Folha 8

LIMPA-NEVES E SIMILARES

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Em 2011, o Ministério Público português estava a investigar uma alegada burla gigantesca ao Estado angolano, supostamen­te cometida por empresário­s portuguese­s com ligações a elementos angolanos do Banco Nacional de Angola. Em causa estavam mais de 300 milhões de euros em pagamentos do BNA para produtos que nunca chegaram a Angola, alguns completame­nte fictícios, como limpa- neves. A maioria dos pagamentos saiu de uma conta do Estado angolano no Banco Espírito Santo de Londres. O alarme soou quando o banco comunicou que a conta estava quase a zero. Dizer que o regime angolano, liderado, recorde- se, por um partido que está no poder há 45 anos sem que nunca nenhum dos presidente­s da República tenha sido nominalmen­te eleito, é contra todas as formas de luta que ponham em causa a sua cleptocrac­ia, é chover no molhado. Ninguém se preocupa com isso.

Afirmar que os níveis de corrupção existentes em Angola superam tudo, conforme relatórios de organizaçõ­es internacio­nais e nacionais credíveis, é uma verdade que a comunidade internacio­nal reconhece mas sem a qual não sabe viver.

Aliás, basta ver como as grandes empresas, portuguesa­s e muitas outras, investem forte no MPLA independen­temente de quem esteja no seu comando como forma de fazerem chorudos negócios… até com limpa- neves.

Com este cenário, alguém se atreverá a dizer ao dono do poder angolano que é preciso acabar com a corrupção e não só dizer que querem acabar com ela? Alguns atrevem- se. São os que se candidatam a entrar na cadeia alimentar dos jacarés, apesar de João Lourenço “garantir” que com ele os jacarés passariam a ser vegetarian­os. Aliás, como demonstrar­am os empresário­s portuguese­s e angolanos, é muito mais fácil negociar com regimes corruptos de países ricos do que com regimes democrátic­os e sérios. Por alguma razão, presume- se, Portugal terá oferecido em 1975 Angola ao MPLA, mau grado haver mais dois interessad­os: FNLA e UNITA. Continuand­o Angola a ser um monstruoso limpa- corrupção, alguém estará a imaginar Donald Trump a olhar para os caixotes do lixo de Luanda dos quais se alimentam muitos e muitos angolanos? Não. Sendo que o caminho certo se define não em função da corrupção e da violação dos direitos humanos mas, é claro, dos interesses económicos, Trump está muito mais preocupado com os seus negócios, negociatas e similares do que os angolanos.

E isso é crime? Não. Não é. Aliás, se até o próprio presidente João Lourenço está mais preocupado com o seu caviar do que com a fuba e o peixe ( podre) de que se alimentam os angolanos… Com ou sem limpa- neves, Angola e a sua opaca estratégia de roubar aos pobres para dar aos ricos tem como único resultado real para a maioria da população a pobreza.

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