UM QUERIDO AMIGO DO MPLA
Robert Mugabe, presidente que se julgou ( e esteve quase) vitalício, velho e querido amigo dos seus homólogos do MPLA, José Eduardo dos Santos e João Lourenço, esteve há uns anos na ONU e disse que a culpa de tudo o que se passava no seu reino se devia às sanções económicas aplicadas pelo Reino Unido, EUA e outros países ocidentais. Recordando ( e aqui fica a lembrança para sua majestade o actual rei de Angola) que Mugabe disse em tempos que só Deus o podia tirar de presidente, não houve mesmo necessidade de haver eleições para tentar substituir Mugabe. Eleições sérias, democráticas, transparentes só fazem sentido se forem para substituir… Deus.
Angola, tal como o Zimbabué, “não tem uma ditadura”, diziam os acólitos internos do anterior “escolhido de Deus”, tal como dizem os actuais de João Lourenço, bem como alguns externos, muitos deles africanos. Todos sabiam que o regime de Eduardo dos Santos não tinha a força da razão mas tinha, e de que maneira, a razão da força. O mesmo se passa com João Lourenço. E, ao que parece, Deus sabe disso… “Numa sociedade democrática as pessoas manifestam- se, o direito à manifestação está consagrado na lei angolana. Naturalmente, toda a manifestação tem os seus limites, e a liberdade também tem as suas limitações”, afirmava reiteradamente Eduardo dos Santos, algumas vezes pela boca de um dos seus mais renomados sipaios, de nome Marcos Barrica.
Quando, em 2011, questionado sobre se as manifestações em Angola podiam ser comparadas com as contestações sociais e políticas no norte de África, José Marcos Barrica referiu que, “contrariamente ao que se diz de Angola”, no norte do continente há manifestações “que decorrem de regimes ditatoriais”.
“Angola não tem uma ditadura”, frisou. “Angola saiu de um contexto de guerra que provocou traumas que precisam ser sarados e naturalmente temos situações que criam alguma impaciência, as pessoas querem que as coisas corram rápido, para satisfazer as suas necessidades materiais e espirituais. As pessoas ficam impacientes e isso dá origem a estes desacatos”, justificou o sipaio, embora com legítimas esperanças de chegar a chefe de posto. Talvez esteja na altura de João Lourenço lhe dar uma ajuda…
Importa, contudo, recordar que foi este mesmo sipaio, José Marcos Barrica, que chefiou em Março de 2008 os observadores eleitorais da África Austral nas “eleições” presidenciais do Zimbabué.