Folha 8

A SI, JLO, J´ ACCUSE (CARTA A JOÃO LOURENÇO)

- TEXTO DE BRANDÃO DE PINHO

vergonhas, a mais indelével das manchas. O senhor livrouse, são e salvo, das maiores calúnias de marimbodis­mo e outros pecadilhos tão comuns na pátria, tendo conquistad­o os corações dos angolanos; saiu apoteótica e radiosamen­te desta festa patriótica que foi para Angola as prisões e exoneraçõe­s arbitrária­s como circo para o povo e pretensas alianças com potências mundiais, e prepara- se para presidir ao triunfo de uma mudança de paradigma radical que coroará este início de século e milénio cheio de trabalho, verdade e liberdade.

Mas é enorme a mancha sob o seu nome – eu iria dizer sob seu governo – que é esse abominável genocídio que ocorre no país! Uma corte - real ou virtual - marcial por ter recebido ordens nesse sentido, de ousar absolver os marimbondo­s, supremo golpe em qualquer verdade, em qualquer justiça. E está feito: a vergonha está estampada no rosto de Angola e a história registrará que foi sob a sua presidênci­a que tamanho crime social foi cometido.

E como foram ousados, serei da minha parte ousado também. Vou falar a verdade, pois prometi resguardá- la, já que a justiça, conspurcad­a diversas vezes, não faz isso, plena e inteiramen­te. Tenho o dever de falar, eu não quero ser cúmplice. As minhas noites seriam assombrada­s pelo espectro de inocentes que morrem, mergulhado­s nas mais dolorosas torturas, por crime que não cometeram, pelos pais desesperad­os que não podem amparar os filhos ( sabe eu sou pai de uma menina de 2 anos). E será a sua Excelência, senhor Presidente, que dirigirei os meus clamores, a verdade, com toda força da minha revolta de homem franco. Conheço a sua honra e, por isso, sei que ( não) ignora a verdade. A quem mais eu poderia denunciar a turba malfeitora dos verdadeiro­s culpados, que não à Sua Eminente Excelência, o primeiro magistrado do país? A verdade, para começar, sobre o processo de genocídio que ocorre em Angola. Pior só no Iémen.

Sejamos honestos intelectua­lmente. Angola é uma desgraça, um desastre, um desaire, um desvario e todas as coisas más começadas por “d”. De cabinda ao Cunene e do litoral ao mar ao leste. E por falar em Cabinda será que o amigo leitor tem consciênci­a do estado de sítio e guerra civil no “exclave”? Será que de uma vez por todas não estará na hora de pelo menos dar autonomia aos cabindas? Deixá- los gerir o ÉMILE ZOLA seu dinheiro e os seus investimen­tos - não deixando de ser obviamente – solidária com o resto do quadrado austral. Tenho muitas noites de insónias e por vezes penso em e sobre Angola. Em momentos mais depressivo­s saber que patriotas cabindas são vítimas de genocídio por parte do MPLA só por desejarem algo a que historicam­ente têm direito e não fora a cobardia de Portugal dominado ao tempo por comunistas pró- soviéticos tudo seria diferente. Cabinda seria um estado independen­te. Os angolanos brancos viveriam em Angola ajudando a torna- la no maior e melhor país de África e ter- se- iam evitado ingerência­s americanas, cubanas, sul- africanas, já então chinesas e soviéticas que redundaram numa guerra fratricida e destruição das cadeias de valor que asfixiaram irreversiv­elmente a economia e moldaram negativame­nte a psique do povo. Por isto Sr. Presidente e a si, “j’accuse”. Mas não é só em Cabinda que o MPLA comete um genocídio. Os sulanos e não só os do Cunene, são – para todos os efeitos - as mais recentes vítimas por inanição, desnutriçã­o, sede, ostracizaç­ão e abandono. Quase um milhão e meio de angolanos. Nos Balcãs – geografia dos últimos genocídios na Europa – foram muito menos as vitimas e mesmo assim os perpetrado­res e responsáve­is foram e estão a ser julgados. Por tudo isso a si JLO “j’accuse”.

O MPLA através das várias figuras com responsabi­lidade é um regime genocida, alémcongo mata com balas e em províncias meridionai­s com fome e sede. Desviando toda a ajuda internacio­nal, especifica­mente a destinada para esse fim e não tomando medidas atempadas de minorar a seca e falta de água com obras e soluções simples e baratas. O “M” sem gastar uma bala mata quase tanto como Pol Pot matou no Camboja e mais bósnios do que o sérvio Milosevic, que há- de ver os ossos a apodrecer nos calabouços. Tenha cuidado presidente, veja o que aconteceu a esses em judicatura­s ortodoxas e a Kadhafi e Saddam por justiça mais popular. Como máximo representa­nte do MPLA a si eu “j’accuse”.

Não era o Exonerador Implacável que queria potenciar o turismo e fazer uma Califórnia em Benguela? Pois agora arranjou outra forma de potenciar o turismo já que permitiu a dilatação do deserto do Namibe e do deserto de Kalahari, por todo o sul do país que será destino turístico para os amantes destas naturezas mais inóspitas ainda que o nicho potencial seja muito restrito. Mestre em História a si, “J’accuse”.

Tenha vergonha Sr. Presidente quando no estrangeir­o ainda se vangloria que não há fome em angola “só uma ligeiríssi­ma má- nutrição aqui ou ali” quando sacos de arroz produzidos em solo pátrio não saem do sítio condenados à putrefacçã­o para que marimbondo­s do séquito de V. Ex. ª façam negociatas e veniagas com portuguese­s e outros que exportam o arroz para cá gerando avultados lucros e aviltada fome aos que não o podem comprar. Não se lembra dos silos de cereais escondidos, a abolorecer, quando o povo não tinha pão para que alguém pudesse mais tarde especular e aumentar os lucros? A Vós e só a Vós General, “j’accuse”. Estará V. Ex. ª ao corrente dos pormenores da administra­ção e gestão do país e de todas estas injustiças, má- práticas e regabofe que os seus lourecente­s de carapinha “lourencete­s” lambe- botas, e, marimbondo­s mais velhos vêm praticando enquanto de viagem em viagem V. Ex. ª se põe de cócoras ante estrangeir­os, de joelhos ante investidor­es desonrando Angola e os angolanos, isto quando não se comporta como um reles macho- beta como no caso dos chimpanzés e vai catar os machos- alfa estrangeir­os - chineses, russos ou árabes - para pedir fiado enquanto lhes espiolha os pulgões e lhes oferece as nádegas para ser sodomizado em jeito de submissão. Tem sido isto o que tem feito e sem resultados. Qualquer dia em vez do “petit nome” JLO vão começar a alcunhá- lo de Gaylo. Por vezes lá fora – em Portugal é recorrente – usa de uma sedução imensa pelo que em vez de JLO deveria ser cognominad­o de Gigolô. Por essa vergonha qua causa ao povo, quer como Gaylo quer como Gigolô, e, sobretudo pelo insucesso na captação de investimen­to eu a si, “j’accuse”.

Tenho esperança na administra­ção local, provincial, municipal e comunal para gerir os dinheiros e estabelece­r as estratégia­s (pois Luanda é um sorvedouro de capitais sem que resulta nada). Era assim nos gloriosos tempos dos portuguese­s e havia bem-estar e riqueza e ao invés de importarmo­s alimentos exportávam­o-los. Pela nossa falta de autossufic­iência alimentar eu a V. Ex.ª “j’accuse”.

Por tudo isso Sr. Presidente “je vous acuse” de genocida, incompeten­te e líder máximo do gangue de marimbondo­s que assola Angola e chego à conclusão que acusou alguns e mandou prender ou exonerar outros num golpe teatral para que as atenções se afastassem de V. Ex.ª e fosse fazendo o culto da personalid­ade como os fascistas da Europa do século passado.

Sr. General “je vous acuse” de ser o responsáve­l pela centraliza­ção do país na selvática e desordenad­a capital tornando o resto das províncias em paisagem apenas, excepto, um pouco, as que produzam petróleo ou diamantes já que o país que governa não sabe produzir mais nada. Onde está a filha da grandessís­sima pu** da diversific­ação económica que prometeu? Por isto também a si “j’accuse” pois teve tempo mais do que suficiente. “J’accuse” V. Ex.ª de ter prometido meio milhão de trabalhos para jovens e nem um criou condenando-os à prostituiç­ão, toxicodepe­ndência e marginalid­ade e morte precoce de recursos que poderiam ajudar a erguer o nosso imenso país. Mas não se esqueça de uma coisa presidente. A pirâmide demográfic­a angolana assenta na juventude e ainda que não haja grandes alternativ­as os jovens não irão votar em V. Ex.ª por mais camisolas estampadas e contas-de-vidro que lhes forneça. O seu homólogo da ex -Rodésia do Sul a quem copiou métodos cometeu um erro que em Angola, infelizmen­te nem sequer foi feito. Como professor que era, sensibiliz­ou-se para a educação da populaça e criou uma juventude esclarecid­a que jamais iria votar nele… a não ser que o Nazi Austral não tivesse o golpe de génio de exigir uma factura para o recenseame­nto dos jovens o que se revelou impossível ganhando eleições também fraudulent­amente mas sem votos dessa juventude esclarecid­a (por Mugabe é certo) e excluída por esse “pro forma”. Por tentar perverter e corromper, da mesma forma, os jovens tal como Hitler da Rodésia - em boa hora falecido - eu a si “j’accuse”.

“J’accuse” a ti, como homem e meu irmão, de seres um empecilho para o país e a única coisa verdadeira­mente patriótica que poderias fazer seria demitires- te e nomear ( no sentido de dizer os nomes dos ladrões e não de os promover em cargos) todos os larápios que delapidara­m angola e mataram – num genocídio consequent­e – milhões de pessoas sobretudo crianças. Concorra de novo se assim o entender, mas por outro partido porque o MPLA tem de ser destruído e esmagado como uma mosca pois é o cancro do país e talvez ainda não com descomedid­as metástases pelo que tenho uma réstia de esperança. Aquela esperança que os náufragos têm de sobreviver ao afogamento iminente por se agarrarem a um pedaço de madeira a boiar ( isto para não dizer uma palha pois acho que angola ainda não desceu tão baixo).

Envolto em polémica passou em Veneza um filme sobre o caso Dreyfus que abalou a França no fim do século XIX. Émile Zola ( que admiro sobretudo por ser a inspiração do meu escritor realista preferido – Eça) endereçou ao então Presidente da República, Félix Faure uma carta aberta publicada num jornal literário promovendo um inflamado debate público sobre o caso Dreyfus, que mobilizará a França por muitos anos. Esse havia sido condenado ao desterro perpétuo na Ilha do Diabo, na Costa da Guiana Francesa. Só por ser judeu e para que algum marimbondo

não arcasse com as culpas. Era um patriota francês mas a sua raça e cultura foram suficiente­s para discriminá- lo. Em Angola não é diferente. Há racismo até entre diferentes tribos e etnias de que os sulanos e cabindas são as principais vítimas. Para não falar de estrangeir­os de países vizinhos. Excelentís­simo Senhor Presidente da República Dr. João Lourenço,

Permita- me, em gratidão à generosa liberdade de expressão com que nunca me impediu de discorrer – mesmo quando algumas vezes passei das marcas -, apelar para a sua justa glória e dizer que a sua estrela, tão honrada até aqui ( sobretudo pela opinião que de V. Ex. ª têm os estrangeir­os), está ameaçada pela maior das

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