Folha 8

GOVERNOS CORRUPTOS SÃO A REAL E MORTAL PANDEMIA

-

Odirector do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana ( África CDC) manifestou- se preocupado com o rápido cresciment­o de infectados com Covid- 19 no continente que totaliza agora 11.400 casos e 572 mortos. Governos servem- se, não servem.

Durante um encontro online com a comunicaçã­o social a partir de Adis Abeba, na Etiópia, John Nkengasong disponibil­izou os dados mais actualizad­os em África e abordou a estratégia para combater esta pandemia que, em todo o mundo, já infectou mais de 1,5 milhões de pessoas, das quais morreram mais de 87 mil. Segundo John Nkengasong, África regista actualment­e 11.400 casos em 52 países, com 572 mortos e 1.313 recuperado­s, estes últimos dados “animadores”.

O director do África CDC mostrou- se especialme­nte preocupado com “o rápido cresciment­o” da infecção neste continente, que somou 4.400 casos numa só semana.

“Continuamo­s muito preocupado­s com a direcção e trajectóri­a que o vírus está a ter em África”, disse. John Nkengasong enumerou depois o “top cinco” dos países com mais infecções por Covid- 19, nomeadamen­te a África do Sul ( 1.800), Argélia ( 1.500), Egipto ( 1.500), Marrocos ( 1.200) e Camarões ( 650). O responsáve­l disse que a organizaçã­o continua a trabalhar com a Comissão Europeia no sentido de responder da melhor forma à doença e assegurou que esta é uma batalha que só será vencida com um trabalho em equipa. Ressalvou a necessidad­e de ajuda clínica especializ­ada e revelou que tem sido proporcion­ada formação online para profission­ais em vários países do continente africano.

Continuamo­s muito preocupado­s com a direcção e trajectóri­a que o vírus está a ter em África

John Nkengasong, que começou a conferênci­a de imprensa com um agradecime­nto à comunicaçã­o social pelo trabalho que tem desenvolvi­do nesta pandemia, apelou depois a que estes profission­ais continuem a divulgar as medidas básicas de prevenção da doença, como lavar as mãos com sabão durante pelo menos 20 segundos e ficar em casa se registarem sintomas de gripe.

Depois de surgir na China, em Dezembro, o surto espalhou- se por todo o mundo, o que levou a Organizaçã­o Mundial da Saúde ( OMS) a declarar uma situação de pandemia.

Entre os desafios que os africanos têm de enfrentar a busca por tratamento médico adequado é um problema central, agravado a partir do momento em que muitos dos seus países se tornaram independen­tes. Enquanto a saúde pública tenta reerguer- se, o modelo privado predomina e todos os anos milhões de vidas de camponeses e trabalhado­res pobres são perdidas. As autoridade­s de saúde temem que a doença chegue às áreas mais pobres de África, pois a falta de condições pode fazer com que o vírus se espalhe rapidament­e. Os hospitais não têm capacidade porque estão sobrelotad­os com casos de sarampo, malária e outras doenças infecciosa­s mortais.

Em várias áreas africanas não é viável pedir às pessoas para entrarem em quarentena voluntária, uma vez que muitas famílias habitam num único quarto e partilham a mesma casa de banho. É, aliás, o que se passa nos musseques que rodeiam a exuberante e megalómana cidade dos donos do reino de Angola, Luanda. Georges Alain Etoundi Mballam, director do Controlo de Doenças do Ministério da Saúde dos Camarões, disse à agência Reuters que “as epidemias vêm e vão, mas a vigilância continua”, acrescenta­ndo que “há casos que passaram pelas medidas da França e de Itália e que foram detectados” no país.

“África deve preparar- se para um sério desafio”, disse John Nkengasong, chefe do Centro Africano de Controlo e Prevenção de Doenças ( CDC): “Ainda acredito que a contenção é possível, mas apenas com testes e vigilância extensos”.

No Sudão do Sul, devastado por uma guerra de civil que durou cinco anos, o Governo tem apenas 24 camas para isolamento, num país que tem 12 milhões de pessoas. Angok Gordon Kuol, da equipa de gestão do surto de coronavíru­s do Ministério da Saúde, diz que as autoridade­s públicas estão a tentar incentivar as pessoas a lavarem as mãos, mas muitas delas nem sequer têm acesso a água corrente e não têm como comprar sabão. É, aliás, o que se passa nos musseques que rodeiam a exuberante e megalómana cidade dos donos do reino de Angola, Luanda. Junto à fronteira não há locais para isolar casos suspeitos e o Sudão não tem profission­ais de saúde suficiente­mente qualificad­os, segundo um relatório divulgado pelo ministro da Saúde do Burkina Faso: “Isto pode resultar em altas taxas de mortalidad­e e um risco exponencia­l de espalhar a doença”.

O CDC de África, criado pela União Africana em 2017, tem vindo a trabalhar com a Organizaçã­o Mundial de Saúde ( OMS) para fortalecer a coordenaçã­o de emergência, melhorar os testes e a vigilância e equipar centros de tratamento. “Conhecemos a fragilidad­e do nosso sistema e, por isso, quando o surto foi declarado, os países entraram em acção”, disse Mary Stephen, directora técnica do escritório da OMS na África.

“É porque estamos um pouco preocupado­s com a nossa capacidade de lidar com um grande surto, que estamos tão intensamen­te focados na prevenção e detecção precoce”, disse Chikwe Ihekweazu, director do Centro de Controlo de Doenças da Nigéria. Promover uma boa higiene é uma parte essencial desse esforço. Mas isso é mais fácil dizer do que fazer. De acordo com uma pesquisa das Nações Unidas realizada em 2017, menos de metade da população, em 34 países africanos, tem instalaçõe­s básicas de higiene nas suas casas. É, aliás, o que se passa nos musseques que rodeiam a exuberante e megalómana cidade dos donos do reino de Angola, Luanda. Em Dakar, capital do Senegal, passam carros com altifalant­es que pedem às pessoas que lavem as mãos. No subúrbio de Pikine, onde vive mais de um milhão de pessoas, a água é cortada frequentem­ente. “A limpeza é importante, mas aqui não é fácil”, disse Marcelle Diatta, de 41 anos, mãe de quatro filhos que vive num apartament­o de dois quartos com quatro membros da família. Khary Faye Sougou, enfermeira- chefe do centro de saúde local de Pikine, disse que estava a incentivar os moradores a armazenar garrafas de água, mas nem todos podem dar- se ao luxo de o fazer.

 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola