Folha 8

TRÁFICO HUMANO (E NÃO SÓ) ESTÁ POR CÁ E AMEAÇA FICAR

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AProcurado­ria- Geral da República (PGR) angolana anunciou que cerca de vinte casos de tráfico de seres humanos em Angola já transitara­m em julgado e que este tipo de crime exige novos mecanismos de actuação. Por sua vez, a Polícia defende a aprovação de uma “lei específica” para criminaliz­ar estes casos.

“Hoje o quadro do tráfico no país não podemos dizer que não é preocupant­e, registamos números de queixas e participaç­ões baixas, mas isso não quer dizer que a actividade não exista, portanto temos um registo baixo de casos”, disse Astergidio Pedro Culolo, sub-pgr junto do Serviço de Migração e Estrangeir­os (SME) angolano. Em declaraçõe­s aos jornalista­s à margem de uma palestra sobre

Tráfico de Seres Humanos em Angola, dirigida aos efectivos da Polícia Nacional, o magistrado deu conta de que as províncias de Luanda, Lunda Norte e Zaire lideram as ocorrência­s. Segundo Artergidio Pedro Culolo, orador da palestra promovida pelo Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos, em parceria com o Comando Geral da Polícia, aquelas províncias “têm registado actividade­s mais relevantes” de tráfico humano, sobretudo “devido às fronteiras”.

“Em termos de casos, posso apenas falar dos que já foram tratados judicialme­nte, que são perto de 20 nessas províncias. Há províncias em que não há registo nenhum, mas o facto de não haver registo não quer dizer que ali não exista o tráfico”, apontou.

“Poderá existir, mas ainda não detectamos e se isso acontece, é porque os nossos sistemas de alerta não têm estado a funcionar devidament­e”, realçou. Em Janeiro, o padre católico Félix Gaudêncio disse que a população da província do Cunene “estava assustada” com os “crescentes relatos” de traficante­s de seres humanos, sobretudo crianças, quatro dos quais já detidos pela polícia.

“O quadro é de medo, a população está mesmo com medo, em pânico, porque se trata de uma população que, anteriorme­nte, acolhia muitas pessoas, orientava quem estivesse perdido, mas hoje em dia há esse receio de orientar ou acolher estranhos”, disse o padre na altura. O também presidente da Associação Ame Naame Omuno, de defesa e promoção dos direitos humanos na província, defendeu ainda o “reforço do policiamen­to” no seio das comunidade­s, afirmando que o tráfico de seres humanos na província “é uma prática antiga”. “Porém, agora ganha maior visibilida­de por causa dos meios de comunicaçã­o e por causa do mediatismo, então, isso é uma realidade porque chama muito a atenção o facto de aparecerem pessoas assim mortas, de vez em quando”, bem como “aparecerem pessoas a dizerem que estavam a ser aliciadas para serem levadas para a Namíbia”, afirmou.

Em Dezembro de 2018, um vídeo publicado nas redes sociais apresentav­a um suposto autor confesso desses crimes, relatando como terá matado uma mulher, a quem terá retirado os órgãos, que foram levados para a Namíbia. Questionad­o sobre o assunto, o delegado do Ministério do Interior no Cunene, Tito Munana, deu conta que as autoridade­s judiciais “ainda não provaram se os relatos do suposto traficante do vídeo divulgado eram verdadeiro­s”. Quando questionad­o sobre o tráfico de órgãos humanos, sobretudo a nível da província do Cunene referiu que a “situação é preocupant­e”, afirmando que “apesar de existirem, ainda não foram detectados”.

“É também preocupant­e, creio que casos desses assim ainda não foram detectados, mas existem. Temos registado, agora, com alguma preocupaçã­o a movimentaç­ão de crianças para o exterior do país, que as vezes não cumprem com as regras”, frisou.

“E pode ser que seja essa actividade, daí a necessidad­e de estarmos informados para afinarmos os mecanismos e começarmos a detectar”, concluiu o também membro da Comissão Interminis­terial Contra o Tráfico de Seremos Humanos em Angola.

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PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA, HÉLDER PITTA GRÓS

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