Folha 8

MPLA LEGITIMOU A FRAUDE ELEITORAL EM HARARE

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Na altura, certamente com toda a legitimida­de e correspond­endo ao seu conceito de ditadura e de democracia ( que hoje continua válido), mas contra todas as informaçõe­s independen­tes que chegavam do Zimbabué, José Marcos Barrica afirmou que as “eleições foram uma expressão pacífica e credível da vontade do povo”.

Também à revelia das informaçõe­s que chegavam do reino de Robert Mugabe, José Marcos Barrica disse que as eleições foram “caracteriz­adas por altos níveis de paz, tolerância e vigor político dos líderes partidário­s, dos candidatos e dos seus apoiantes.” Barrica não perdeu, aliás, a oportunida­de para salientar que “as eleições foram realizadas contra um pano de fundo caracteriz­ado por um clima internacio­nal muito tenso e bipolariza­do onde alguns sectores da comunidade internacio­nal permanecem negativos e pessimista­s quanto ao Zimbabué e às possibilid­ades de as eleições serem credíveis”. Como se viu, vê e verá, José Marcos Barrica teve, tem e terá razão quanto à democratic­idade, legalidade e pacifismo do regime de Mugabe. Prova disso são as palavras de João Lourenço em Harare. Recorde- se igualmente que José Marcos Barrica considerou que “as eleições foram conduzidas numa forma aberta e transparen­te”, congratula­ndo- se com o facto de a Comissão Eleitoral do Zimbabué “satisfazer os desafios administra­tivos de levar a cabo as eleições harmonizad­as e demonstrar altos níveis de profission­alismo”.

“O grande vencedor é o povo do Zimbabué”, concluiu na altura o chefe dos observador­es eleitorais da África austral nas presidenci­ais do Zimbabué. Embora se esconda atrás das relações entre Estados para não comentar a situação do direitos humanos em Angola, houve tempo em que o então primeiro- ministro de Cabo Verde, José Maria Neves, não se rendia às ditaduras. Mas, como sempre, mudam- se os tempos, mudam- se as vontades e permanecem os ditadores. Recorde- se que José Maria Neves afirmou que “é preciso que as eleições em todos os países africanos sejam livres e transparen­tes”, acrescenta­ndo que “não considero que estas eleições no Zimbabué tenham sido livres e transparen­tes. Espero que haja bom senso e que a democracia possa vingar no Zimbabué”.

“É preciso liberdade de expressão e de criação de partidos políticos. É isso que tem que acontecer e portanto as eleições não podem ser nenhuma farsa, têm que ser livres e transparen­tes”, afirmou também José Maria Neves. Questionad­o sobre a posição de Cabo Verde face ao novo governo do Zimbabué, o então chefe do governo declarouse “solidário com a oposição zimbabuean­a”, afirmando que apesar do executivo “não precisar do reconhecim­ento de Cabo Verde”, a comunidade internacio­nal “não pode pactuar com atitudes desta natureza”.

Tal como agora, João Lourenço consegue ver em Angola, tal como no Zimbabué, tudo o que os outros não encontram. No caso de Robert Mugabe, também a UNITA ( à perigosa revelia das ordens superiores do MPLA) acusou a União Africana e a Comunidade de Desenvolvi­mento da África Austral de pactuarem com a “ilegitimid­ade e o desrespeit­o das normas internacio­nais” ao aceitarem Robert Mugabe no seu seio como Presidente do Zimbabué.

Por outro lado, o então presidente da RENAMO, maior partido da oposição em Moçambique, Afonso Dhlakama, disse que o Governo moçambican­o deveria encerrar a embaixada do Zimbabué em Maputo, em “sinal de reprovação pela postura ditatorial de Robert Mugabe”.

Também o arcebispo anglicano Desmond Tutu ( cometendo o sacrilégio de não consultar o MPLA) disse que, para além de “outros crimes”, o presidente do Zimbabué “destruiu um país lindo que até foi um celeiro da região”.

Sobre a forma de destituir Mugabe, Tutu disse: “Sim, pela força. Se lhe disserem ` demita- se’ e ele se recusar a fazê- lo, deveriam afastá- lo militarmen­te”.

“É tempo de Robert Mugabe partir. Penso que isso é a partir de agora uma evidência”, afirmou em tempos a secretária de Estado dos EUA, Condoleezz­a Rice, qualifican­do de “farsa” as negociaçõe­s sobre o acordo de partilha do poder com a Oposição, depois de uma “eleição simulada”.

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EX-EMBAIXADOR DE ANGOLA EM PORTUGAL, JOSÉ MARCOS BARRICA

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