SIM, NÃO, TALVEZ, ANTES PELO CONTRÁRIO
Já este ano a consultora Fitch Solutions referiu que os esforços teoricamente reformistas de João Lourenço “são cruciais para melhorar o crescimento económico a médio e longo prazo, limitando o risco de perturbações sociais”, mas alertava que até lá chegar existiam sérios riscos de instabilidade social a curto prazo.
A 8 de Janeiro a Fitch Solutions tinha dito a mesma coisa, pelo que é previsível que daqui a três ou quatro meses volte a repetir a análise… e assim sucessivamente. Nesse dia esta mesma consultora disse que a “agenda reformista” do Presidente de Angola ia ganhar fôlego este ano, melhorando a confiança dos investidores, mas alertava para as tensões que podem surgir no partido e no eleitorado. Em Maio a Fitch Solutions salientava ainda que Angola tem uma pontuação de 55,9 pontos no Índice de Risco Político, o que, comparada com a média de 49 pontos da África subsaariana, é “elevado pelos padrões regionais”. “Os esforços sobre uma reforma estrutural significativa que estão a ser dados sob a liderança do novo Presidente de Angola, João Lourenço, sugerem um futuro brilhante para Angola, apesar de, a curto prazo, as reformas poderem aumentar a instabilidade dentro do MPLA ou enfrentar problemas na implementação”, escreviam, repetindo- se, os analistas.
Numa nota sobre Angola a médio e longo prazo, enviada aos clientes, estes analistas diziam que esta “potencial perturbação social” pode aumentar a incerteza dos investidores sobre a direcção política.
Contudo, vincavam que “estes esforços são cruciais para melhorar as perspectivas de crescimento económico a médio e longo prazo, limitando o risco de perturbações sociais”. Num tom elogioso ( quase parecendo uma encomenda) para com o Governo de João Lourenço, os analistas escreveram, no entanto, que Angola enfrenta vários desafios, e elencavam a fragmentação dentro do partido do Governo desde 1975, o MPLA, a corrupção, o desemprego e a desigualdade como as principais ameaças e desafios à estabilidade.
“Não podemos excluir o risco de uma luta de poder entre diferentes facções no MPLA na próxima década, o que pode influenciar as decisões políticas”, escreveram os analistas, notando que “muitos membros do partido beneficiaram fortemente da presidência de José Eduardo dos Santos e estas figuras podem opor- se abertamente à mudança e formar um grupo para preservar os interesses económicos e políticos que têm”. Sobre a corrupção, a Fitch Solutions dizia que, apesar das decisões mediáticas relativamente aos apoiantes do antigo Presidente, incluindo um dos filhos, “não é de esperar que a corrupção seja erradicada na próxima década, já que construir instituições fortes que consigam prevenir adequadamente a má governação e o clientelismo vai demorar tempo”. Além disto, concluíam, “também há o perigo de as medidas anticorrupção perderem o fôlego se a liderança política não quiser parecer demasiado punitiva por receio de fragmentação”.
Em Janeiro, numa outra nota enviada aos investidores sobre a perspectiva de evolução económica de Angola, os analistas alertavam que “as medidas destinadas a melhorar o ambiente de concorrência e a consolidação orçamental, num contexto de fragilidade económica, têm o potencial de aumentar as tensões entre os membros do partido no poder, que podem tornar- se mais resistentes às reformas, bem como o eleitorado”.
Para estes analistas “as medidas planeadas para melhorar o panorama da concorrência empresarial e a dinâmica orçamental, que deverão ser implementadas nos próximos trimestres, têm potencial para ser mais politicamente sensíveis do que as medidas aplicadas em 2018”.
Como exemplo apontavam a privatização de algumas empresas públicas, que “podem aumentar as tensões entre João Lourenço e o MPLA”, no poder desde 1975, devido às “redes de favorecimento” que existiam no tempo do anterior Presidente, muitas das quais beneficiaram da conivência do então vice- presidente e ministro da Defesa, o mesmo João Lourenço.
A Fitch Solutions alertava ainda para a possibilidade de o descontentamento público aumentar devido às medidas de consolidação orçamental: “O descontentamento da sociedade civil tem sido relativamente silencioso desde que Lourenço sucedeu a José Eduardo dos Santos em 2017, com a sua campanha anticorrupção a receber apoio de grande parte do eleitorado”. No entanto, acrescentavam, “apesar das promessas de um milagre económico, a economia de Angola manteve- se numa longa recessão durante três anos devido à descida no ciclo do petróleo, e a previsão para um regresso de 2,2% de crescimento positivo este ano ainda está abaixo da média de 4,5% entre 2010 e 2015”.