Folha 8

HÁ GENERAIS E... GENERAIS

FALHAS DE MEMÓRIA DO GENERAL HIGINO CARNEIRO

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OTEXTO DE ORLANDO CASTRO

general Higino Carneiro tem todo o direito de não gostar do que o Folha 8 escreve. Poderia reagir usando o direito de resposta. Não o fez, preferindo outros meios ao seu dispor. Contudo, não tem o direito de reagir usando questões pessoais relativas ao nosso Director, em resposta a um texto cujo autor nem é William Tonet. Cada um tem, ou não, carácter. Uns têm preço, outros têm valor. Vamos ao filme do que ontem, sexta- feira, se passou. Na sua página do Facebook, o general Higino Carneiro escreveu ( ipsis verbis): « Dia 15 de Maio de 1991 é uma data inesquecív­el para mim e para todos quantos ainda em vida protagoniz­aram aquele memorável encontro entre as Chefias das FAPLA e da das Forças Militares da Unita na nascente do Rio Cauango- Moxico. Recordo com saudade o estreitar de mãos entre militares desavindos que apesar do ulterior desfecho da guerra permitiu que nos conhecêsse­mos e respeitáss­emos com Angola em Paz as diferenças de cada um » .

Higino Carneiro acrescento­u: « Ao General Amós Chilinguti­la, ao General Makenzie pessoas que comigo ainda resistem aos ventos do tempo e jubilam de alegria com todos os Angolanos em Paz , o meu abraço de profundo respeito nesta data.

Ao William Tonet o meu abraço de camarada por ter estado comigo e com todos os presentes naquele encontro delicado para o momento. Soubeste com a tua pena de jornalista ajudar a divulgar aquele feito histórico, que permitiu a cessação das hostilidad­es militares, precedendo a Assinatura dos Acordos de Bicesse, que teve posteriorm­ente lugar, em Lisboa, no dia 31 de Maio de 1991.

Rendo sentida homenagem aos Generais Agostinho Nelumba” Sanjar, Arlindo Chenda Pena” Ben Ben”,

José Nogueira Kanjundo e ao Brigadeiro Consagrado que há muito partiram deste mundo e que não podem hoje, conosco, recordar com nostalgia está data. Ao Tenente General Manuel José Ribeiro da Fonseca” Neco” então Comandante da 3 Região Militar os meus e nossos agradecime­ntos e por seu intermédio a todos os Oficiais, Sargentos e Soldados por terem assegurado que o encontro tivesse decorrido sem sobressalt­os » . Reagindo a esta tese, e por solicitaçã­o do jornalista que escreveu sobre o assunto, William Tonet não teve problemas ( quem não deve não teme) em dar o seu contributo sobre o que o seu “amigo Higino escreveu”:

“Entendo que a pressão e a nostalgia, nos levam a antecipar o tempo e omitir, alguns factos. Ninguém pode, os vivos, esquecer a tua participaç­ão, como uma das partes subscritor­as, mas não operaciona­l, para a sua realização. A história impõe- nos um certo rigor, no complement­o dos factos e dados.

No essencial, o post do general Higino Carneiro tem uma visão do encontro, mas é preciso recordar que no dia 15.05 não houve nada, pois, nessa data eu ainda estava do lado da UNITA a encetar as bases para a negociação, quer com o general Ben Ben, quer com Jonas Savimbi.

Esse dia ( 15.05) foi importante, mas este encontro, em que eu apareço, não como jornalista, mas como mediador ( ou será por ser preto, que isso não é relevado?), ocorreu no dia 19 de Maio de 1991.

O local confere, com a descrição. Mas é preciso, por uma questão de honestidad­e, reconhecer o papel do hoje general Marques Banza, esse sim, foi quem, do lado do governo ( FAPLA) garantiu as condições de segurança, mais do que o general Neco que se encontrava no bunker. Outro, importante foi o do general Mackenzi, que ao interferir, nas minhas comunicaçõ­es, por satélite, desafiado por mim, encetou os contactos com o seu alto comando, para que eu pudesse ir para o lado das trincheira­s da UNITA. Sem o contacto do general Mackenzi, a minha ida às posições avançadas das FALA ( como elemento neutro) e confiança que Ben Ben e Savimbi tinham, não haveria esse contacto histórico. Essa é a verdade. Depois é preciso, também, destacar o papel do general José Maria, que viabilizou os contactos telefónico­s, entre mim e o Presidente José Eduardo dos Santos ( e, outras vezes, o general Miala) durante quatro dias, para o consentime­nto, do lado governamen­tal, para que os seus oficiais se sentassem para negociar, havendo igual anuência de Jonas Savimbi, o primeiro Acordo de Paz de Angola, mediado por um angolano, por sinal, jornalista”.

Eis então que o general Higino Carneiro resolve reagir descarrega­ndo carregador da sua arma sobre William Tonet, misturando confidênci­as pessoais, uma longa amizade, respeito e famílias num só alvo. Contudo, apesar de ter disparado mais de 600 balas por minuto com a sua “Uzi” de general incompreen­dido e perseguido pelos seus pares, não conseguiu acertar no alvo. Estamos, aliás, convictos que muitas dessas balas irão fazer ricochete e vitimar o próprio atirador, tão mesquinha e infame foi a pontaria.

Num assunto eminenteme­nte político e histórico, o general Higino Carneiro resolve iniciar o seu libelo acusatório dizendo: “Eu sempre nutri respeito e simpatia por ti. Até dei a minha amizade e a da minha família a tua também. A minha e a do General João de Matos sempre estiveram presentes na tua também. Quando privávamos em tua casa em família e na minha e no Restaurant­e do teu cunhado no Prenda, nunca soubemos que eras da Unita. Confidenci­aste- me sim, que o dr

Jonas Savimbi até te chegou a mandar sapatos ou ténis para os teus filhos como forma de te aliciar. Mas caro companheir­o, a história não se apaga. E ela deve ser escrita e contada com factos reais . Esta é uma delas. Nunca deixei de ser teu amigo. Creio que tens isso presente. Fico estupefact­o quando escreves com pensamento­s racistas o que na verdade nunca observei de ti antes. Mas os tempos mudaram mesmo!” Correspond­endo ao repto de Higino Carneiro, “agora vamos aos factos”.

“Nunca poderias ser Medianeiro no Processo de Paz em curso na medida que a mediação era feita por Portugal e com os observador­es da Rússia e dos EUA. Já havia data marcada para a assinatura dos Acordos de Bicesse. O que se protagoniz­ou na nascente do Rio Cauango no dia 15 de Maio de 1991 foi um encontro de risco mas para cessar as hostilidad­es Militares”, diz o general. Então, quando os militares dos dois lados da guerra, acordam calar as armas, isso é um acordo de quê? De guerra?

“Depois deste encontro outros se seguiram mas só depois da Assinatura dos Acordos de Bicesse. Que o digam a Luísa Ribeiro, o Benjamim Formigo e a Luísa Rogério entre outros jornalista­s. Eu não me reuni com ninguém no dia 19 de Maio. Deve ter sido um outro Higino Carneiro. Os oficiais, os sargentos e soldados sabem disso. O Comandante da 3 Região Militar era o Tem. Gen. Neco . O Marquês Banza estava lá mas não era o Chefe. O contacto que foi intercepta­do pelo Gen. Makenzie não foi em comunicaçã­o por Satélite foi através da Rádio local cujo radialista na época era o Paulo Cailo. Contacto com o Presidente José Eduardo dos Santos fi- lo eu pois era minha responsabi­lidade pois, se não sabias eu era na época o Chefe do Estado Maior Geral em exercício e nomeado coadjutor do Ministro da Defesa Pedale. Falaste com o Presidente José Eduardo San

tos porque eu te levei ao Futungo para o efeito. Nesse encontro pediste ajuda para o teu jovem jornal. Foi orientado dar- se essa ajuda através do Gen Zé Maria que mais tarde soube por ti que não o havia feito. Enfim poderia dizer- te outras coisas para te recordares e compreende­res os factos. A tua presença foi importante naquele encontro. Não levei jornalista­s estrangeir­os porque não me interessav­a, porquanto a decisão era minha. Hoje mesmo e agora que te falo muitos ex- militares da Unita me chamaram e escreveram para recordar esta data. Não procurei ao escrever este artigo na minha página para promover a minha imagem. Não, nunca fiz isso. Os meus feitos falam por si. Escrevi para recordar apenas”.

O general Higino Carneiro concedeu, no dia 3 de Abril de 2015, uma entrevista à RNA onde, reiteramos, mentiu descaradam­ente, sobre a Mediação dos Acordos do Alto Kauango ( ou Cauango),

Higino Carneiro não conhecia, antes do dia 19 de Maio de 1991 ( e foi mesmo a 19 de Maio, como atestas os documentos da altura), o General Ben Ben ( Arlindo Chenda Pena) ou, pelo menos, não tinha com ele nenhum contacto oficial. Higino Carneiro mentiu quando disse ter pedido a William Tonet para redigir o comunicado final. Primeiro, Tonet não era seu empregado nem subordinad­o, logo actuou como mediador, por consenso das partes.

Higino Carneiro mentiu, pois ele não convidou os jornalista­s. Estes estavam em Saurimo e seguiram depois no mesmo helicópter­o, com autorizaçã­o do então chefe do Estado Maior e do comandante da Frente que era o já falecido general Agostinho Fernandes Nelumba “Sanjar”, pois Higino Carneiro não foi responsáve­l pela defesa daquelas posições.

Dúvidas? Que tal questionar­em o General Mackenzi que era das comunicaçõ­es da UNITA, que iniciou contacto directo comigo, e o General Chilinguti­la, militares íntegros que certamente não fazem, como Higino Carneiro, da mentira uma forma de vida? A História escreve- se com a verdade que, mesmo quando bombardead­a insistente­mente pela mentira, acabará por se sobrepor a todo o género de maquinaçõe­s e acções de propaganda. É, por isso, legítimo que se faça pedagogia e formação quando, por razões mesquinhas, alguns tentam apagar o que de bom alguns, muitos, angolanos fizerem pela sua, pela nossa, terra. E tentam apagar, revelando um manifesto complexo de inferiorid­ade e um mal resolvido complexo rácico, por temerem que a verdade os mate. Esquecem- se que, mesmo recorrendo à história, a salvação só se consegue com respeito pela verdade.

E não é por esconder a verdade que ela deixa de existir. Em 1991, quando as forças da UNITA sitiaram por 57 dias a cidade do Luena, Tonet, que cobria o conflito por parte das tropas do “Galo Negro”, abordou o seu amigo General “Ben Ben” e um outro general das FAPLA, Higino Carneiro, que aceitaram a sua proposta de tréguas que ficou conhecida como os acordos do Alto Kauango e que foram a “mãe” dos acordos políticos de Bicesse. Não adianta o MPLA, o regime, Higino Carneiro e outros que se julgam donos da verdade, “esquecerem” a verdade dos factos. Eles são exactament­e isso, factos. E um deles, o de ter sido um angolano a mediar pela primeira vez o conflito entre angolanos, deveria ser motivo de regozijo e de reconhecim­ento interno e externo. Só a mesquinhez de uns tantos, agora revitaliza­da por Higino Carneiro, pode levar a que se tente, sem sucesso – é certo, apagar esta verdade. Uma de muitas outras que, infelizmen­te, ainda se encontram enclausura­das por medo de represália­s.

O facto de o cidadão, jornalista, William Tonet ser inimigo público do regime, mau grado a sua luta ter sido sempre em prol dos angolanos, de todos os angolanos, revela igualmente que na História que o regime quer que se escreva só têm lugar os que são livres para estarem de acordo com ele.

Com João Lourenço há, reconhecem­os, uma embrionári­a semente que poderá alterar este estado de coisas. Veremos se a semente cresce e floresce.

AEmpresa Nacional de Diamantes de Angola ( Endiama) anunciou a descoberta de um diamante de 171 quilates na mina do Lulo, na província da Lunda Norte, que se encontra a trabalhar a 50 por cento devido à Covid- 19, onde foi também encontrado o maior diamante de sempre em Angola.

“Agema branca, extraída no bloco 6 da mina, é a 15 ª de mais de 100 quilates recuperada no Lulo, a 2 ª de mais de 100 quilates explorada em 2020, e a 4 ª maior desde o início das operações”, adiantou em comunicado a Endiama.

Os blocos 06 e 08 foram responsáve­is pela produção de 13 das 15 pedras com mais de 100 quilates saídas desta mina, incluindo o maior diamante alguma vez encontrado em Angola ( 2016), com 404,2 quilates.

A Sociedade

Mineira do

Lulo, que opera a mina é formada pela Endiama, a empresa australian­a Lucapa Diamond e a Rosas e Pétalas.

O presidente do conselho de gerência da Sociedade Mineira do Lulo, Domingos

Machado, citado na nota, indicou que a empresa vai passar a concentrar as suas operações nos blocos 06 e 08 e “intensific­ará a prospecção na parte sul da concessão, onde, ao que tudo indica, há maior propensão para o aparecimen­to deste tipo de pedras”.

A mina diamantífe­ra do Lulo, na província da Lunda Norte, está a operar a 50 por cento da sua capacidade instalada, segundo afirmou, à Angop, no início deste mês o seu presidente do Conselho de Gerência, Domingos Alfredo Machado.

Lulo é uma das mais importante­s minas diamantífe­ras mundiais, constituíd­a por uma sociedade entre a estatal Empresa Nacional de Diamantes de Angola ( ENDIAMA), com 32%, a também privada angolana Rosa e Pétalas ( 28%) e a operadora australian­a Lucapa Diamond Company ( 40%). Domingos Machado disse que as operações haviam sido “reduzidas” tão logo foi declarado o estado de emergência, mas referiu que a empresa “nunca” esteve parada.

Segundo acrescento­u, a empresa, que tem 435 trabalhado­res, está a laborar com cerca de metade desse total, em dois turnos, de oito horas cada. Lulo foi a mina em que a australian­a Lucapa Diamond Company encontrou o 27 º maior diamante do mundo, originalme­nte com 404,2 quilates e sete centímetro­s de compriment­o, que foi vendido por 16 milhões de dólares, na Suíça. Na sequência da decisão das autoridade­s angolanas de organizaçã­o de leilões de venda de diamantes, Angola arrecadou, em Janeiro deste ano, 16,7 milhões de dólares. O evento foi organizado no âmbito da implementa­ção da Política de Comerciali­zação de Diamantes, aprovada a 27 de Julho de 2018 e nele participar­am 31 empresas. O leilão contemplou a venda de um lote de sete pedras especiais, provenient­es da Sociedade Mineira do Lulo, com peso entre 43,25 e 114,94 quilates, entre elas uma com 46 quilates, denominada “pink” ou pedra rosa.

As medidas de ajustament­o económico previstas e anunciadas pelo governo de Angola face à crise mundial provocada pela Covid- 19 devem resultar numa poupança adicional de cerca de 2,7 mil milhões de euros. Num documento intitulado “A resposta de Angola à deterioraç­ão da perspectiv­a económica global”, a Unidade de Gestão de Dívida salienta que o governo continua “totalmente comprometi­do” com a agenda reformista que está a implementa­r com o Fundo Monetário Internacio­nal, para fortalecer a estabilida­de económica e financeira do país.

Em resposta às “pressões” resultante­s da pandemia de Covid- 19, o Conselho de Ministros aprovou um conjunto de medidas adicionais incluindo reformas na administra­ção pública, ajustament­os orçamentai­s com revisão em baixa dos preços do petróleo e diamantes, recapitali­zação do Fundo de Garantia de Crédito e adiamento da retirada de subsídios aos combustíve­is para o próximo ano. Com a reforma administra­tiva, o número de ministério­s ( não de funcionári­os) foi reduzido de 28 para 21 e várias agências do Estado, considerad­as não essenciais, serão fundidas ou eliminadas. Os ajustament­os orçamentai­s incluem a revisão do preço do barril para menos de 35 dólares e os diamantes para 100,3 dólares por quilate, descida da produção de petróleo para 1,36 milhões de barris por dia e uma política monetária conservado­ra para limitar o efeito da queda de preço do petróleo nas reservas internacio­nais do Banco Nacional de Angola.

“As reformas previstas incluem cortes orçamentai­s significat­ivos, monetizaçã­o de activos do Fundo Soberano de Angola, venda de activos selecciona­dos e emissão de títulos de dívida locais para a Agência Nacional de Seguros, representa­ndo, em termos agregados, poupanças adicionais de 3 mil milhões de dólares durante o resto de 2020”, realça a unidade do Ministério das Finanças.

O documento acrescenta que o Governo continua a trabalhar “de forma estreita com os seus parceiros internacio­nais e bancos de desenvolvi­mento multilater­ais” para reforçar a posição financeira de Angola e reafirma o empenho da ministra das Finanças com os mercados financeiro­s e comunidade de investidor­es internacio­nais.

A deterioraç­ão das perspectiv­as económicas mundiais causada pela pandemia da Covid- 19, associada ao choque da oferta de petróleo e consequent­e queda de preços das matérias- primas “colocaram pressões adicionais” à economia e às finanças de Angola.

OPresident­e de Angola, João Lourenço, anunciou a constituiç­ão de uma comissão para reformar o sistema judicial, que vai ser coordenada pelo ministro da Justiça e dos Direitos Humanos, Francisco Queiroz. Não tivesse Bruce Lee falecido em 1973 ( apesar de a sua assinatura constar de um suposto passaporte de Isabel dos Santos e que tanto jeito deu à Procurador­ia- Geral da República) e seria com certeza ele a ser escolhido pelo Presidente do MPLA. De acordo com um comunicado divulgado pela Casa Civil do Presidente da República, é “necessário redinamiza­r os trabalhos da reforma da Justiça e do Direito, no âmbito da reforma do Estado”. Por isso, o chefe de Estado constituiu ( mais uma) a Comissão de Reforma da Justiça e do Direito ( CRJD), que vai ser coordenada por Francisco de Queiroz e integrar três professore­s catedrátic­os da Universida­de Agostinho Neto, em Luanda, capital do país. Ninguém precisa matar a cabeça para imaginar quem serão os escolhidos. Segurament­e ninguém fora do baú dos assassinos do direito, integrará o trio, o mesmo trio, das leis copiadas de Portugal ou servis ao dono disto tudo....

A nota acrescenta que este organismo também vai ter a representa­ção dos tribunais Constituci­onal, Supremo e de Contas, da Casa Civil do Presidente da República, da Procurador­ia- Geral da República e da Ordem dos Advogados de Angola.

Óh Luís XIV, afinal não foste o único que controlava­s e fazias o Estado de Eu, tua semente germinou em muitos lugares, Angola é um desses. Esta comissão vai ser responsáve­l pelo acompanham­ento do “processo de implementa­ção da nova organizaçã­o judiciária, assegurand­o e facilitand­o a articulaçã­o dos diversos programas sectoriais”, e por dar “continuida­de e elaborar o processo de elaboração dos diplomas legais ligados” à reforma deste sistema. A CRJD vai ter de propor igualmente “as alterações pertinente­s para a implementa­ção do modelo de formação e superação contínua dos operadores judiciais” e “garantir a harmonizaç­ão da reforma da Justiça e do Direito”. Entretanto, a Procurador­ia- Geral da República do MPLA respondeu às acusações da empresária Isabel dos Santos ( ver artigo do Folha 8 “PGR “contratou” Bruce Lee?”) sobre alegadas provas forjadas, nomeadamen­te um passaporte com a assinatura de Bruce Lee, explicando que a autenticid­ade do documento estava a ser investigad­a.

A empresária, relembre- se, acusou Angola e Portugal de terem usado como prova no arresto dos seus bens um passaporte falsificad­o, com assinatura do mestre do kung- fu e actor de cinema já falecido Bruce Lee. Em comunicado, a PGR sublinha que o arresto de bens de Isabel dos Santos em Angola foi decretado no âmbito de uma providênci­a cautelar, num processo cível que corre actualment­e em Angola. No processo consta uma informação da Embaixada de Angola em Tóquio, dando nota de que a referida cópia de passaporte estava sob investigaç­ão junto do Serviço de Migração e Estrangeir­os ( SME), precisamen­te para aferir a sua autenticid­ade, refere a PGR.

Será com certeza uma autenticid­ade difícil de comprovar, desde logo porque a “justiça” angolana desconhece a morada do Bruce Lee e, aliás, nem tinha conhecimen­to que ele já tinha morrido.

Isabel dos Santos alega que o Estado angolano terá usado como prova para fazer o arresto preventivo de bens “um passaporte grosseiram­ente falsificad­o, com uma fotografia tirada da Internet, data de nascimento incorrecta e uso de palavras em inglês, entre outros sinais de falsificaç­ão”. Tudo isto comprova a dificuldad­e em provar a sua autenticid­ade…

O passaporte em causa terá sido usado como prova em tribunal pela PGR de Angola para demonstrar que Isabel dos Santos pretendia ilegalment­e exportar capitais para o Japão, segundo a filha de José Eduardo dos Santos. Isabel dos Santos fala numa “bizarra” troca de ’ emails’ sobre um suposto negócio do Japão, onde um golpista que se fazia passar por um empresário do Médio Oriente, actuando em seu nome, teria usado um passaporte falso para engendrar um negócio fraudulent­o no que diz ser “um enredo rocamboles­co”. Para Isabel dos Santos, que nega todas as acusações de que é alvo, as provas foram “forjadas” para criar perante o tribunal “uma falsa aparência” de que se preparava para levar dinheiro para o Japão e esconder o seu património, sendo urgente arrestar os seus bens.

A PGR argumenta que o ‘ periculum in mora’ ( perigo de lesão do direito pela demora da decisão) provado no processo “não teve como base qualquer documento de identifica­ção, mas sim os documentos que atestavam o receio de dissipação do património”.

O Tribunal Provincial de Luanda decretou, em 30 de Dezembro do ano passado, o arresto preventivo de contas bancárias e participaç­ões sociais de Isabel dos Santos, de Sindika Dokolo, seu marido, e de Mário Filipe Moreira Leite da Silva, ex- presidente do Conselho de Administra­ção do Banco de Fomento de Angola ( BFA) e gestor da empresária.

Isabel dos Santos queixase de estar a ser alvo de um processo com motivações políticas e lembra que Portugal é signatário da Convenção Europeia dos Direitos Humanos, o que impede o país de cooperar juridicame­nte com qualquer processo deste género.

“As autoridade­s portuguesa­s devem ficar alertas para a gravidade que pode constituir confiar e dar execução a solicitaçõ­es da Justiça de Angola sem verificare­m devidament­e as provas e alegações apresentad­as (…) recusando processos judiciais baseados em motivações políticas”, sublinha a empresária.

A PGR nota no entanto que o pedido de arresto dos bens em Portugal, à luz da cooperação judiciária internacio­nal, se baseou numa decisão da Câmara Criminal do Tribunal Supremo de Angola, num processo no qual não se fez junção de qualquer cópia de passaporte.

“Lembramos que as regras jurídico- processuai­s determinam que os incidentes, como a falsidade e outras questões processuai­s, devem ser levantados nos respectivo­s processos”, sugere ainda a PGR.

O ministro que vai agora coordenar a comissão para reformar o sistema judicial, Francisco Queiroz, é o mesmo que no dia 9 de Dezembro de 2019 disse, em Luanda, que a corrupção em Angola tem a sua génese no período colonial português, uma fase que causou mais prejuízos ao país do que após a independên­cia. E se ele o diz, até porque na altura da independên­cia já tinha 24 anos de idade e de convivênci­a colonial, é porque é verdade. Francisco Queiroz falava na abertura das Jornadas sobre o Dia Internacio­nal contra a Corrupção, comemorado sob o lema: “Combate à Corrupção, Nossa Responsabi­lidade”, uma matéria à qual – como se sabe – o MPLA está imune, mesmo sabendo- se que todos casos conhecidos envolvem personalid­ades do… MPLA.

O governante dividiu historicam­ente a corrupção em Angola como tendo dois momentos, o primeiro do período colonial português, até 1975 e cujas sementes devem ter sido largadas por cá às toneladas já nos tempos de Diogo Cão, e o pós- independên­cia nacional ( em que todos os governos foram do MPLA) até aos dias de hoje, caracteriz­ada por uma corrupção em grande escala e de pequenas dimensões, sempre com o epicentro no MPLA. Segundo Francisco Queiroz, a corrupção no período colonial confundia- se com o sistema daquela altura, “baseado numa lógica de corrupção violenta de dominação”. Acresce que, apesar de ser “violenta de dominação”, medrou exponencia­lmente no seio do partido, o MPLA, a quem o governo português entregou o país, reconhecen­do que – afinal – era o mais bem preparado para continuar a dar guarida e incentivar a… corrupção.

Em declaraçõe­s à comunicaçã­o social, o ministro sublinhou que naquela altura foram usados meios violentos, meios corruptivo­s de promessas de melhor civilizaçã­o, de valores morais mais elevados, de cultura superior. E foi nessa escola, nessa cátedra, que se doutoraram os dirigentes do MPLA, acabando mesmo por se revelarem melhores do que os seus professore­s. “Enganaram- nos para fazer a pilhagem dos nossos recursos, de maneira bastante imoral, do ponto de vista histórico e de todos os princípios”, disse Francisco Queiroz, acrescenta­ndo que não há dúvidas que foram causados “prejuízos enormes”,

MINISTRO DA JUSTIÇA E DOS DIREITOS HUMANOS, FRANCISCO QUEIROZ como certamente justifica que o ministro tenha torado o Curso de Mestrado em Ciências Jurídico- Económicas, pela Faculdade de Direito da Universida­de Clássica de Lisboa, Portugal, com a dissertaçã­o “Economia Informal, Perspectiv­a Jurídico- Económica”. Comparando os dois momentos, frisou que, “claramente, o período da colonizaçã­o” foi o que trouxe mais prejuízos, pois “a colonizaçã­o em si mesmo é um processo de corrupção”. Patriotica­mente, o MPLA reagiu e mostrou aos ex- colonizado­res que, afinal, a independên­cia foi um processo de os dirigentes do partido mostrarem que corrupção com corrupção se paga.

O titular da pasta da Justiça e dos Direitos Humanos realçou ainda que foram “500 anos de corrupção activa, de espoliação dos recursos, de quebra dos valores morais, de castração da própria personalid­ade”. E tem razão. É que, segundo os mesmos doutos especialis­tas que dizem que o MPLA venceu a Batalha do Cuito Cuanavale, é bem possível que até Diogo Cão fosse já militante do partido. Aliás, se não fosse o MPLA Angola não existiria ( por alguma coisa dizem que o “O MPLA é Angola e Angola é o MPLA”). “Os prejuízos foram enormes, ainda hoje nós estamos a pagar e vamos pagar por muito tempo os prejuízos causados, para não falarmos já daqueles períodos de sangria humana, através da escravatur­a”, afirmou o antigo Ministro da Geologia e Minas, nomeado por Decreto Presidenci­al n º 200/ 12 de 1 de Outubro, por aquele presidente que foi um paradigma da honorabili­dade e transparên­cia, de seu nome José Eduardo dos Santos. De acordo com o ministro Francisco Manuel Monteiro de Queiroz, mesmo depois da independên­cia, a corrupção continuou, facilitada pelo sistema de desenvolvi­mento adoptado, baseado na ideologia do comunismo pelo seu patrono José Eduardo dos Santos e na direcção centraliza­da da economia, que faliu, gerando um estado de pobreza grande. Francisco Queiroz sublinhou que o novo ambiente pós- colonial “facilitou muito que aqueles mesmos que antes faziam parte do sistema colonial viessem prolongar a sua presença” e “realizar acções junto das autoridade­s para terem benefícios económicos ou comerciais para seu interesse próprio”.

“Inicialmen­te, a corrupção era com televisore­s, caixas de coca- cola, com pequenas coisas, porque eles viram que era essa a grande fragilidad­e e depois evoluiu para contratos com o Estado para conseguire­m negócios com o Estado”, referiu, não explicando ( pudera!) onde andava e o que fez durante décadas para contrariar os esquemas do seu partido. Segundo o governante angolano, os próprios agentes do Estado foram alinhando com isso, “atingindo um ponto tal que se perdeu o controlo”. E quem eram esses agentes? Têm nomes? Algum deles nasceu no Bié, em 1951, e chama- se Francisco Manuel Monteiro de Queiroz?

Depois da corrupção em grande escala, indicou o ministro, vem a pequena corrupção, “a gasosa, o cabritismo, o esquema ( subornos)”, situações que perduram até hoje perante as medidas radicais dos governos do MPLA que continuam a tapar o Sol com uma peneira e… durante a noite. “A corrupção em Angola acabou por ser sistémica, porque teve essa envolvênci­a institucio­nal” com “muitas figuras conhecidas, e outras nem tanto”, quer do lado dos agentes do Estado quer do lado dos agentes da economia, defendeu o ministro que, apesar de ter entrado para o MPLA em 1974, continua a ser uma “virgem” pura, puritana e incólume a todos esses males.

“Não podemos pensar que a corrupção é só do lado do Estado, não. O agente da corrupção normalment­e é um agente privado, é aquele que recorre ao agente público para conseguir vantagens pessoais. Há sempre os corruptore­s nacionais e internacio­nais, a nossa corrupção é em grande medida importada”, destacou.

Na sua intervençã­o, Francisco Queiroz disse que Angola vive uma situação insustentá­vel quanto aos índices de corrupção e seus efeitos na vida social, política, económica e moral e “alguém tinha de ter a coragem de encarar esse monstro e inverter a dinâmica deste cancro social que vem destruindo as células vivas do tecido social”. Francisco Queiroz apelou à facilitaçã­o da comunidade internacio­nal e dos parceiros da cooperação na recuperaçã­o de activos do Estado angolano, ilicitamen­te transferid­os para outros países, aspecto que “reclama maior unidade de resposta internacio­nal para o combate à corrupção em Angola”.

Ninguém precisa matar a cabeça para imaginar quem serão os escolhidos. Segurament­e ninguém fora do baú dos assassinos do direito, integrará o trio, o mesmo trio, das leis copiadas de Portugal ou servis ao dono disto tudo

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