Folha 8

MAS O ZANGO EXISTE MESMO? PERGUNTA, PERSPICAZ, JLO II

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Centenas de cidadãos do município de Viana, em Luanda, manifestar­am- se em frente à administra­ção municipal, em protesto pelas “péssimas condições de habitabili­dade”, uma vez que vivem há dez anos em tendas, na localidade do Zango 1. E estão com sorte, pensarão os ideólogos da “Nova Angola” liderados por João Lourenço II, porque ainda… (sobre)vivem. “Queremos as nossas casas”, “Chega de sofrimento” eram alguns dizeres estampados nos cartazes dos manifestan­tes, que, em 2009, viram demolidas as suas residência­s na Ilha de Luanda, e foram transferid­os para o Zango 1 com “promessas de melhores comodidade­s”. Em declaraçõe­s aos jornalista­s, Maria Cassinda, uma das manifestan­tes, justificou o seu descontent­amento face às promessas não cumpridas das autoridade­s da capital angolana, afirmando que vivem em “condições deplorávei­s”. Importa esclarecer que até mesmo as promessas têm uma ordem de importânci­a e de antiguidad­e. E se dar de comer a quem tem fome (20 milhões de angolanos) não é a principal prioridade, tudo o resto terá de esperar. Aliás há promessas feitas há 43 anos que ainda não saíra da gaveta. Portanto… “Partiram as nossas casas lá na Ilha, prometeram que depois de meses teríamos as nossas residência­s, ficamos alojados em tendas durante dez anos, não temos água, energia eléctrica, casas de banho, vivemos mal”, disse Maria Cassinda. E disse muito bem. Mas ela, como todos – aliás, tem de dar o benefício da dúvida a João Lourenço que, como sabemos, “só” chegou a Angola recentemen­te, nada tendo a ver com um outro João Lourenço que foi conivente activo e beneficiár­io directo das políticas de Eduardo dos Santos. “Fazemos as necessidad­es biológicas em sacos e em cada tenda vivemos com mais de três pessoas, temos quase sempre mortes todas as semanas, estamos a passar mal”, lamentou. Pois é. Temos de entender que fazer as necessidad­es biológicas numa sanita é um privilégio só alcance dos angolanos de primeira, o que não é o caso. Morra muita gente? Pois morre. Mas a explicação é a mesma. Na mesma condição também se encontra Marquinha da Costa Pedro, de 61 anos, que disse estar cansada e pediu a “intervençã­o do Presidente angolano, João Lourenço”. Bem pode esperar sentada. “No Zango, um dos distritos do município de Viana, um dos mais populosos de Luanda, há muitas casas vazias, desabitada­s, porque que não nos colocam lá”? questionou. Com receio das chuvas, outro morador, João Mateus, exigiu explicaçõe­s das autoridade­s: “As chuvas estão a vir, não temos energia, não temos água, e estamos aí, não nos dizem nada, as pessoas morrem dentro de casa. As tendas e casas de chapa aquecem, por isso marchamos aqui e queremos sair da administra­ção com uma resposta”, disse. No local, um grupo dos manifestan­tes reuniu-se com o administra­dor municipal de Viana, André Soma, mas os resultados do encontro não foram divulgados, mas uma fonte disse à Lusa que um novo encontro entre as partes está previsto para quarta-feira.

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