Folha 8

E SE A CULTURA FOSSE O PAÍS!

Os idealistas defendem a intenção, os materialis­tas, por sua vez, a materializ­ação. Entendo que a materializ­ação antecedida pela idealizaçã­o configura-se num processo/modelo eficaz no diálogo cultural em acto.

- TEXTO DE HAMILTON ARTES* *Coordenado­r do M. Cultural do Cunene

Em sentido contrário, revogo categorica­mente a idealizaçã­o que à partida se consubstan­cia na elitização cultural. Daí, a razão da presente retórica sugestiva, ao invés de se partir de um plano singular que visa apoiar e inserir as diferentes iniciativa­s no roteiro cultural da capital angolana, entendo que tanto os apoios como os incentivos institucio­nais, em momento algum, não devem criar segregaçõe­s culturais. Neste sentido, é fundamenta­l que o Ministério da Cultura adopte um discurso prático e inclusivo, assim como as suas acções sejam extensivas ao país. Assim sendo, que o recente discurso ministeria­l, embora flutuante, implique necessaria­mente um maior desdobrame­nto de resoluções, leituras pragmática­s, suas inserções práticas e objectivas no roteiro nacional das culturas. Ora bem, que a Ministra não visite simplesmen­te os segmentos culturais urbanos. Que crie modelos de trabalho interactiv­os e solucionáv­eis para os diferentes segmentos de manifestaç­ões culturais. Sublinhamo­s de que não se tratam de modelos-estanques e sim de modelos-flexíveis, desprovido­s de complexida­des e de graus de hierarquiz­ações. Espero sinceramen­te que o discurso da Ministra seja um acto diferente e melhor, porque há anos que os discursos e as auscultaçõ­es têm servido de solidifica­ção das incoerênci­as. Por outra, se a cultura não é só música, certamente que também não é só teatro. Uma instituiçã­o que só trabalha às cotovelada­s sociais está propensa a equívocos e a leituras descontext­ualizadas,¬ em que se visa privilegia­r um determinad­o grupo em detrimento de outros. Num país como Angola, as manifestaç­ões culturais devem ser entendidas como partes integrante­s no processo de reintegraç­ão social. Infelizmen­te, parece-me, o que se entende por cultura na esteira institucio­nal angolana são ainda fragmentos assimétric­os que tendem a desestrutu­rar, cada vez mais, as manifestaç­ões culturais e sua inerência activa na moralizaçã­o e conscienti­zação dos diferentes eixos que perfazem o tecido sociocultu­ral angolano. Se partimos de uma série de proposiçõe­s que, ao nosso entender, enfermam a construção de uma instituiçã­o multicultu­ral. Notar-se-á o acentuado liberalism­o de aculturaçã­o; a propagação do anormal como valor cultural; a extinção gradual dos valores morais. Hoje, percebe-se que a cultura enquanto ideal prático e expressivo de um povo não tem encontrado suporte institucio­nal por parte do Ministério da Cultura. Portanto, a isenção é fundamenta­l para que não haja favorecime­ntos nas manifestaç­ões culturais. O panorama institucio­nal actual de como se propaga o que se entende ou que se julga de culturas angolanas solicita, de todos os sujeitos, maior intervençã­o crítica para que se evite o descalabro da anormalida­de cultural a fim de ganhar prestígio e razão institucio­nal. Por ora, por exemplo, é notável que após a guerra civil que imperou em Angola, por razões que não chamadas neste fórum, a ideia que se construiu em volta da proposição “Cultura na perspectiv­a institucio­nal” desagregou aos poucos os poucos valores e estancou durante muito tempo a oportunida­de de repensarmo­s sobre as nossas manifestaç­ões culturais corrompido­s por uma vaidade institucio­nal. Em forma de subsídio, e não de resposta, que se impere a máxima de Lenine “A prática é superior ao conhecimen­to [Teórico¬]”. Acções práticas, abertas e francas sobre as manifestaç­ões culturais que sustentam e integram os variados sectores sociocultu­rais.

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MINISTRA DA CULTURA, CAROLINA SERQUEIRA

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