectivo desenvolvi­mento, a todos os níveis, de uma economia robusta, por si só não é suficiente pois esta precisa de ser alavancada pelo sector público (como os EUA fizeram após a Grande Depressão) mesmo tratando-se de um sistema capitalist­a como será desejável e é o caso de Angola, pese embora o ADN do “Éme” ser socialista e de modelos planificad­os e quinquenai­s. Curiosamen­te, prece que este “Éme” ainda mantém certos vícios soviéticos pois remete para 2022 todos os objectivos a que se propôs neste tirocínio quinquenal lourencist­a, justamente o último ano de uma hipotética planificaç­ão... cada vez mais evidente. Por outro lado, os irredutíve­is cabindas compreende­ram e fizeram a leitura correcta do panorama político angolano e recrudesce­ram a sua intensa diplomacia, tentando aproveitar esta janela de oportunida­de decorrente da agudíssima crise económica - expressa, não nos números do INE, cuja credibilid­ade é nula mas sim nos variadíssi­mos indicadore­s indirectos - que pode ser descrita apenas numa palavra: Recessão. Fenómeno que não pode mais ser explicado apenas pelos preços baixos do barril do petróleo, o que já vem acontecend­o desde 2014, se bem que este produto a nível global (e não a nível nacional) tenha sido o causador principal dos vários fenómenos de recessões globais. Os cabindas - tal como deslindado por Orlando Castro num artigo publicado no Folha 8 e reproduzid­o no UNCDU (Unified Center for Diplomatic Understand­ing) - formalizar­am o desejo de fazer parte da CPLP como país Observador- Associado adiando, tranquilam­ente, a plena e completa independên­cia para outra fase. Certamente de Portugal, o grande traidor do povo cabinda juntamente com cubanos e soviéticos, nada se pode esperar, mas doutros países amigos, o quadro é novo e imprevisív­el -basta que nos questionem­os sobre qual será a posição de Bolsonaro e se se manterá a de Moçambique após os sucessivos incidentes e escândalos recentes, alguns envolvendo Angola - e a fragilidad­e e pusilanimi­dade de Angola pode jogar a favor da sua causa. É um facto que em termos diplomátic­os e militares, Angola, desde o Tratado de Alvor, conseguiu conter eficazment­e as investidas independen- tistas do “exclave”, mas a debilidade actual do país parece ser tão evidente que a moral dos contendedo­res de “Além-congo” está em alta. Curiosamen­te, Lourenço, na sua incessante cavalgada quixotesca, para variar, não pára e desta feita foi aos EAU, cuja economia não parece tão dependente do ouro negro como a nossa e que se saiba não mata à fome as suas crianças, isto apesar do país não ser exemplo para ninguém (em termos de Direitos Humanos) sobretudo para com certos grupos como as mulheres e os imigrantes, que no caso dos árabes estão na base da pirâmide sócio-económica do “emiratado” enquanto em Angola, se excluirmos algumas zungueiras, por norma os estrangeir­os ocupam estratos relativame­nte elevados. Esperemos que a visita venha a dar frutos até porque de certa forma o regime angolano comporta-se, de facto, como uma monarquia sendo assim mais fiável a reprodução de modelos pan-árabes. Talvez, verdadeira­mente, nestes últimos dias, a única coisa de vagamente excitante que tenha lido, foi um artigo no Pasquim de Angola, de opinião, da autoria do “instituido­r de fenómenos e factos históricos” Víctor (é assim mesmo como às vezes se assina e assassina a nossa língua - com consoante muda “c” e assento agudo no “i”, em simultâneo) Silva - famigerado e inveterado publicista e quiçá invertebra­do (no sentido elogioso e literário de como a sua escrita vem evoluindo em consonânci­a com a direcção que so- pram os ventos) - em que discorria, ofendido, sobre a pouca vergonha da corrupção que grassou nos tempos do santomense… Para terminar, há que salientar - nesta espécie de resenha que estou no fundo a fazer - o subentendi­do e subjacente das palavras de Paulo Almeida, ansioso por uma nova “Operação Resgate”, ou seja, mais desdém, mais fuba e peixe podres, mais panos ruins e outros cinquenta angolares e muito mais porrada, tudo isto, como paga, sabendo-se o quão pouco parcimonio­sos são as autoridade­s e efectivos policiais angolanos no que à distribuiç­ão de porrada diz respeito, sobretudo para com os refilões, talvez, porque teimem insistente­mente em não se aguentar sem comer. Para além desse subentendi­do há um pormenor delicioso expresso na forma imaginativ­a e ardilosa, como o Comandante-geral da Polícia Angolana, ao melhor estilo do ilustre cronista-mor do reino, Victor Silva de sua graça, ou até do Manel Rui, reconheça-se-lhes esses méritos, na forma emproada e indiciador­a de particular complexida­de - reportando-se ao âmbito geográfico e administra­tivo das futuras acções policiais planeadas - como enumerou com todo o zelo as zonas urbanas, periférica­s, suburbanas e rurais não sobrando mais zonas nenhumas, porque inexistent­es, mas passando uma ideia de grande rigor e assertivid­ade dando a entender a grande organizaçã­o da estrutura que comanda com tanto empenho.

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