QUEM JÁ NÃO TEM BARRIGA NÃO PRECISA DE APERTAR O CINTO
Este mesmo Governo ( mais ministro menos ministro) assegurou que as “medidas de austeridade” em curso no país não foram impostas pelo Fundo Monetário Internacional ( FMI). Tem razão. Quem impôs aos angolanos ( 20 milhões de pobres e 86% de crianças que só enganam a fome) a austeridade foi a monumental incompetência do único partido que governou o país desde a independência, o MPLA.
Pela voz do ministro Manuel Nunes Júnior, o Governo assegurou m Dezembro de 2018 que as “medidas de austeridade” em curso no país, como a “redução de subsídios aos membros do Governo, deputados, aumento das tarifas de água” e outras, “não foram impostas” pelo FMI.
De acordo com o ministro Manuel Nunes Júnior, no futuro “haverá outros ajustes” em tarifas de bens considerados públicos, “medidas que constam” do Plano de Desenvolvimento Nacional ( PDN) 2018- 2022.
“Mas essas são medidas que estão já incluídas no PDN, portanto, não são trazidas pelo programa do FMI, mas as previstas por nós, que as consideramos essenciais para termos uma economia normalizada e própria para captar investimentos estrangeiros e nacionais”, disse o ministro, certamente depois de uma refeição suculenta e de um arroto de satisfação por ter várias vezes por dia aquilo que a maioria dos angolanos apenas sabe que existe: refeições.
O governante falava aos jornalistas, em Luanda, no final de uma reunião que a equipa económica do Governo manteve com a então directora- geral do FMI, Christine Lagarde, instituição que concedeu um empréstimo a Angola de 3,7 mil milhões de dólares ( 3,2 mil milhões de euros).
O ministro deu conta que o programa de assistência técnica e financeira do FMI vai ajudar o país a implementar o seu Programa de Estabilização Macroeconómica ( PEM) e o PDN 20182022, observando que todas as acções a serem desenvolvidas estarão em consonância com o programa de desenvolvimento nacional. “Não se trata de um financiamento que traz a imposição de um programa novo para Angola. O país vai continuar a desenvolver os seus próprios programas, como tem feito até agora. Os recursos que vamos receber vão ajudar- nos a apoiar esse programa por nós desenvolvido e que contém reformas importantes”, apontou. Reformas importantes que, como todas as desenvolvidas ao longo dos últimos 45 anos, nos irão permitir concluir que vamos continuar a produzir ricos em vez de riqueza, que vamos continuar a ter um governo a trabalhar para os poucos que têm milhões, esquecendo os milhões que têm pouco ou… nada.
O financiamento do FMI “é para apoiar os programas elaborados por Angola e que estão em curso. Este é o elemento fundamental, o que quer dizer que os programas que Angola definiu vão continuar a ser desenvolvidos. Esses recursos vão ajudar a desenvolver as reformas que Angola já tem feito até agora”, concluiu Manuel Nunes Júnior. Na altura, no primeiro de dois dias da visita oficial a Angola, Christine Lagarde afirmou em Luanda que o programa de assistência não vai, “para já”, aumentar os impostos, os despedimentos na função pública nem o preço dos combustíveis. Nada de ilusões: “para já”.
“O FMI de hoje não é o FMI do passado, pois aprendemos com os erros e defendemos políticas amigas do crescimento”, sublinhou Christine Lagarde, numa pequena conferência de imprensa conjunta com o Presidente João Lourenço. Por dificuldades de tempo, Christine Lagarde não teve oportunidade de conhecer o país real. Também não foi para isso que ela cá veio… O governo teima em passar a todos os angolanos ( sobretudo aos de segunda categoria – os que não são do MPLA) atestados de menoridade intelectual e matumbez. Tudo isto que o ministro Manuel Nunes Júnior diz é uma crassa mentira porque, de facto ( não de jure), quem vai mandar em Angola não será o Executivo mas, apenas e só, o FMI. João Lourenço, enquanto Titular do Poder Executivo, será uma espécie de José Sócrates ( o antigo primeiro- ministro de Portugal) de
Angola. Preparemo- nos. O FMI e o MPLA só ficarão satisfeitos quando tiverem a certeza de que o Povo consegue viver sem… comer. Goste- se ou não, é relevante recordar o que, em Dezembro de 2009, o então director- geral do FMI, Dominique Strauss- Kahn, disse à navegação: “Os problemas acontecem quando os governos dizem à opinião pública que as coisas estão a melhorar enquanto as pessoas perdem os seus empregos”. Christine Lagarde disse o mesmo mas forma mais suave. Atente- se: O programa de assistência não vai, “para já”, aumentar os impostos, os despedimentos na função pública nem o preço dos combustíveis. Para lá! “Para alguém que vai perder o seu emprego, a crise não acabou. E isso constitui um alto risco”, afirmou Dominique Strauss- Kahn, acrescentando que “isso também pode, em alguns países, tornar- se um risco para a democracia. Não é fácil administrar esta transição, e ela não será simples para os milhões de pessoas que ainda estarão desempregadas no próximo ano”.