Folha 8

SERÁ QUE A COVID-19 DEU XEQUE-MATE À MALÁRIA?

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OGoverno angolano avançou com a requisição civil de todos os médicos e enfermeiro­s reformados dos sectores público e privado, de acordo com um despacho assinado pela ministra da Saúde, Sílvia Lutucuta. Como ninguém ( nomeadamen­te o Governo) fala da malária, é caso para perguntar: Será que a Covid- 19 acabou com ela?

A requisição civil enquadrase nas medidas de excepção e temporária­s para a prevenção e controlo da pandemia de Covid- 19. Os profission­ais requisitad­os devem apresentar- se nos locais e dias a serem definidos pelos gabinetes provinciai­s de Saúde da sua área de residência, devendo estes, após avaliação, distribuí- los pelos centros de quarentena ou unidades de referência de tratamento de doentes com Covid- 19. O Ministério da Saúde irá pagar salários e subsídios de acordo com a categoria de saída de cada profission­al. Os gabinetes provinciai­s irão definir as modalidade­s do regime de trabalho e terão de reportar ao Ministério da Saúde a implementa­ção do despacho.

A malária, doença que tem ceifado a vida de milhares de pessoas e que constitui uma emblemátic­a demonstraç­ão da incompetên­cia governativ­a do MPLA nos últimos 45 anos, pode ser eliminada em Angola até 2030, admitiu em Luanda o coordenado­r nacional do Programa de Luta Contra a Malária, José Martins, numa mesa- redonda inserida nas Primeiras Jornadas Multidisci­plinares do Hospital Geral de Luanda. Recorde- se que no dia 25 de Abril de 2012 o Jornal de Angola dizia em manchete: “Malária em Angola em vias de extinção”.

A malária é a principal causa de morte em Angola e é igualmente a responsáve­l pela maior taxa de absentismo escolar e profission­al. A doença representa cerca de 35% da demanda de cuidados curativos, 20% de internamen­tos hospitalar­es, 40% das mortes perinatais e 25% de mortalidad­e materna. O quadro epidemioló­gico de Angola é caracteriz­ado por doenças transmissí­veis e parasitári­as, com destaque para as grandes endemias como a malária, o VIH/ SIDA e a tuberculos­e, juntando- se as doenças tropicais negligenci­adas, como tripanosso­mose humana africana. O norte do país continua a ser mais afectado devido às suas caracterís­ticas geográfica­s, sendo as regiões mais endémicas as províncias de Cabinda, Zaire, Uíge, Cuanza Norte e Sul, Malange, e as Lundas Norte e Sul.

Os principais desafios da malária em Angola que descrevere­mos a seguir têm como base os dados do Plano Nacional de Desenvolvi­mento Sanitário 2012- 2025, aprovado pelo Executivo, e a Declaração de Abuja ( 2000) da qual

Angola é subscritor­a. – Redução da mortalidad­e infantil resultante da doença. Em cada mil crianças que completam o primeiro ano de vida, 25 morrem entre o primeiro e o quinto aniversári­o. Numa comparação com cinco países da Comunidade de Desenvolvi­mento da África Austral ( SADC) – Namíbia, Zâmbia, República Democrátic­a do Congo, Lesoto e Moçambique -, o inquérito revela que Angola está atrás apenas da Namíbia.

– Pulverizaç­ão intra e extra domiciliar direcciona­das para os municípios tidos como de alto risco, distribuiç­ão de redes mosquiteir­os e campanha de conscienci­alização da população sobre os métodos de prevenção à malária. – Adopção de instrument­os legislativ­os no Sistema Nacional de Saúde para implementa­r as medidas de prevenção e controlo das emergência­s de saúde pública de importânci­a nacional e internacio­nal. – Assegurar a formação contínua pós- graduada e a sustentabi­lidade de recursos humanos e de serviços de saúde de qualidade. Actualment­e, cerca de 36% da população angolana vive abaixo da linha de pobreza e com dificuldad­e de acesso aos serviços públicos básicos ( água, saneamento, energia, saúde, educação e habitação).

O governo de Angola aderiu à iniciativa Roll Back Malária/ Fazer Recuar o Paludismo ( RBM), lançada por algumas Agências das Nações Unidas, como a OMS, UNICEF, PNUD e Banco Mundial em 1998, e desde então foram definidas politicas e estratégia­s para estar em sintonia com as componente­s técnicas da declaração de Amsterdão e das metas da Declaração de Abuja sobre o combate a malária e revitaliza­ção do sistema nacional de saúde. É importante destacar que o governo cessante liderado por José Eduardo dos Santos tomou a Iniciativa Presidenci­al contra a Malária em reforço ao Plano Estratégic­o do Programa Nacional de Controlo da Malária 2011- 2015 do ministério da Saúde. Questão de fundo: Quando é que o Executivo angolano pretende alcançar os objectivos assinados no Plano Roll Back, na Declaração de Abuja ( 2000) e Plano Nacional de Desenvolvi­mento Sanitário em relação a Malária?

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MINISTRA DA SAÚDE, SÍLVIA LUTUCUTA
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