CIDADELA À BEIRA DO “ABISMO”
Nos dias que correm, é cada vez mais comum ouvir- se, entre os agentes desportivos e membros da sociedade civil, indagações sobre o eventual futuro do mítico Estádio Nacional da Cidadela, há várias décadas voltado ao abandono. Para quem conheceu o passado glorioso daquele que foi o principal palco do futebol angolano, desde os primórdios da independência nacional, em 1975, custa crer que o velhinho estádio se tenha transformado num “gigante quase adormecido”.
Ainda que não se queira aceitar, torna- se doloroso descrever, hoje, a imagem da Cidadela Desportiva, marcada por fissuras e rachaduras, que, de tão acentuadas e perigosas, põem em risco a sobrevivência daquela infra- estrutura desportiva. Inaugurado em Junho de 1972, o estádio, localizado no distrito do Rangel, em Luanda, apresenta uma imagem interior e exterior que dá dó a todos quanto testemunharam, de perto, ou acompanharam à distância, via rádio e televisão, os maiores “trumunos” ( jogos) do nosso futebol.
O seu actual estado de degradação obriga a uma séria reflexão em relação ao futuro.
A falta atempada de manutenção dessa infra- estrutura histórica, que nunca chegou a ser concluída, já levou o Governo a ponderar sobre a sua requalificação ou demolição. Reinaugurado a 10.12.1981, por ocasião do extinto Jogos dos Países da África Central, em que Angola se mostrou ao mundo como uma nação sedenta de desporto, o estádio já sofreu algumas obras de benfeitorias. Todavia, o projectado Complexo Desportivo nunca chegou a ser concluído, sendo que parte dos edifícios de apartamentos ficou por acabar, durante anos. Na sequência, foram marginalizados e posteriormente interditados.
De igual modo, a piscina olímpica da Cidadela nunca saiu do papel, dando lugar a uma torre em construção, cujo objecto social nunca foi conhecido publicamente.
Em 2006, com Marcos Barrica, então à frente do Ministério da Juventude e Desportos, foi considerada a possibilidade de deitar abaixo o monumento, questão levada a debate na Assembleia Nacional, tendo- se, então, optado pela manutenção. Nessa altura, por razões de segurança, devido às fissuras registadas nos pilares de sustentação, o segundo anel do campo foi interditado pela Confederação Africana de Futebol ( CAF), mantendo- se a situação até aos dias de hoje.
Em Dezembro de 2019, chegou a ser criada uma Comissão Interministerial para estudar e decidir sobre o fim a dar ao imóvel. Mas, ao cabo de cinco meses, continua- se sem se saber os resultados da avaliação técnica e o destino a dar à Cidadela Desportiva.
Desde a primeira tentativa, em 2006, são passados 14 anos, mas não foram observadas as necessárias medidas de preservação, sendo a ideia de implosão novamente levantada pelo Ministério de tutela, agora liderado por Ana Paula do Sacramento Neto.
Enquanto se esperam pelos resultados do estudo, algumas “variantes” já podem começar a ser cogitadas, entre os homens do desporto, os políticos e os adeptos do futebol.
Conforme especialistas em construção civil, o actual quadro da Cidadela, construída numa lagoa, decorre da falta de manutenção periódica, situação que se repete com as infra- estruturas erguidas por ocasião do Campeonato Africano “Angola2010”.
É o caso dos estádios 11 de Novembro ( Luanda - capacidade para 50 mil espectadores), Ombaka ( Benguela - 35 mil), Tundavala ( Huíla - 25 mil) e Chiazi ( Cabinda - 20 mil), que passam por tentativas de recuperação, 10 anos depois da sua construção.
Assim, a decisão da demolição ou requalificação do imóvel está, então, nas mãos da Comissão Interministerial, integrada por quadros dos ministérios da Juventude e Desportos, Interior, Construção e Obras Públicas e do Laboratório de Engenharia.