Folha 8

A BIENAL DA (RE)SOLUÇÃO DE CONFLITOS

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Aresolução de conflitos ( em África) é um problema de todos os africanos e Angola quer partilhar experiênci­as e trazer contributo­s para este debate na Bienal de Luanda, disse o secretário de Estado da Cultura angolano, Aguinaldo Cristóvão. A não- violência foi um dos temas de destaque na Bienal de Luanda – Fórum Pan- Africano para a Cultura de Paz que termina no 22.09, em Luanda. Em África “temos alguns problemas relacionad­os com conflitos, temos violência, mas estes problemas não podem ser vistos de modo estanque”, disse Aguinaldo Cristóvão, sublinhand­o que a resolução dos conflitos deve ser partilhada por todos os africanos. “A resolução da violência na África do Sul não pode ser vista apenas como um problema da África do Sul; é um problema nosso, enquanto africanos. É um problema da região”, reforçou. Aguinaldo Cristóvão indicou que o Estado angolano “tem uma experiênci­a em matéria de resolução de conflitos muito importante”, que quer partilhar, e uma filosofia de apoio aos outros países, tentando “encontrar mecanismos de desenvolvi­mento conjunto”, tendo sido esta uma das razões por que decidiu acolher a Bienal de Luanda.

A fazer fé na “partilha” de resolução de conflitos que o Governo do MPLA ( o único que o país teve desde 1975) praticou internamen­te, de que são exemplos os massacres de 27 de Maio de 1977 e a Batalha do Cuito Cuanavale, todo o cuidado é pouco.

A Bienal teve vários fóruns de reflexão onde foram discutidos vários temas, como “os desafios” que se colocam à juventude, propondo soluções relacionad­as com criativida­de, inovação e empreended­orismo, bem como “boas práticas” trazidas por outros países, disse o mesmo responsáve­l.

Os fóruns incidiram também sobre a resolução de conflitos, “que é o principal objectivo”, reforçou Aguinaldo Cristóvão, focando ainda o Fórum da Mulher, onde foi abordado o papel da mulher na implementa­ção de soluções, sendo necessário “criar condições para que as mulheres tenham melhores ferramenta­s para educar os seus filhos e famílias”. Se calhar a criação basilar seria que as nossas crianças não fossem geradas com fome, nascessem com fome e morressem pouco depois com… fome. Talvez os nossos 20 milhões de pobres possam dar uma ajuda.

O secretário de Estado sublinhou ainda que vários

dos conflitos que ocorrem no continente africano “radicam num problema de identidade cultural” e relacionam- se com o facto de “não olhar o outro encarando a diferença neste mesmo olhar”. É verdade. Veja- se o caso de Angola onde coabitam pacificame­nte os verdadeira­mente angolanos ( os que são do MPLA) e os outros… “A Bienal assume que os desafios para o desenvolvi­mento dos países exigem que, cada vez mais, haja uma parceria sólida entre os próprios países. Estamos a falar da necessidad­e de haver um maior conhecimen­to entre os próprios países africanos, entre os próprios cidadãos e isso pode ser facilitado com eventos como a Bienal” que visa facilitar o relacionam­ento entre países e regiões, reforçou o responsáve­l angolano.

“Nós não temos um corredor cultural que permita ligar o continente africano e neste momento, a Bienal de Luanda é o primeiro evento que está a criar esta parceria. É feita para os países e com os países”, prosseguiu Aguinaldo Cristóvão. A Bienal de Luanda – Fórum Pan- Africano resultou de uma decisão dos chefes de Estado da União Africana “que acharam que havia necessidad­e de promover um mecanismo, a nível do continente africano” que se centrasse numa abordagem sobre a não- violência e a resolução de conflitos com base no diálogo, recordou.

O desafio “foi assumido pela UNESCO”, que formalizou em Dezembro de 2018 um acordo com o executivo angolano para a realização da Bienal em 2019 e 2021. Aguinaldo Cristóvão admite que venha a realizar- se uma terceira edição, “dependendo da avaliação dos resultados” dos eventos anteriores. O Governo angolano investiu 512 mil dólares ( cerca de 463 mil euros) no projecto e Aguinaldo Cristóvão estava confiante no retorno da iniciativa, enfatizand­o a promoção da cultura angolana ( a do MPLA, como é timbre) e do próprio turismo, “elementos muito fortes” e “com uma grande margem de sustentabi­lidade”.

A oferta hoteleira na baixa de Luanda esteve praticamen­te ocupada a 100%, salientou. Se a essa percentage­m se adicionar o número de semi- angolanos que, com raro sentido de oportunida­de e já tarimbados no assunto, passaram a pente fino os caixotes do lixo das principais unidades hoteleiras… O evento contou com mais de 800 delegados provenient­es de todo o mundo que se juntaram a outros mil participan­tes nacionais, directamen­te envolvidos na Bienal de Luanda, que decorreu no Memorial Agostinho Neto ( aí está o reconhecim­ento da resolução de conflitos versus 27 de Maio), na Fortaleza de São Miguel ( Museu Nacional de História Militar) e no Centro de Convenções de Talatona. Foram convidados 14 países e Portugal teve um pavilhão próprio, contando com a presença do ministro dos Negócios Estrangeir­os, Augusto Santos Silva, na cerimónia de abertura oficial.“A relação histórico- cultural que existe entre Angola e Portugal torna indispensá­vel a presença de um e de outro nos eventos que cada um realiza”, afirmou Aguinaldo Cristóvão. Além do pavilhão no Fórum das Culturas, Portugal teve uma exposição, promovida pela Fundação Calouste Gulbenkian, sobre o património histórico de origem portuguesa no mundo, que esteve patente no Museu Nacional de História Natural de Angola. “Todos os dias, os diferentes países tiveram a possibilid­ade de apresentar as suas manifestaç­ões culturais”, referiu o secretário de Estado da Cultura. A Bienal teve como focos temáticos a juventude, paz e segurança, a criativida­de, empreended­orismo e inovação, num festival de culturas, que inclui cinema, música, artes plásticas e visuais, teatro, dança, moda, design, banda desenhada, jogos vídeo, poesia, literatura, tradição oral e artesanato.

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SECRETÁRIO DE ESTADO DA CULTURA ANGOLANO, AGUINALDO CRISTÓVÃO
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