MPLA LEGITIMOU A FRAUDE ELEITORAL EM HARARE
Na altura, certamente com toda a legitimidade e correspondendo ao seu conceito de ditadura e de democracia ( que hoje continua válido), mas contra todas as informações independentes que chegavam do Zimbabué, José Marcos Barrica afirmou que as “eleições foram uma expressão pacífica e credível da vontade do povo”.
Também à revelia das informações que chegavam do reino de Robert Mugabe, José Marcos Barrica disse que as eleições foram “caracterizadas por altos níveis de paz, tolerância e vigor político dos líderes partidários, dos candidatos e dos seus apoiantes.” Barrica não perdeu, aliás, a oportunidade para salientar que “as eleições foram realizadas contra um pano de fundo caracterizado por um clima internacional muito tenso e bipolarizado onde alguns sectores da comunidade internacional permanecem negativos e pessimistas quanto ao Zimbabué e às possibilidades de as eleições serem credíveis”. Como se viu, vê e verá, José Marcos Barrica teve, tem e terá razão quanto à democraticidade, legalidade e pacifismo do regime de Mugabe. Prova disso são as palavras de João Lourenço em Harare. Recorde- se igualmente que José Marcos Barrica considerou que “as eleições foram conduzidas numa forma aberta e transparente”, congratulando- se com o facto de a Comissão Eleitoral do Zimbabué “satisfazer os desafios administrativos de levar a cabo as eleições harmonizadas e demonstrar altos níveis de profissionalismo”.
“O grande vencedor é o povo do Zimbabué”, concluiu na altura o chefe dos observadores eleitorais da África austral nas presidenciais do Zimbabué. Embora se esconda atrás das relações entre Estados para não comentar a situação do direitos humanos em Angola, houve tempo em que o então primeiro- ministro de Cabo Verde, José Maria Neves, não se rendia às ditaduras. Mas, como sempre, mudam- se os tempos, mudam- se as vontades e permanecem os ditadores. Recorde- se que José Maria Neves afirmou que “é preciso que as eleições em todos os países africanos sejam livres e transparentes”, acrescentando que “não considero que estas eleições no Zimbabué tenham sido livres e transparentes. Espero que haja bom senso e que a democracia possa vingar no Zimbabué”.
“É preciso liberdade de expressão e de criação de partidos políticos. É isso que tem que acontecer e portanto as eleições não podem ser nenhuma farsa, têm que ser livres e transparentes”, afirmou também José Maria Neves. Questionado sobre a posição de Cabo Verde face ao novo governo do Zimbabué, o então chefe do governo declarouse “solidário com a oposição zimbabueana”, afirmando que apesar do executivo “não precisar do reconhecimento de Cabo Verde”, a comunidade internacional “não pode pactuar com atitudes desta natureza”.
Tal como agora, João Lourenço consegue ver em Angola, tal como no Zimbabué, tudo o que os outros não encontram. No caso de Robert Mugabe, também a UNITA ( à perigosa revelia das ordens superiores do MPLA) acusou a União Africana e a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral de pactuarem com a “ilegitimidade e o desrespeito das normas internacionais” ao aceitarem Robert Mugabe no seu seio como Presidente do Zimbabué.
Por outro lado, o então presidente da RENAMO, maior partido da oposição em Moçambique, Afonso Dhlakama, disse que o Governo moçambicano deveria encerrar a embaixada do Zimbabué em Maputo, em “sinal de reprovação pela postura ditatorial de Robert Mugabe”.
Também o arcebispo anglicano Desmond Tutu ( cometendo o sacrilégio de não consultar o MPLA) disse que, para além de “outros crimes”, o presidente do Zimbabué “destruiu um país lindo que até foi um celeiro da região”.
Sobre a forma de destituir Mugabe, Tutu disse: “Sim, pela força. Se lhe disserem ` demita- se’ e ele se recusar a fazê- lo, deveriam afastá- lo militarmente”.
“É tempo de Robert Mugabe partir. Penso que isso é a partir de agora uma evidência”, afirmou em tempos a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, qualificando de “farsa” as negociações sobre o acordo de partilha do poder com a Oposição, depois de uma “eleição simulada”.