DE BARRICA A FONSECA O MESMO MPLA DE SEMPRE
Diz a Angop que o embaixador de Angola em Portugal, Carlos Alberto Saraiva de Carvalho Fonseca, ressaltou, em Lisboa, que os principais desafios do Estado angolano passam pela erradicação da pobreza para o bem- estar da população. Há 44 anos que o MPLA diz a mesma coisa. Daqui a 56 anos continuará a dizer a mesma coisa.
Em declarações à imprensa, à margem das comemorações do 17 de Setembro, Dia do Herói Nacional do MPLA, o diplomata disse que o Executivo tem apostado na produção nacional para alavancar o desenvolvimento económico e social do país. Será desta que o Governo vai seguir o conselho dos portugueses e começar a plantar as couves com a raiz para… baixo?
Carlos Fonseca lembrou ( se o não fizesse seria exonerado “in continenti”) que a luta pelo bem comum vem da época do fundador da Nação do MPLA, Agostinho Neto, notando que, pelo seu percurso histórico e sacrifícios consentidos à pátria do MPLA, deve ser lembrado todos os dias. “Agostinho Neto deu muita coisa ao mundo, à juventude angolana, conseguiu a independência da Namíbia, apoiou os movimentos de Libertação Nacional não só de África e, por esta razão, os seus pensamentos devem ser sempre revistos”, salientou. Segundo o diplomata, as sociedades ( cleptocráticas) precisam de pessoas como Agostinho Neto, que era contra o ódio, basta ver – recordamos nós – os massacres de 27 de Maio de 1977. “Angola de hoje não é aquela que Agostinho Neto sonhou, mas é necessário que se abra o caminho (…)”, disse Carlos Fonseca. Estávamos em 2012. O então embaixador de Angola em Portugal, José Marcos Barrica, defendeu com unhas e dentes mas sobretudo com a barriga cheia, em Lisboa, a necessidade de estudo e recordação “permanente” das obras do primeiro presidente e fundador da nação do MPLA, António Agostinho Neto. Falando no termo de uma conferência intitulada “Honremos o legado de Neto, combatendo a pobreza”, organizada pela Embaixada do MPLA em Portugal por ocasião do 90 º aniversário natalício de Agostinho Neto, Marcos Barrica encorajou a contínua “difusão e divulgação do pensamento” de Neto.
Exaltando “toda uma vida sem tréguas” de Agostinho Neto, “posta ao serviço do homem angolano, do homem africano e para os cidadãos do mundo, em geral”, o embaixador Marcos Barrica adiantou que os ensinamentos de Neto “continuam sendo um capital importante”.
Segundo Marcos Barrica, “o pensamento de Agostinho Neto converte- se, hoje, numa fonte e inspiração, quer no momento revolucionário, quer no momento das reformas e consolidação da democracia em Angola”. A conferência, antecedida de uma cerimónia de deposição de coroa de flores junto de um busto de Agostinho Neto na representação diplomática de Angola em Portugal, encabeçada pelo embaixador Marcos Barrica, teve como prelector o poeta, ensaísta e crítico literário, Luís Kandjimbo. Durante a sua comunicação, com o título “Agostinho Neto: o intelectual e o político, itinerários, ideias e teoria da libertação nacional”, Luís Kandjimbo percorreu os itinerários da formação de Neto, destacando o seu intelectualismo e o pensamento político na luta da independência nacional.
Realçou o facto de “três proeminentes intelectuais nigerianos fazerem alusões ao pensamento de Neto, associando- lhe circunstâncias que convocam a condição africana”.
Luís Kandjimbo, docente e investigador em literaturas e filosofia africanas e em história da literatura angolana, citou o Prémio Nobel de Literatura de 1986, Wole Soyinka, que, em 1960, “falando da situação do escritor africano na Conferência Afro- Escandinava de Escritores, em Estocolmo, toma como exemplo Agostinho Neto, quando se refere ao contexto desumanizante vivido no século XX”.
Na altura a dirigir a Acção Cultural e Língua Portuguesa no Secretariado Executivo da CPLP, Luís Kandjimbo anotou ainda em Agostinho Neto “qualidades como audácia, orgulho e auto-estima, enquanto africano, a assunção do compromisso político e as formulações teóricas sobre a libertação e o nacionalismo, que traduzem o culminar de um longo processo de formação”.
Por uma questão de memória, recorde-se que no quadro dos festejos do 90º aniversário natalício do Agostinho Neto em Portugal, teve lugar no Porto, um colóquio similar, organizado pelo Consulado-geral de Angola na “cidade invicta”, presidido pelo professor de Literaturas Africanas na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Pires Laranjeira, contando ainda com intervenção do embaixador do MPLA em Portugal, Marcos Barrica. Para assinalar a efeméride em terras de Camões, a sede da CPLP, em Lisboa, acolheu o lançamento do livro sobre Agostinho Neto, baseado em arquivos da então polícia secreta do regime colonial português, a PIDE-DGS.
A obra “Agostinho Neto e a Luta de Libertação de Angola, 1949-1974, Arquivo PIDEDGS”, lançada pela Casa de Angola/mpla de Lisboa, retrata a personalidade político-cultural de Neto em mais de quatro mil páginas, subdivididos em cinco volumes referentes aos períodos de 1949/1960, 1961/67, 1968/70, 1971/72 e 1973/74, numa iniciativa desenvolvida pela Fundação Agostinho Neto, com a colaboração dos arquivos da Torre do Tombo (Portugal), depositários de informações da PIDE-DGS.