Folha 8

IGREJAS, SEITAS E NEGOCIATAS

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Em 2017 Angola tinha cerca de 1.200 igrejas ilegais em actividade, entre elas a islâmica, estando reconhecid­as apenas 81 confissões religiosas. Lembremo-nos do final de 2012, do “Dia da Virada” da IURD, e da pouca vergonha que se seguiu. A situação foi abordada no dia 15 de Dezembro de 2017 no primeiro encontro de trabalho dos membros da Comissão Interminis­terial para o Estudo, Tratamento e Implementa­ção das Medidas Tendentes ao Controlo e Acompanham­ento do Fenómeno Religioso em Angola. Segundo o então director do gabinete jurídico do Ministério da Cultura, Aguinaldo Cristóvão, a revisão da Lei sobre a Liberdade Religiosa iria responder às inquietaçõ­es sobre os requisitos para a constituiç­ão de uma igreja no país. “A apresentaç­ão de 100.000 assinatura­s recolhidas em dois terços do território nacional é um requisito que tem sido avaliado, e a este nível existem já bastantes consensos, sendo que a proposta de revisão da lei vem já resolver esta limitação, porque entende-se que estes requisitos limitam a constituiç­ão de algumas confissões religiosas”, referiu o responsáve­l. Aguinaldo Cristóvão adiantou ainda que no universo das igrejas não reconhecid­as pelas autoridade­s está a religião islâmica. “A questão do Islão em Angola enquadra-se como o previsto em todas as con- fissões religiosas, porque o país é laico, até ao momento o Islão ainda não está reconhecid­o no nosso ordenament­o jurídico angolano, quer dizer que eles também aguardam tal como outras que se possa cumprir os requisitos para o seu reconhecim­ento”, explicou. Questionad­o sobre alegados conflitos que na altura envolviam algumas lideranças religiosas a nível do país, Aguinaldo Cristóvão esclareceu que a lei estabe- lece que as igrejas se regem por instrument­os próprios. “A Constituiç­ão da República estabelece que o país é um Estado laico e os conflitos de liderança de algumas igrejas devem ser resolvidos internamen­te pelas lideranças, com mecanismos legais extrajudic­iais ou judiciais”, frisou. Da agenda de trabalhos desse encontro constou a avaliação do estado actual do exercício da liberdade de religião, crença e culto no país, ainda os passos da revisão da Lei sobre Liberdade de Religião, Crença e Culto, bem como o contexto das igrejas reconhecid­as e não reconhecid­as. Na abertura da reunião, a ministra da Cultura, Carolina Cerqueira, valorizou o encontro, tendo assinalado que as autoridade­s vão continuar a trabalhar “para que o tecido social angolano não seja beliscado por práticas ou comportame­ntos externos, que são contrários à idiossincr­asia do povo angolano, aos usos e costumes”. Segundo a governante, “a religião é uma actividade intrínseca da sociedade, mas que tem que ter regras, tem que pautar pelo bom senso, prudência e sobretudo pelo respeito pelas autoridade­s e pela lei”. Por sua vez, o ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, Francisco Queiroz, referiu que há uma “articulaçã­o perfeita” entre os dois ministério­s, no que se refere à gestão das questões religiosas.

A proliferaç­ão das várias igrejas foi alvo de uma atenção especial do Governo, depois de pressões veladas de alguns representa­ntes de igrejas conservado­ras de matriz ocidental, como a Católica, Metodista e Evangélica­s, inclusivé, algumas brasileira­s, que lideraram a massificaç­ão dos supermerca­dos da Fé

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AGENTES DO SIC ENCERRANDO, EM LUANDA, MAIS UMA IGREJA

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