SÓ 10% DAS CRIANÇAS SÃO TRATADAS
A ANASO estimava que apenas 3.000 crianças infectadas com HIV-SIDA em Angola estariam a fazer terapia anti-retroviral, o equivalente a cerca de dez por cento do total.
A informação foi prestada, em Março de 2017, por António Coelho, secretário-executivo desta ONG, assumindo a preocupação com o nível crescente de menores sem acesso a medicamentos ou tratamentos. “Estamos a falar de um país com cerca de 26 milhões de habitantes, onde cerca de 30.000 crianças estão neste momento infectadas pelo HIV, e dessas apenas cerca de 3.000 estão a ser acompanhadas e fazem terapia, porque a taxa de cobertura do tratamento a nível das crianças ainda é muito baixa”, reconheceu o responsável. António Coelho precisou que o nível do corte de transmissão vertical também é muito baixo, esclarecendo que entre 100 crianças filhas de mães seropositivas em Angola, 24 nascem igualmente seropositivas. “Portanto, o quadro também não é muito bom e neste particular temos de continuar a lutar para melhorar”, lamentou.
A ANASO revelou na altura que têm vindo a crescer em Angola os números da contaminação ou transmissão dolosa do HIV-SIDA: “Continuamos a ter pessoas em Angola que, com alguma estabilidade financeira, vão passando de forma consciente o vírus para outras pessoas. Estamos preocupados porque em média recebemos entre cinco a 10 denúncias por dia, uma situação que tem estado a contribuir assustadoramente para o número de novas infecções”. Apesar da lei que pune estes casos, António Coelho disse que a contaminação dolosa requer novos métodos e estratégias, defendendo por isso maior aposta na mudança de comportamento das pessoas, por considerar que “o processo é bastante lento e demorado”.
Angola vive desde finais de 2014, por incompetência do Governo, uma profunda crise económica e financeira decorrente da quebra para metade nas receitas petrolíferas, o que tem vindo a obrigar à contenção nas despesas públicas, com reflexos na situação socioeconómica das famílias. A ANASO lamenta a diminuição de verbas para o sector da Saúde e revela que em consequência da crise no país existem adolescentes a iniciarem a actividade sexual de forma precoce e relatos de crianças a iniciarem actividade de prostituição com apenas nove anos, devido às dificuldades de sobrevivência.
“Estamos a receber relatos de pessoas que se estão a prostituir- se com nove, dez e onze anos, isso requer da nossa parte uma intervenção rápida no sentido de mudarmos o quadro, mas seguramente que isso tem outras factores. É preciso, de facto, criar condições para combater a pobreza”, explicou.