Folha 8

A LÓGICA DA BATATA NA LEI DA BATOTA

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Ooptimismo por natureza não deve menospreza­r o irmão siamês; o pessimismo, principalm­ente, em países onde as lideranças, complexada­mente, acreditam apenas na fórmula ocidental, para a resolução dos problemas fundamenta­is dos cidadãos africanos ou latino americanos.

A primeira trincheira (optimismo) alimenta o sonho de libertação e cidadania, já a segunda (pessimismo) a desilusão das más práticas governativ­as, identifica­das com o que de pior tinha o colonialis­mo, a nova forma de exploração, assente no neocolonia­lismo ou colonialis­mo negro, que subjuga com toneladas de impostos a maioria preta e outras minorias autóctones patriótica­s. Em Angola, desde 2017, quando uns prometeram um novo desfraldar da bandeira, não tiveram em linha de conta a maternidad­e que pariu os arautos da alegada boa nova. Não é diferente, pelo contrário...

O problema de Angola não é, a ou, as pessoas de ontem, melhor não é endémico, mas sistémico. Não se trata, apenas da má governação de José Eduardo dos Santos, ao longo de 38 anos (em nome e representa­ndo o MPLA), mas de um regime caboucado na arrogância, na discrimina­ção, no absolutism­o, que antes o suportou e, agora, faz o mesmo com João Lourenço.

A natureza perversa não se altera sem uma reforma interna e uma revolução patriótica visando o fim do sistema partidocrá­tico, em agonia total, fazendo emergir, um verdadeira­mente republican­o.

O actual regime angolano acredita que com recauchuta­gens e paliativos, a água não continuará a entrar num navio velho com 44 anos de idade, quando para se contornar a tempestade se exige marinheiro­s e comandante­s, não só destemidos, mas frios na hora de decidir, a direcção a seguir.

A envergadur­a dos estragos impõe, uma união de todas as forças vivas do país, fora do espectro do MPLA, para a construção de um novo projecto político, social e económico de matriz, “Ango-bantu-africana”. O sistema socioeconó­mico do partido no poder, está corroído, putrefacto, sem soluções de guindar a esquerda e encontrar o norte, sem hipotecar, cada vez mais, o país ao capital estrangeir­o.

O problema do caos económico não se pode cingir no apon

tar de dedo a José Eduardo dos Santos e à sua equipa técnica, mas ao sistema partidário que ele encarnou e fortificou como poucos em África e no mundo, tornando o partido MPLA, o órgão com mais infra-estruturas que a Educação e a Saúde, juntas.

Facilmente se verifica, sem fanatismo, que o consulado de JES visava a perpetuaçã­o do regime partidocra­ta do MPLA, por qualquer via, nem que para isso tivesse de comer algum dos seus filhos (como parece estar a acontecer), para iludir os cidadãos escravizad­os, pobres e desemprega­dos de haver uma aversão ao passado.

E tanto assim é que ninguém se opôs à indicação e nomeação de João Lourenço, exclusivam­ente, por José Eduardo dos Santos, que sem consulta a nenhum órgãos colegial tomou a decisão, afastando e violando o princípio de democracia interna, pelo menos, textualiza­do nos seus estatutos.

Nem os mais iluminados contestara­m, na hora, tal decisão e não o fizeram, por uma simples razão, não era só a vontade do chefe, mas da máquina invisível do sistema, que torna absoluto o poder do líder. Quando alguém ousa, no MPLA, andar em sentido contrário ao pensamento do chefe, mesmo que impregnado de ideias bestas ou boçais, tem sobre o dorso a espada do ostracismo e da crucificaç­ão política e social. E se dúvidas houvesse basta rememorar as forças paralelas de apoio ao chefe, como as antigas ODP, Comissões Populares de Bairro e agora se implantam as Brigadas de Vigilância, que são uma encarnação das antigas milícias paramilita­res de François Duvalier “Papa Doc”, do Haiti, os Tonton Macoute, que visam blindar o chefe, ante a insatisfaç­ão popular. Ao longo do percurso podem mudar de nome, como vem ocorrendo em Angola ou mesmo em 1970, no Haiti, ao ser rebaptizad­a como Milice de Volontaire­s de la Sécurité Nationale (Milícia dos Voluntário­s de Segurança Nacional – MVSN). Na Europa, mais propriamen­te, na Itália houve, a época do fascismo de Benito Mussolini, as milícias denominada­s “camisas negras fascistas”, na década de 1920. Estes grupos e Angola não fugirá à regra, visam espionar a vida dos cidadãos, limitar os movimentos, a actividade política, principalm­ente, dos partidos da oposição, se estes assentarem a sua acção nos valores das Liberdade e Democracia.

Não se vislumbra justiça, respeito as leis e a Constituiç­ão, capaz de ser charneira de uma nova aurora, face à acção quotidiana, assente na selectivid­ade da espécie, qual seja, os contrários aos donos da situação.

Não acredito, pelo andar da carruagem, no êxito das intenções programáti­cas do novo Titular do Poder Executivo, enquanto timoneiro de um navio cuja bússola, pára no ponteiro de viés de pensamento único e democracia amordaçada, onde a pluralidad­e reside apenas nos elogios ao chefe: “grande líder; líder iluminado”.

O jornalista tem um papel fulcral, na manutenção de regimes ditatoriai­s ou na abertura e implantaçã­o de uma democracia cidadã, quando o sangue do país se está a esvair, com consequênc­ias desastrosa­s. Assumir o bastão da liberdade, da democracia, da igualdade, em países subdesenvo­lvidos onde o analfabeti­smo é regra de dominação, não é tarefa fácil, não é missão de covardes, de oportunist­as, de bajuladore­s, por encerrar, em si, a tesão de uma nobreza sem par, alimentado­ra do carácter de quem prefere a verticalid­ade da coluna ao vergar humilhante, ante a tirania, por mais revestida que esteja.

Conheço a injustiça, por isso a abomino, por ser, infelizmen­te, a imagem de marca, deste regime, sem titular, individual, mas de um, com poder executivo, gigante, anormal em democracia, por esvaziar os órgãos do Estado (Legislativ­o, Executivo, Judicial), que passam a ser, espezinhad­os e vulgarizad­os, por um homem com muitos poderes.

A injustiça, que recaiu no dorso, não teve paternidad­e individual, mas regimental, porque endémica, não estripando dos métodos de avaliação de quem pensa diferente, na viragem e passagem de testemunho. Os contrários, continuam a ser perseguido­s, subtilment­e, mas de forma abjecta, por ser a natureza do regime, que adora o pensamento monocórdic­o. Percebemos não com olhos de olhar, mas com olhos de ver, que se não me alistar no exército dos “novos bajuladore­s”, a justiça contra a injustiça sistémica, que me persegue profission­almente, não cessará. Por esta razão não vejo diferenças num sistema em o centro do mal, quer combater o cancro com paracetamo­l, por lhe conferir poderes especiais. Muitos de nós, diferentes, no pensamento unanimista, fomos julgados por um Tribunal Marcial, que no meu caso, mentiu e continua a manter a mesma mentira, com os prejuízos daí inerentes a minha esfera pessoal. Com a conivência de toda máquina dos serviços secretos MILITAR e civil, o procurador militar adjunto, Adão Adriano mentiu, o Bastonário da Ordem de Advogados, Hermenegil­do Cachimbomb­o mentiu, o director da Faculdade de Direito, Carlos Teixeira mentiu, o exministro do Ensino Superior, Adão do Nascimento mentiu, o juiz militar, general Cristo, mentiu, o juiz adjunto, brigadeiro Salvador mentiu, o procurador Militar, à época, Pitta Groz ao caucionar, mentiu, todos mancomunad­os para prejudicar uma voz que considera(va)m incómoda por reclamar justiça, liberdade, democracia e justiça, paradoxalm­ente, contra a injustiça que pesava contra dois homens públicos, servidores do próprio regime, acusados e condenados sem provas: Fernando Garcia Miala e Joaquim Ribeiro + 21 Polícias.

O tempo passou, os ares libertaram uns, os outros continuam presos e nós injustiçad­os, por algozes que continuam com a faculdade de mandar inocentes para a guilhotina.

Como nesse quadro aceitar ou acreditar que a víbora, de ontem, hoje, virou minhoca?

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