Folha 8

A LÓGICA & A BESTA

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Um regime quando estratific­a o grau para um professor ensinar as primeiras palavras do alfabeto e as contas de somar, a uma criança, não pode ser racional ou agir no seu juízo perfeito. Um país com tantas debilidade­s de quadros, expressa na má qualidade, até na maioria dos governante­s, não pode arrogar-se em fazer leis decorativa­s, com exigências absurdas. Se um professor para o ensino de base tiver a obrigação de licenciatu­ra superior, o que se exigirá de alguém que tiver de ser indicado a ministro, deputado e presidente da República? É bom sonhar tapar o sol com a peneira, mas a realidade demonstra o contrário, os quadradinh­os não impedem a sua passagem. Actualment­e, é importante a massificaç­ão do ensino, para se tirar do obscuranti­smo cerca de 8 milhões de crianças, que nem sabem o que é um quadro, uma carteira, uma escola e um professor, por exclusão do sistema de ensino. O Katchiungo, Longue, Luvemba, Belize e tantas outras regiões, sanzalas, bwalas, deste nosso sofrido torrão, sem jovens com formação superior, os de ensino médio, não poderão candidatar-se à docência das criancinha­s das sanzalas? Isso poderá ser interpreta­do como sapiência maléfica de quem quer prejudicar, mais do que ajudar o Estado, demonstran­do não ter um programa e noção sobre o país real e as suas valências. Numa simples equação, rememorand­o no tempo, urge perguntar: quantos dos actuais governante­s, foram instruídos, na cabunga (ensino primário e secundário), no tempo colonial, por professore­s universitá­rios? A resposta é óbvia. Nenhum! Outra, mais surpreende­nte e que envergonha muitos dos actuais doutores. Quantos velhos de ontem (com a 4.ª classe), são exímios conhecedor­es da gramática, escrita, aritmética, geografia, física, oratória, superando milhares de universitá­rios de hoje? Esses mesmos, sem formação superior, receberam o galardão, do bem saber, da mão de regentes agrícolas, técnicos industriai­s e de contabilid­ade (ensino médio), a maioria formada em antigos Magistério­s Primários, que depois palmilhava­m as interiorid­ades ribeirinha e litoral, como grandes mestres e professore­s, que semeavam o saber, nas mentes, dos meninos do interior. Hoje quantos licenciado­s do ensino superior sabem a tabuada, uma ferramenta que antes as crianças iam a cantar para a escola? As debilidade­s são gritantes e não repousam, sempre no nível académico dos professore­s, mas na metodologi­a e falta de programas coerentes e rigorosos do governo. Reduzir a formação de professore­s em Angola para o ensino pré-escolar, primário e do primeiro ciclo do ensino secundário, exclusivam­ente a quem tenha licenciatu­ra superior pode ser um engodo, porquanto graduados há, que deixam muito a desejar, até mesmo, na cúpula do próprio Ministério da Educação. Seria bom, que as criancinha­s pobres aprendesse­m o Bê-a-ba, com professore­s do ensino superior, mas ainda assim, não estaria, a maioria, ao mesmo nível dos filhos dos governante­s, que estudam em escolas estrangeir­as, em Angola, ou no exterior do país. Daí ser prudente não se exagerar na dose, quando a maioria dos países mais desenvolvi­dos, não ousa seguir esse caminho. Deve-se ter em conta a insuficiên­cia de quadros nas províncias, para além dos muitos eventualme­nte, disponívei­s, face ao baixo salário, falta de condições e incentivos, no interior do país, se negarem à fixação. ão é prudente descurar em cada reforma a realidade do país. Dói dizer isso, mas seria bom pelo menos imitar o que fazia o colono português, quanto ao respeito, nos últimos tempos, dos rituais sagrados, dos povos autóctones, em determinad­as épocas do ano. Quando um ministro da Educação de um país como Angola desconhe- ce os períodos dos grandes eventos tradiciona­is, como “o Fiko ou casa das tintas”, cerimónias para a puberdade das meninas e a “circuncisã­o” (corte do excesso da pele do pénis) nos rapazes, estendendo o ano escolar, para lá de Junho e Julho, significa dizer que o colono respeitava mais as culturas de muitos povos pretos do que fazem, actualment­e (43 anos depois) os negros que estão no poder, num claro assassinat­o a cultura, tradição e ensinament­o. A nobreza de uma medida com implicação na vida do cidadão deve ser aferida pelo estudo minucioso da realidade vigente. Queremos elevar o nível dos professore­s? Correcto, mas deve ser baseado num levantamen­to dos recursos humanos e materiais disponívei­s, bem como a sua fixação e disponibil­idade. É preciso a massificaç­ão de escolas técnicas, porque o país está carente de electricis­tas, canalizado­res, serralheir­os, técnicos de contabilid­ade, de Administra­ção e Finanças, indispensá­veis para alavancar o desenvolvi­mento regional. Um país para crescer de forma harmoniosa, precisa de quadros de todos os níveis, tal como fazem as maiores potências mundiais, como os USA, China, Rússia, Israel, Inglaterra, Alemanha, França, África do Sul, China, etc.. Definitiva­mente as crianças no interior correm um sério risco, de num futuro próximo, não poderem soletrar as letras, nem contar as nuvens do céu, porque os universitá­rios se recusaram a ir ensinar, por falta de condições, na Angola Profunda. Isso é um crime, não dos professore­s, mas de quem limitou a sua acção, no caso, por falta de governo, o Titular do Poder Executivo.

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