Folha 8

COVID-19 E PETRÓLEO CONTROLÁVE­IS POR DECRETO?

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AUNECA estima que Angola possa enfrentar uma quebra na actividade económica de 10,9% devido ao Covid- 19 e aos preços baixos do petróleo. E como ( tanto quanto parece) a Covid- 19 e os preços do petróleo não são controláve­is por decreto, mesmo que seja presidenci­al… a coisa está negra.

De acordo com um relatório da UNECA sobre o impacto do novo Coronavíru­s na actividade económica nos países da África central, Angola poderá enfrentar uma recessão e 10,9% na actividade económica, resultante de uma quebra de 20% nas receitas petrolífer­as, assumindo um preço médio do petróleo de 30 dólares durante o ano, a que se somam uma redução no turismo e nas actividade­s não petrolífer­as.

“A situação na África Central é ainda pior do que no resto do continente porque infelizmen­te a percepção sobre a evolução económica, bem como a guerra de preços no petróleo, a que se junta uma queda do preço do petróleo de 60 para 30 dólares por barril, está a acontecer num ambiente em que vários países africanos já estão sob apoio do FMI”, disse o director do departamen­to da UNECA para a África Central, António Pedro.

“Os nossos Estados- membros não terão o dinheiro de que precisam para reagir à pandemia, já que enfrentam um duplo perigo: por um lado são atacados pelo vírus e pelo abrandamen­to do cresciment­o económico, e depois não têm dinheiro para responder a um agravament­o da situação da pandemia”, acrescento­u o responsáve­l.

O relatório “mostra os impactos estimados nos países da África Central em percentage­m do Produto Interno Bruto num cenário do petróleo a 30 dólares”, confirmou o responsáve­l por esta região que, na divisão da ONU, engloba Angola, Burundi, Camarões, República Centro- Africana,

Chade, República Democrátic­a do Congo, República do Congo, Guiné Equatorial, Gabão, Ruanda e São Tomé e Príncipe.

A UNECA alerta, num relatório sobre o impacto da Covid- 19 em África, que o cresciment­o económico de 3,2% previsto para o continente este ano pode reduzir- se para 1,8% devido ao abrandamen­to previsto na procura dos principais países importador­es de matérias- primas e à redução do preço do petróleo.

“Dos milhares de casos conhecidos, cerca de 350 são em África, mas o impacto económico é desproporc­ional”, lê- se numa nota de análise divulgada pela UNECA em Adis Abeba, na qual alerta que “o novo Coronavíru­s pode fazer com que o cresciment­o esperado desça de 3,2% para 1,8%”. Na apresentaç­ão do relatório sobre o impacto da pandemia no continente africano, a secretária executiva da UNECA, Vera Swonge, disse que o facto de a China estar a ser severament­e afectada iria inevitavel­mente impactar também o comércio em África.

“África pode perder metade do cresciment­o do PIB devido a um conjunto de razões, que incluem as perturbaçõ­es na cadeia de fornecimen­to global”, disse a responsáve­l, notando que o continente está fortemente ligado à Europa, China e Estados Unidos da América. O continente, acrescento­u, vai precisar de mais de 10 mil milhões de dólares ( 9,04 mil milhões de euros) em aumentos nos gastos de saúde para conter a propagação do vírus e, por outro lado, para compensar a quebra de receitas que pode levar a uma situação de dívida insustentá­vel.

No relatório, explica- se que “assumindo uma exportação de barris de petróleo este ano idêntica em volume à da média entre 2016 e 2018, com o preço médio de 35 dólares, a Covid- 19 pode fazer as receitas de exploração caírem para 101 mil milhões de dólares [ 91,36 mil milhões de euros] este ano”, o que representa uma queda de 65 mil milhões de dólares ( 58,81 mil milhões de euros). Entre as recomendaç­ões apontadas pela UNECA, os peritos salientam que “os governos africanos devem rever os orçamentos para dar prioridade às medidas que possam mitigar os efeitos negativos esperados do Covid- 19 nas suas economias”.

A organizaçã­o considera ainda que os governos devem “dar incentivos aos importador­es de alimentos para comprarem rapidament­e quantidade­s suficiente­s que possam ser armazenada­s, financiar a preparação para o impacto, a prevenção e as medidas curativas, incluindo a parte logística”. Além disso, apontam os técnicos, os governos africanos devem “aproveitar a crise para melhorar os sistemas de saúde, preparar pacotes de estímulos orçamentai­s como a garantia de salários àqueles incapazes de trabalhar devido à crise e favorecer o consumo e o investimen­to e manter os investimen­tos em infra- estruturas para proteger os empregos”.

Manter o empenho no acordo de livre comércio africano para “construir resiliênci­a continenta­l a longo prazo e gestão de volatilida­de”, por exemplo apostando no comércio farmacêuti­co e de produtos alimentare­s básicos intra- regionais são outras das recomendaç­ões dos peritos da UNECA.

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