APAGAR FOGOS E VER O QUE SOBRA
A EXX Africa considera também que a ajuda financeira do FMI servirá, a curto prazo, para “apagar fogos”, mas o impacto mais profundo será na trajectória das políticas e na atracção de investimento. “As verbas devem ser reservadas para apagar fogos, na forma de derrapagens orçamentais e défices na balança de pagamentos, mas o impacto mais profundo do acordo com o FMI deve ser sentido na trajectória das políticas públicas e na capacidade de desbloquear novos investimentos”, dizem os analistas da EXX Africa, acrescentando que “é possível que investidores cautelosos possam ser influenciados para apostar na economia previamente envenenada, mas promissora”. Ou seja, o FMI ajuda o Governo a vender gato por candimba, mascarando o felino e fazendo crer que ele é uma espécie nova que, devido à sua metamorfose, acabará por ser uma lebre. Ou, por outras palavras, que os cientistas de João Lourenço descobriram uma espécie de jacarés vegetarianos… O programa de assistência financeira do FMI, que ficou aquém dos 4.500 milhões de dólares que chegou a ser apontado pelo governo, foca-se na sustentabilidade fiscal, na redução da inflação, na promoção de um regime cambial mais flexível, na estabilidade do sector financeiro, mas também na “promoção do desenvolvimento humano, na reforma do sector público, na diversificação e no crescimento inclusivo”, explicou o director adjunto do FMI, Tao Zhang, numa nota divulgada no princípio de Dezembro por aquela organização. “De todos os programas que estão disponíveis no FMI para os países em desenvolvimento, Angola optou pela alternativa mais rigorosa do PFA, em vez de escolher o Stand-by Arrangement (SBA) que foi adoptado por vários países africanos”, notam, subli- nhando ainda que “este programa é desenhado para as economias a sofrer profundos desequilíbrios de pagamento ou que estão estagnadas, o que se aplica, em ambos os casos, a Angola”. Este modelo de ajuda, continuam os analistas, “é caracterizado por uma supervisão mais apertada e por um forte foco no ajustamento es- trutural, abarcando reformas para lidar com as fraquezas institucionais ou económicas e políticas para restabelecer a estabilidade macroeconómica”. A escolha e a “disponibilidade para sofrer este âmbito de condicionalismos quando havia opções mais fáceis mostra a compreensão de João Lourenço sobre a extensão das debili- dades económicas de Angola”, consideram os analistas da EXX Africa. É claro que as tais “debilidades económicas” são conhecidas há muitos anos por todos quantos, ontem e hoje, tiveram responsabilidades nos governos do MPLA (os únicos que Angola conheceu) e no próprio partido. Ou seja, de Eduardo dos Santos a João Lourenço. A imagem de liberalização, modernização e transparência na economia de Angola está já a dar alguns frutos, argumentam, notando que, ainda assim, “na Angola de João Lourenço, as reformas políticas não vão estar necessariamente ligadas, ou acompanhar o ritmo, das reformas económicas”. Como convém e tal como fizeram no passado, os analistas económicos conseguem sempre ver as mangueiras a dar loengos, a ponto de confundirem o que se esperava de um corredor de fundo (João Lourenço) com o atleta que está no fundo do corredor (João Lourenço). Ver, nesta altura, “modernização e transparência” na economia é o mesmo que ver uma lagartixa com os binóculos ao contrário: parece um jacaré. A “boa vontade generalizada” que o chefe de Estado de Angola granjeou com as reformas lançadas no ano passado “parece ter sido suficiente para apaziguar as exigências de uma liberalização política mais abrangente”, dizem os analistas, sublinhando que para além do acordo com o FMI, há ainda o exemplo das decisões de investimento da Total em dois campos “off-shore”.
O FMI ajuda o Governo a vender gato por candimba, mascarando o felino e fazendo crer que ele é uma espécie nova que, devido à sua metamorfose, acabará por ser uma lebre