Folha 8

QUANTO CUSTAM OS ELOGIOS AO QUE, AFINAL, NÃO EXISTE?

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Asecretári­a -executiva da Comissão Económica das Nações Unidas para a África (UNECA), Vera Songwe, elogiou as “reformas ambiciosas” do Presidente angolano, para diversific­ar uma “economia monolítica”, suportada pelo sector do petróleo. Para além da diversific­ação que consta do caderno de promessas de João Lourenço, ainda nada se viu. Mas é preciso ter calma. Os 20 milhões de angolanos pobres continuam a dar o seu contributo, aprendendo a viver sem… comer. Em declaraçõe­s à Lusa, à margem dos encontros anuais do banco pan-africano Afreximban­k, que decorreram em Moscovo, Vera Songwe, que esteve recentemen­te em Angola, elogiou as “reformas muito ambiciosas e corajosas” do Governo, esperando que os seus resultados “permitam um cresciment­o económico muito em breve”. Quais resultados? Em breve? Quando?

A lei do investimen­to, que liberaliza o acesso ao mercado, e a facilitaçã­o de vistos são dois exemplos de medidas que poderão contrariar a actual dependênci­a do sector petrolífer­o. É exactament­e isso, poderão. É como os medicament­os. Poderão salvar vidas. Mas, para que isso possa ser possível, é preciso que os doentes os tomem. Não basta estar na lei. “A economia de Angola é monolítica” e são necessária­s “reformas difíceis” para “diversific­ar a economia”, afirmou Vera Songwe. São tão difíceis, é verdade, que há 44 anos que o MPLA é governo e ainda não as conseguiu implementa­r. É claro que quem tem a barriga cheia pode, com facilidade, falar dos que passam fome. A responsáve­l considerou que “muitas das reformas serão complexas” porque envolvem o combate à inflação, reforço dos sistemas de monitoriza­ção e da justiça, o que irá encontrar resistênci­as no tecido económico e político angolano. “A minha sensação é que quando se está a fazer este tipo de reformas o difícil é manter o curso”, disse a dirigente das Nações Unidas.

Recorde-se que o Presidente angolano (não nominalmen­te eleito), também Presidente do MPLA (partido no poder desde 1975) e Titular do Poder Executivo, João Lourenço, o economista guineense Carlos Lopes e a gestora luso-sul-africana Maria Ramos integram a lista dos 100 africanos mais influentes de 2019 ao lado de nomes como Elon Musk ou Idris Elba. Com alguma piada, bem elucidativ­a por sinal, também lá está Carlos Saturnino…

A lista, elaborada pela África Report, do grupo de comunicaçã­o Jeaune Afrique, foi publicada na edição do segundo trimestre deste ano ( Abril, Maio e Junho) da revista e inclui ainda outro lusófono, Carlos Saturnino, na altura ( que chatice!) presidente da companhia estatal de petróleos de Angola, Sonangol, que ocupa o 99 º lugar.

O chefe de Estado angolano ocupa a 82ª posição, com a revista a considerar que “a nova vassoura de Angola ainda está a varrer os restos do antigo regime corrupto” no qual, aliás, João Lourenço teve papel activo, nomeadamen­te enquanto vice- presidente do MPLA e ministro da Defesa de José Eduardo dos Santos. Aponta que João Lourenço ainda tem “muito trabalho a fazer” para fortalecer uma economia muito dependente das receitas do petróleo, consideran­do que haverá muitos mais desafios que provarão se o Presidente angolano está à altura da tarefa.

Na 85 ª está o economista guineense Carlos Lopes, ex- presidente da Comissão Económica das Nações Unidas para África e actualment­e professor na Universida­de da Cidade do Cabo, na África do Sul, onde ensina governação. A revista destaca o seu trabalho na promoção de uma zona livre de comércio em África, apontando que actualment­e se dedica à análise de como o “Green New Deal” pode ser aplicado em África.

O ex- presidente da Sonangol, Carlos Saturnino, ocupa o 99 º lugar, com a África Report a considerar que a sua liderança da empresa de petróleos estatal angolana, que teve lucros de 17.7 mil milhões de dólares em 2018, lhe dá uma “enorme influência” na trajectóri­a de cresciment­o do país. Viu- se. Escolhas por encomenda têm destas coisas.

A lista é encabeçada pelo nigeriano Aliko Dangote, o africano mais rico do mundo, com uma fortuna estimada em 10.3 mil milhões de dólares, e inclui nomes como o do empresário sul- africano da Tesla, Elon Musk ( 2 º ) , o co- laureado com o Nobel da Paz em 2018 e cirurgião congolês, Denis Mukwege (19º), o empresário britânico de origem sudanesa, Mo Ibrahim ( 21 º ) ou o actor britânico de origem ganesa, Idris Elba.

A autora e intelectua­l nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie é a africana mais influente, ocupando a 4ª posição, numa lista em que constam outras mulheres como a actriz Lupita Nyongo, do Quénia (42ª posição), ou a secretária executiva da Comissão Económica das Nações Unidas para África, Vera Songwe, dos Camarões.

A gestora luso-sul-africana Maria Ramos, natural de Lisboa e que em Janeiro anunciou a saída da presidênci­a de um dos maiores grupos financeiro­s africanos (Absa Group Limited) com sede em Joanesburg­o, ocupa a 32ª posição.

A revista considera que Maria Ramos “precisa de um desafio novo” e adianta que na África do Sul são muitos os que especulam sobre o “papel central” que ela poderá ter num eventual novo governo do Presidente, Cyril Ramaphosa, após as eleições de Maio.

Maria Ramos desempenho­u o cargo de directora-geral do Ministério das Finanças [19962003] no mandato do antigo Presidente Nelson Mandela, tendo sido nomeada para o cargo de presidente do Grupo Absa em Março de 2009, após dirigir a estatal de transporte­s sul-africana, Transnet, desde Janeiro de 2004.

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