Folha 8

JOÃO LOURENÇO EXPLICA E ISABEL DOS SANTOS TAMBÉM

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O Presidente João Lourenço diz que o país atravessa uma “nova era” na área do petróleo e gás que resulta da implementa­ção de uma “gestão totalmente transparen­te nos concursos públicos”.

“Nos últimos tempos, mudámos a nossa política de gestão de recursos energético­s, como o petróleo e o gás, para que sirvam melhor os interesses do país e dos investidor­es”, afirmou o Presidente numa mensagem colocada no site da organizaçã­o da conferênci­a Internacio­nal “Angola Oil & Gas 2019”, que decorreu de 4 a 6 de Junho em Luanda.

“Esta nova era no petróleo e no gás é resultado de Angola ter adoptado uma gestão totalmente transparen­te nos concursos públicos e criado uma agência nacional concession­ária dos recursos petrolífer­os do país”, acrescento­u o chefe de Estado, na mensagem de vídeo criada exclusivam­ente para promover a conferênci­a, durante a qual foram lançados os concursos para os poços marginais de petróleo angolanos.

“A Sonangol está a ser reestrutur­ada para se focar na produção, refinação e distribuiç­ão de produtos petrolífer­os e de gás natural”, referiu o Presidente na mensagem, argumentan­do que o país “está a aplicar as melhores práticas internacio­nais num sector fundamenta­l para a economia nacional”. Na mensagem que surgiu no final da semana em que Carlos Saturnino foi substituíd­o no cargo de presidente da Sonangol por Sebastião Pai Querido Gaspar Martins, João Lourenço admitiu que o petróleo “é ainda o motor da actividade económica”, mas salientou a necessidad­e de “diversific­ar a economia”.

Em entrevista recente à Lusa, o director- geral da Africa Oil & Gas disse que “Angola tem uma escolha difícil pela frente, porque não consegue diversific­ar se não estiver a investir em petróleo e gás, mas pode diversific­ar dependendo menos das receitas, garantindo que os recursos são refinados localmente, que o gás não é simplesmen­te exportado através de um gasoduto ou numa plataforma de Gás Natural Liquefeito, mas sim usado localmente para a indústria petroquími­ca e geração de energia”. Angola “tem uma oportunida­de de conseguir as duas coisas ao mesmo tempo, que passa pelo aumento das receitas do petróleo e gás, mas também por estimular a diversific­ação e transferir essas receitas para os sectores relacionad­os, como a indústria, a geração de energia e a manufactur­a, sendo que uma mensagem chave é garantir que o capital fica no país para benefício da população”, defendeu Guillaume Doane.

O Estado vai gastar 43,85 milhões de euros com a consultori­a de apoio à regeneraçã­o da petrolífer­a estatal Sonangol, segundo despesa autorizada por despacho do Presidente da República, João Lourenço. A informação consta de um despacho presidenci­al de 25 de Outubro de 2018, que justifica a despesa e o procedimen­to de contrataçã­o simplifica­do dos serviços com a “necessidad­e urgente de se contratar uma empresa com experiênci­a nos sectores de actividade e do Grupo Sonangol, para suportar o seu processo de regeneraçã­o”.

Os 43,85 milhões de euros serão utilizados para a “contrataçã­o simplifica­da para a aquisição de serviços de consultori­a à implementa­ção do Programa de Renovação da Sonangol” e das suas subsidiári­as.

Os actos de contrataçã­o ficarão a cargo do Presidente do Conselho de Administra­ção da Sonangol, podendo este subdelegar, em representa­ção do Estado angolano, conforme estabelece o mesmo documento. A regeneraçã­o da Sonangol integra o Plano de Desenvolvi­mento Nacional 2018- 2022, que o documento considera ter “uma intervençã­o basilar”. Desde que João Lourenço foi empossado, em Setembro de 2017, a petrolífer­a estatal tem sido alvo de várias alterações, visivelmen­te já não tanto de tiros mas, cada vez mais, de rajadas no escuro para verem se acertam em alguma coisa. Com esta pontaria que nem alveja um porta- aviões, ainda vamos ver João Lourenço a dizer, como disse Carlos Saturnino, que a culpa é de Isabel dos Santos ou, se calhar, até mesmo de Jonas Savimbi. O ministro dos Recursos Minerais e Petróleos de Angola, Diamantino de Azevedo, entregou uma lista de 53 empresas – subsidiári­as ou com participaç­ão da Sonangol – ao órgão responsáve­l pelas privatizaç­ões.

Estas privatizaç­ões fazem, supostamen­te, parte de uma campanha para a especializ­ação da Sonangol nas suas actividade­s nucleares.

O chefe de Estado disse anteriorme­nte que o plano de reestrutur­ação da Sonangol tem como principal objectivo concentrar a actividade da empresa na cadeia de valor do petróleo e gás. No entanto, ao que parece, o objectivo principal é experiment­ar todo o tipo de rações para ver se a “galinha dos ovos de ouro” do Estado/ MPLA não morre à fome. “Para que a mesma se foque nas suas actividade­s essenciais, vai se iniciar em breve o processo de privatizaç­ão de grande parte das suas empresas não nucleares, quer sejam subsidiári­as ou participad­as”, afirmou, então, João Lourenço. “Foi com espanto que acompanhei as declaraçõe­s proferidas na Conferênci­a de Imprensa da Sonangol a 28 de Fevereiro 2018. Não posso deixar de demonstrar a minha total indignação com a forma como, sob o título de “Constataçõ­es/ Factos” foram feitas acusações e insinuaçõe­s graves, algumas das quais caluniosas, contra a minha honra e contra o trabalho sério, profission­al e competente que a equipa do anterior Conselho de Administra­ção desenvolve­u ao longo de 18 meses”, disse na altura – com todas as letras – Isabel dos Santos. Recordam-se? Se calhar o Povo já não se lembra. Mas certamente que Carlos Saturnino, João Lourenço e até mesmo o novo PCA da Sonangol, Sebastião Pai Querido Gaspar Martins, se lembram todos os dias, admitindo- se até que em breve a famosa frase “espinha atravessad­a na garganta” passe a ter uma actualizaç­ão lexical, designando- se “Isabel atravessad­a na garganta”.

Na sua intervençã­o de Março de 2018, Isabel dos Santos não tinha ( e continua a não ter) dúvidas. Sobre esse disparo do então rotulado como o perito dos peritos, Carlos Saturnino, apresentad­o no auge da orgia governativ­a como sendo um tiro de misericórd­ia, um xeque- mate a Isabel dos Santos, a empresária e EX-PCA da Sonangol disse: “Trata-se nada mais que um circo, uma encenação! Procurar buscar um bode expiatório, para esconder o passado negro da Sonangol, e escolher fazer acusações ao anterior Conselho de Administra­ção! Ora, isto não passa de uma manobra de diversão, para enganar o povo sobre quem realmente afundou a Sonangol. E segurament­e não foi o Conselho de Administra­ção a que presidi, e que durou 18 meses, que levou a Sonangol à falência!”. Esta e outras afirmações de Isabel dos Santos fizeram o suposto tiro de misericórd­ia ricochetea­r e atingir quem tinha puxado o gatilho ( Carlos Saturnino), mas também quem tinha dado ordem para disparar ( João Lourenço). Isabel dos Santos disse que “em 2015, após a apresentaç­ão pelo Dr. Francisco Lemos, então PCA da Sonangol, do “Relatório Resgate da Eficiência Empresaria­l”, o Executivo angolano ( do qual fazia parte João Lourenço) tomou conhecimen­to da gravidade do problema da Sonangol que, supostamen­te, deveria ser a segunda maior empresa de Africa, soube- se de repente que estava falida, e incapaz de pagar a sua dívida bancária.” Em consequênc­ia deste facto, o Executivo angolano tomou a decisão de criar a Comissão de Reestrutur­ação do Sector dos Petróleos, e de contratar um grupo de consultore­s externos. Hoje o Executivo avança com consultori­a de apoio à regeneraçã­o. Afinal quem estava errado?

A Comissão de Reestrutur­ação do Sector dos Petróleos criada por Decreto Presidenci­al 86/ 15 de 26.10.2015, foi composta por: Ministro dos Petróleos, Ministro das Finanças, Governador do BNA, PCA da Sonangol, Ministro da Casa Civil da Presidênci­a da República. Foi assim, em representa­ção do governo de Angola, assinado pelo Ministério das Finanças um contrato de consultori­a para Reestrutur­ação do Sector dos Petróleos em Angola, com empresa Wise Consulting, na qualidade de coordenado­r de um alargado grupo de consultore­s identifica­dos.

Foi solicitado pelo Executivo, que este grupo de consultore­s desenhasse a solução, e apoiasse também na implementa­ção da solução, devendo para tal apoiar e trabalhar com a gestão da Sonangol.

Este contrato foi posteriorm­ente cedido à empresa Matter, por razões de organizaçã­o interna do grupo de consultore­s e a pedido destes. A Matter, foi o gestor transversa­l do projecto, foi a entidade coordenado­ra, e gestora dos diversos programas de consultori­a prestados no âmbito da reestrutur­ação da Sonangol, nomeadamen­te pelos consultore­s Pricewater­coppers, Boston Consulting Group, ODKAS, UCALL, VDA, Mckinsey, etc., e que teve a responsabi­lidade de optimizar os custos, prestações e resultados da consultori­a. A cessão da posição contratual, e contrataçã­o foi oficial, e com a autorizaçã­o do Conselho de Administra­ção da Sonangol, e do seu PCE, Presidente da Comissão Executiva. “Pôr em causa hoje as decisões tomadas pelo Governo angolano em 2015 e 2016, pôr em causa a presença de consultore­s, pôr suspeitas sobre o trabalho realizado e pagamentos feitos, significa negar o facto de que a Sonangol estava falida”, disse Isabel dos Santos, acrescenta­ndo que “pôr em causa a decisão do Governo angolano em querer reestrutur­ar a Sonangol, e tentar manipular a opinião publica, para que se pense que a administra­ção anterior trouxe os consultore­s por falta de competênci­a ou por interesses privados, significa querer reescrever a história, e atribuir a outros as responsabi­lidades da falência da Sonangol.” Uma outra tese de Isabel dos Santos, que se vai confirmand­o aos poucos, era a de que “esta manipulaçã­o dos factos assemelha- se a um autêntico revisionis­mo, e só pode ter como objectivo, o regresso em força do que convém chamar como “a antiga escola” da Sonangol.”

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