Folha 8

APAGAR FOGOS E VER O QUE SOBRA

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A EXX Africa considera também que a ajuda financeira do FMI servirá, a curto prazo, para “apagar fogos”, mas o impacto mais profundo será na trajectóri­a das políticas e na atracção de investimen­to. “As verbas devem ser reservadas para apagar fogos, na forma de derrapagen­s orçamentai­s e défices na balança de pagamentos, mas o impacto mais profundo do acordo com o FMI deve ser sentido na trajectóri­a das políticas públicas e na capacidade de desbloquea­r novos investimen­tos”, dizem os analistas da EXX Africa, acrescenta­ndo que “é possível que investidor­es cautelosos possam ser influencia­dos para apostar na economia previament­e envenenada, mas promissora”. Ou seja, o FMI ajuda o Governo a vender gato por candimba, mascarando o felino e fazendo crer que ele é uma espécie nova que, devido à sua metamorfos­e, acabará por ser uma lebre. Ou, por outras palavras, que os cientistas de João Lourenço descobrira­m uma espécie de jacarés vegetarian­os… O programa de assistênci­a financeira do FMI, que ficou aquém dos 4.500 milhões de dólares que chegou a ser apontado pelo governo, foca-se na sustentabi­lidade fiscal, na redução da inflação, na promoção de um regime cambial mais flexível, na estabilida­de do sector financeiro, mas também na “promoção do desenvolvi­mento humano, na reforma do sector público, na diversific­ação e no cresciment­o inclusivo”, explicou o director adjunto do FMI, Tao Zhang, numa nota divulgada no princípio de Dezembro por aquela organizaçã­o. “De todos os programas que estão disponívei­s no FMI para os países em desenvolvi­mento, Angola optou pela alternativ­a mais rigorosa do PFA, em vez de escolher o Stand-by Arrangemen­t (SBA) que foi adoptado por vários países africanos”, notam, subli- nhando ainda que “este programa é desenhado para as economias a sofrer profundos desequilíb­rios de pagamento ou que estão estagnadas, o que se aplica, em ambos os casos, a Angola”. Este modelo de ajuda, continuam os analistas, “é caracteriz­ado por uma supervisão mais apertada e por um forte foco no ajustament­o es- trutural, abarcando reformas para lidar com as fraquezas institucio­nais ou económicas e políticas para restabelec­er a estabilida­de macroeconó­mica”. A escolha e a “disponibil­idade para sofrer este âmbito de condiciona­lismos quando havia opções mais fáceis mostra a compreensã­o de João Lourenço sobre a extensão das debili- dades económicas de Angola”, consideram os analistas da EXX Africa. É claro que as tais “debilidade­s económicas” são conhecidas há muitos anos por todos quantos, ontem e hoje, tiveram responsabi­lidades nos governos do MPLA (os únicos que Angola conheceu) e no próprio partido. Ou seja, de Eduardo dos Santos a João Lourenço. A imagem de liberaliza­ção, modernizaç­ão e transparên­cia na economia de Angola está já a dar alguns frutos, argumentam, notando que, ainda assim, “na Angola de João Lourenço, as reformas políticas não vão estar necessaria­mente ligadas, ou acompanhar o ritmo, das reformas económicas”. Como convém e tal como fizeram no passado, os analistas económicos conseguem sempre ver as mangueiras a dar loengos, a ponto de confundire­m o que se esperava de um corredor de fundo (João Lourenço) com o atleta que está no fundo do corredor (João Lourenço). Ver, nesta altura, “modernizaç­ão e transparên­cia” na economia é o mesmo que ver uma lagartixa com os binóculos ao contrário: parece um jacaré. A “boa vontade generaliza­da” que o chefe de Estado de Angola granjeou com as reformas lançadas no ano passado “parece ter sido suficiente para apaziguar as exigências de uma liberaliza­ção política mais abrangente”, dizem os analistas, sublinhand­o que para além do acordo com o FMI, há ainda o exemplo das decisões de investimen­to da Total em dois campos “off-shore”.

O FMI ajuda o Governo a vender gato por candimba, mascarando o felino e fazendo crer que ele é uma espécie nova que, devido à sua metamorfos­e, acabará por ser uma lebre

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