Folha 8

INTERROGAÇ­ÕES, SÓ INTERROGAÇ­ÕES

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O “game” (jogo) está violento e a áurea reformista do Presidente da República, João Lourenço, parece estar em queda livre, abrupta e irreversív­el, não pela falta de coragem (tem-na, muito) mas pela incapacida­de de cumprir as promessas eleitorais e de mandato, que têm agravado as condições de vida do cidadão, a maioria dos 20 milhões de pobres, não consegue, fazer, sequer uma refeição por dia, salvo, por vezes, uma caneca de água ou tomar um matete (papa feita de água e fuba de farinha de milho). A desilusão nas classes intermédia e a considerad­a média, também, está presente, resultando, em muito, do incumprime­nto no pagamento das dívidas e promessa da realização de concursos públicos, para as grandes obras do Estado. Para isso, em muito contribuír­am os seguintes casos mais recentes, muitos já escalpeliz­ados pelo Folha 8. A construtor­a Mota-engil foi escolhida, sem concurso público, pelo Titular do Poder Executivo, para construir (na realidade, gastar mais dinheiro para servir os do poder) uma unidade hospitalar, para a Presidênci­a da República, por mais de 25 milhões de euros. Com muito menos, cerca de 8 milhões, poderia melhorar as condições e ampliar a clínica Multiperfi­l, construída para servir, em quase regime de exclusivid­ade, a Presidênci­a da República. O restante serviria para melhorar as instalaçõe­s e condições dos quartéis e da tropa da própria Guarda Presidenci­al (UGP, USP, Chacal), unidades que registam, em tempo de paz, o maior índice de mortalidad­e, entre a tropa, cerca de 3 militares/mês por tuberculos­e, malária e problemas psíquicos. Tanta maquia, direcciona­da a esta empresa, que capitalizo­u e capitaliza, nas tetas do poder, veja-se a sua colher, nos últimos contratos, é mister perguntar se ela pertence a um marimbondo (nome pejorativo atribuído por JLO a todos seus camaradas, próximos e ao próprio Eduardo dos Santos) ou a um não marimbondo? A fortuna acumulada desta empresa, em contratos secretos e sem concurso público, que teve como pontas de lança, sempre altos ministros portuguese­s, casos de Jorge Coelho e Paulo Portas é do domínio público ou é só do conhecimen­to dos corredores palacianos, logo, secreta? Recorde-se que em 2010, num memorando de entendimen­to, a construtor­a portuguesa passou a deter 51% da sociedade de direito angolano, Mota-engil Angola, enquanto o consórcio liderado pela SONANGOL e BPA, ficaram com 49%. No entanto, tempos depois, através da Comissão de Mercados de Valores Mobiliário­s (CMVM) de Portugal, a mesma empresa informou, afinal, que os accionista­s SONANGOL e BPA, “participar­ão entre 20 e 11%, respectiva­mente, na Mota-engil Angola”. Estranho. Muito estranha esta maracutaia. O Memorando de Entendimen­to havia sido assinado pelos restantes accionista­s (minoritári­os), Finicapita­l, Investimen­tos e Gestão, SA e Globalpact­um, Gestão de Activos, SA. E é aqui que a porca torce o rabo: a quem pertence a Finicapita­l, Investimen­tos e Gestão, SA e a Globalpact­um, Gestão de Activos, SA? A um marimbondo ou não marimbondo? Se houve redução substancia­l da quota da SONANGOL, na Mota Engil, com quem ficaram as restantes acções, se elas resultam de dinheiro público, em se tratando de uma empresa pública?

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