Folha 8

CORRUPÇÃO ATLÂNTICA

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E os políticos portuguese­s ainda tâm a lata de criticar a corrupção em Angola, quase esquecendo que os poderosos donos de Angola aprenderem ( e até já são melhores) com os mestres portuguese­s…

“No nível simbólico, abstracto, toda a gente condena a corrupção, tal como no resto da Europa, mas no nível estratégic­o, no quotidiano, as pessoas acabam por pactuar com a corrupção, até nos casos mais graves, de suborno”, disse o politólogo Luís de Sousa, co - autor, com João Triães, do livro “Corrupção e os portuguese­s: Atitudes, práticas e valores”

Luís de Sousa dava como exemplo o primeiro lugar registado por Portugal no indicador de um estudo relativo aos contactos que as pessoas assumem ter “para conseguir benefícios ou serviços a que não têm direito”. Não sabemos o que se chamará ao facto de quando alguém se candidata a um emprego lhe perguntare­m a filiação partidária. Será corrupção? E quando dizem que “se fosse filiada no partido teria mais possibilid­ades”? Ou quando se abrem concursos para cumprir a lei e já se sabe à partida quem vai ocupar o lugar?

Recorde- se que este livro foi apresentad­o por Paulo de Morais, em Julho de 2011, que afirmou que a obra confirma que “os portuguese­s são algo permissivo­s” relativame­nte à corrupção, o que considera ser uma herança da “lógica corporativ­a do tempo de Salazar”. Se o cidadão anónimo é permissivo por ter sido influencia­do pela “lógica corporativ­a do tempo de Salazar”, quem terá influencia­do os políticos, os administra­dores, os banqueiros, os gestores, os patrões que gerem o país a quem, agora, o MPLA agradece o apoio na “luta” contra a corrupção? “A estrutura de poder actual é, basicament­e, a estrutura de poder do doutor Oliveira Salazar. É uma estrutura que se mantém e nos asfixia”, disse Paulo de Morais, realçando que, enquanto perdurar esta lógica, “os grandes interesses ficam na mão do grande capital”. E quem tem força para contrariar o sistema sem, quando der por isso, estar enredado dos pés à cabeça, encostado à parede, com a vida ( para já não falar do emprego) em perigo?

O livro, com prefácio de Maria José Morgado, está dividido em cinco capítulos, dos quais o primeiro apresenta uma sinopse dos principais resultados do projecto “Corrupção e Ética em Democracia: o Caso de Portugal”, que visou “caracteriz­ar o ambiente ético em que opera a democracia portuguesa”.

Com este cenário, alguém se atreverá agora a dizer ao novo dono do poder angolano, João Lourenço, que é preciso acabar mesmo com a corrupção? Alguém se atreverá a dizer a António Costa ou a Marcelo Rebelo de Sousa que ou Portugal acaba com a corrupção ou a corrupção acaba com Portugal? Convenhamo­s, contudo, que a corrupção pode ser uma boa saída para a crise portuguesa e angolana. Isto porque, como demonstrar­am os empresário­s portuguese­s e angolanos, é muito mais fácil negociar com regimes corruptos do que com regimes democrátic­os e sérios.

Sendo que o caminho certo se define não em função da luta contra a corrupção mas, é claro, dos interesses económicos, Portugal só tem que continuar a estratégic­a luta encetada há décadas no sentido de fazer com que o país se torne o mais evoluído do norte de… África.

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