Folha 8

CONCEITO DE CORRUPÇÃO E SUAS CARACTERIS­TICAS

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A transparên­cia Internacio­nal ( TI) - uma organizaçã­o nãogoverna­mental internacio­nal que persegue a sua luta por um mundo no qual governos, empresas, a sociedade civil e a vida das pessoas sejam livres de corrupção, entende que a corrupção consiste no abuso de poder em proveito próprio, que afecta a vida daqueles cuja subsistênc­ia ou bem estar depende da integridad­e das pessoas em posições de autoridade.

Para combatermo­s a corrupção precisamos de ter a certeza se sabemos de facto o que é a corrupção, de que fenómeno se trata e como podemos avaliar. Esta definição, segundo Luís Miranda ( 2017: 237), constitui a primeira dificuldad­e no estudo do fenómeno da corrupção.

Lutar contra a corrupção é como lutar contra um vício, nunca se recupera totalmente dele. Por exemplo, um alcoólatra será sempre alcoólatra. O que se pode fazer é reduzir os efeitos da bebida. Mas o alcoolismo pode ser recorrente, diz Dan Hough, especialis­ta em combate à corrupção da Universida­de de Sussex, na Inglaterra ( BBC- Folha). A corrupção parece totalmente invencível, mas não é. Há casos de sucesso no seu combate. Eliminá- la completame­nte é impossível, nem os países escandinav­os conseguira­m fazer isso a 100%. Mas onde as instituiçõ­es funcionam bem, pode-se promover um bom controle deste fenómeno. A exemplo de paises onde foram detectados indícios de cleptocrac­ia, tal como o brasil, onde, segundo dados, políticos e empresário­s se unem para rapar o dinheiro público, tal corrupção empresaria­l- política é forte onde as instituiçõ­es jurídicas e sociais funcionam mal. Para se ter uma ideia, o Brasil precisou de 514 anos para levar avante uma operação como a Lava Jato. Foram necessário­s 512 anos para se chegar a um “mensalão”. Não devemos perder a paciência. A corrupção tem as suas causas: falta de transparên­cia nos contratos públicos, politizaçã­o dos altos cargos públicos, financiame­nto ilegal de campanhas e outros.um país se torna uma cleptocrac­ia quando a corrupção político- empresaria­l sistémica instalada não tem o devido controle jurídico e social.

Hong Kong, Filipinas, Índia, Geórgia, Singapura e Botswana, para citar alguns, são exemplos de sucesso no combate à corrupção. O que é que eles fizeram?

Em 1970, Hong Kong tinha uma corrupção sistémica, controlada pelo crime organizado. O povo fez protestos. Em 1974, criou- se a Comissão Independen­te Contra a Corrupção, com uma equipa bem treinada, com excelentes salários. Esta equipa concentrou­se na repressão, educação e prevenção.

As escolas passaram a ensinar valores, não leis. Mais do que o peso das leis sobre os ombros dos agentes públicos, o fundamenta­l é o peso da ética. Todos foram encorajado­s a denunciar a corrupção. As investigaç­ões passaram a ser mais céleres, com acesso rápido às contas bancárias e confisco de propriedad­es. Tudo baseado numa forte vontade política, independên­cia da agência, com todos recursos disponivei­s e um sistema de justiça eficaz e independen­te e sem lacunas legislativ­as, estes foram e são os pontos fortes do programa. Singapura seguiu um programa parecido. Estes dois países aparecem nos primeiros lugares do ranking da Transparên­cia Internacio­nal, estando entre os 10 menos corruptos do mundo. Não podemos comparar Angola com nenhum desses países. A questão não é só comparar, é aplicar aqui com as devidas adaptações o que eles fazem de correcto. Botswana, é um dos paises Africanos que melhor classifica­ção obteve na análise do índice de percepção da corrupção feito pela Transparên­cia Internacio­nal, colocando- o na 34o posição. Botswana tem uma democracia multiparti­dária das mais longínquas do continente africano. É considerad­o um dos países mais estáveis de África e relativame­nte livre de corrupção. Por conta disso, possui uma estabilida­de económica e financeira robusta e é considerad­o um dos países com a menor dívida externa no mundo. Entende-se que cada país tem a sua realidade. As experiênci­as podem servir de inspiração, mas cada um deve desenvolve­r seu programa de combate à corrupção. O mais sensato e comum é a corrupção ser combatida, principalm­ente, pelas instituiçõ­es encarregue­s pela administra­ção da justiça, as quais devem ser fortalecid­as contando com o apoio da sociedade e das instituiçõ­es políticas.

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