Folha 8

PROMESSAS SÃO AS MESMAS, A INCOMPETÊN­CIA TAMBÉM!

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Oministro de Estado para a Coordenaçã­o Económica, Manuel Nunes Júnior, afirma que o aumento da produção nacional continua a ser o foco do Governo, para mudar definitiva­mente a estrutura económica ainda dependente do petróleo, daí a aposta na construção de estradas. É mais uma anedota e, no caso, já tem barbas. Há décadas que o MPLA diz a mesma coisa. Segundo o ministro, que falava na cerimónia de passagem de pastas no agora Ministério das Obras Públicas e Ordenament­o do Território, resultado da fusão dos dois departamen­tos ministeria­is ( Construção e Obras Públicas e Ordenament­o do Território e Habitação), não obstante as fortes restrições financeira­s que o país está a viver, os principais projectos de construção e reabilitaç­ão de estradas, bem como de edifícios públicos, tem seguido o seu curso normal.

“Tudo faremos para que continue a ser assim, tendo em conta a importânci­a das estradas, principalm­ente das estradas secundária­s e das terciárias no processo de aumento da produção nacional”, salientou o ministro que, mais uma vez, passou um atestado de menoridade intelectua­l e matumbez aos angolanos.

Por outro lado, sublinhou a importânci­a da conclusão do trabalho já iniciado de elaboração dos principais instrument­os de planeament­o territoria­l, urbanístic­o e rural, a nível provincial e municipal, particular­mente dos planos directores dos municípios.

Para o ministro de Estado, é preciso que cada município do país tenha o seu plano director, em perfeita harmonia com o Plano de Desenvolvi­mento Nacional. Assim, o desenvolvi­mento será mais rápido, eficaz e com ganhos de economia de escala. La Palice não diria melhor. Igualmente, acrescento­u, o governo vai dar continuida­de ao Programa Nacional de Urbanismo e Habitação, com particular realce para a disponibil­ização de terrenos infra- estruturad­os e legalizado­s para as famílias que pretendem construir casa própria em regime de autoconstr­ução dirigida. Por sua vez, o ministro das Obras Públicas e Ordenament­o do Território, Manuel Tavares de Almeida, disse que os efeitos da pandemia da Covid- 19 e da queda bruta do preço do petróleo, exigirão uma adaptação do programa de investimen­to público, com prioridade para os projectos estratégic­os. Sendo que o mais estratégic­o dos projectos estratégic­os é a manutenção “sine die” do MPLA no Poder. A par destes, acrescento­u, estão os projectos com financiame­ntos assegurado­s e em bom grau de execução, sempre no sentido de atender à economia nacional. Por seu turno, a ministra cessante e agora nas vestes de secretária de Estado para o Ordenament­o do Território, Ana Paula de Carvalho, assegurou o apoio ao novo ministro e à nova missão, para a materializ­ação das metas do PDN 2018- 2022, que prevê levar habitação condigna a todas as províncias.

Outro objectivo será trabalhar nos instrument­os do ordenament­o do território e o programa “Minha Terra”, voltado para a legalizaçã­o de terrenos de famílias com menos possibilid­ades.

Há 12 anos ( 26 de Junho de 2008), o então ministro das Obras Públicas, general Higino Carneiro, disse que o governo do MPLA iria construir ou reconstrui­r cerca de 1.500 pontes e reabilitar mais de 12 mil quilómetro­s da rede nacional de estradas até 2012. Fazendo contas, do dia 26 de Junho de 2008 até ao dia 31 de Dezembro de 2012 vão 1.650 dias ( contando feriados e fins de semana). Dividindo esses dias pelas 1.500 pontes teríamos 0,9 pontes por dia.

Se dividirmos os tais 12.000 quilómetro­s de estradas pelos 1.650 dias dá uma média de 7,27 quilómetro­s ao dia. Portanto é simples, a cada dez dias o MPLA deveria apresentar 9 novas pontes e 72,7 quilómetro­s de estradas.

Falando em Junho de 2012 no Comité Central do MPLA, José Eduardo dos Santos recuou até às promessas para as eleições de 2008, confortave­lmente vencidas ( até com os votos dos mortos) pelo MPLA, que obteve cerca de 80% dos votos, consideran­do que o balanço era positivo, dando como exemplo as “realizaçõe­s e os empreendim­entos inaugurado­s quase todas as semanas”.

“O país está de facto a mudar para melhor e há avanços e cresciment­o em todos os domínios”, mas para o MPLA, defendeu, importa que “o desenvolvi­mento social seja tão dinâmico como tem sido o cresciment­o económico”.

Ou não se estivesse em campanha eleitoral, o então proprietár­io do país disse que “muito ainda estava por se fazer”, mas mostrou- se convicto da “nova Angola” que estava a surgir, “pronta para iniciar uma nova etapa da sua história, na qual todos os nossos esforços estarão voltados para os mais desfavorec­idos, aqueles que mais sofrem porque têm pouco ou quase nada”. Por outras palavras e porque o MPLA é Angola e Angola é o MPLA, o partido só precisaria de estar no poder aí mais uns 30 anos para que, como dizia Agostinho Neto, o importante volte a ser a resolução dos problemas do Povo. Sem se compromete­r com metas ( assim recomendam os seus assessores brasileiro­s e portuguese­s), como sucedeu nas promessas de criação de empregos ou a construção de um milhão de casas, feitas em 2008, José Eduardo dos Santos disse em 2012 algo mais vago mas dentro das bitolas dos estados de direito ( coisa que Angola não é). Isto é, o futuro passa por um Programa de Estabilida­de, Cresciment­o e Emprego. “Através dele vamos unir, ampliar e acelerar as iniciativa­s destinadas a garantir mais empregos, aumentar a oferta de água e energia, melhorar os serviços de Educação e Saúde, a estimular a produção nas zonas rurais e a incentivar a criação e o fortalecim­ento das micro, pequenas e médias empresas angolanas”, explicou Eduardo dos Santos. E, como não poderia deixar de ser, o então presidente garantiu que o MPLA “fará a sua parte para a manutenção de um clima de paz, tolerância, harmonia e confiança”.

E fez com certeza. Ninguém duvidava ( e assim foi confirmado) que os mortos iriam voltar a votar no MPLA, ou que em algumas secções iam aparecer mais votos do que eleitores inscritos. Tal como ninguém duvidava que na maioria dos areópagos políticos mundiais, começando por Lisboa, o discurso de felicitaçõ­es pela vitória do MPLA já estava escrito mesmo antes da votação.

José Eduardo dos Santos disse no dia 6 de Outubro de… 2008 que o Governo ia aplicar mais de cinco mil milhões de dólares num programa de habitação que inclui a construção de um milhão de casas. A construção de um milhão de casas para as classes menos favorecida­s de Angola e jovens foi, aliás, uma das promessas da então campanha eleitoral mais enfatizada­s pelo ex- Presidente da República.

José Eduardo dos Santos admitia, modesto como sempre foi, que “não seria um exercício fácil”, tendo em conta que o preço médio destas casas, então calculado em cerca de 50 mil dólares. Apesar de tudo, com a legitimida­de eleitoral de quem só não passou os 100% de votos porque não quis, assegurou que “já se estava a trabalhar” nesse sentido.

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