PRENÚNCIO DE MAIS FOME E POBREZA
Ido de Benguela, desloquei-me neste início de semana ao Huambo e com alguma preocupação, constatei que o atraso na chegada das chuvas começa a deixar marcas na estabilidade alimentar e nos rendimentos das famílias camponesas mas, acredito, também nos grandes produtores agropecuários da região. E o barómetro é a redução considerável de exposição e oferta de produtos agrícolas ao longo da via e a confirmação das previsões meteorológicas, pelo menos neste momento em que escrevo. As temperaturas começam a subir de dia, mas continuam a baixar de noite. Fala- se de humidade do ar mas nada de chuvas. E já deviam estar a cair.
Será que vamos ter fome no Planalto Central? Oxalá não!
Contudo, o que me deixou mais preocupado é que, os rios cujo caudal começa a baixar estão a ser invadidos pelo negócio de lavagem de viaturas pesadas e ligeiras. Uma prática, que em boa verdade, não é nova. Mas essa actividade aumenta a poluição das águas, terá certamente grandes e graves repercussões na vida das populações que sobrevivem nas margens porque utilizam essa água para beber, para a higiene pessoal e lavagem de roupa, para confecção de alimentos, para pescar, mas também para a rega de algumas lavras e abeberamento do gado. É a sua fonte de vida. Antes que o caso tome proporções de maior gravidade, supomos que é de todo pertinente que o Ministério do Ambiente, as suas representações provinciais, os órgãos do poder local e tradicional insiram essa questão na sua agenda de prioridades e no contacto com as populações. É uma prática que se observa um pouco por todo o país, que para além dos efeitos económicos, pode colocar em risco a saúde pública, a sobrevivência de milhões de compatriotas, o ecossistema, mas também a qualidade da prestação de serviços complementares da responsabilidade do Estado. Porque os rios são também a principal fonte dos sistemas de captação que abastecem as centrais de tratamento e distribuição de água potável nos maiores centros populacionais. E como é que fica, com tantos óleos lubrificantes, combustíveis e lixo urbano a ser despejado nessas fontes de sustentação da vida humana e animal?
Mas esse é um caso que a outro nível, também se põe nas cidades. Para onde vão os lubrificantes e outros desperdícios das estações de serviço que proliferam por aí? Ou vão para a rede normal de esgotos, por si só saturada e em deficiente estado, ou é depositada em zonas da periferia, ‘ matando’ a fertilidade dos solos. Pelo volume de atropelos que se cometem todos os dias e permanecem impunes, podemos concluir que o Ministério do Ambiente é ainda uma instituição demasiado frágil, sem força suficiente para fazer vincar a sua personalidade e importância, no cômputo geral da intervenção e gestão administrativa. Provavelmente, por falta de recursos, mas também de legislação mais adaptada à nossa realidade. E cito um exemplo: alguém já fez um estudo de impacto ambiental sobre as valas que os chineses abrem ao longo ou nas imediações das obras que realizam, em estradas e construção de centralidades? Oxalá me engane, mas corremos o risco de Angola se tornar no país com mais ravinas em estado de progressão, por falta de autoridade na protecção do que é nosso, sobre quem o país paga para ter boas práticas. Enfim, a nossa eterna prática de aperto a quem é nacional, e de completa abertura a quem vem de fora.