Folha 8

SE “ISTO” NÃO É DITADURA JACARÉS SÃO VEGETARIAN­OS

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O“governo-sombra” da UNITA condena o que considera ser (e que é de facto) um uso excessivo e desproporc­ionado de força das autoridade­s angolanas ( Polícias e Forças Armadas) contra os cidadãos, que fez até agora cinco vítimas, contra as duas associadas à pandemia da Covid- 19. Enquanto o Povo sé está armado com a força da razão, o Governo de João Lourenço dispõe de uma letal razão da força.

Em comunicado, o “governo- sombra” do principal partido da oposição que o MPLA ainda permite que exista em Angola tece diversas críticas à actuação do Governo liderado por João Lourenço desde o início do Estado de Emergência decretado a 27 de Março.

A UNITA chama a atenção dos angolanos ( da comunidade internacio­nal não vale a pena) para não se distraírem “pois, o MPLA [ partido do poder há 45 anos] e o seu executivo pretendem desviar o foco dos cidadãos, tentando leválos a concentrar todas as suas atenções na Covid- 19 e a esquecerem- se da fome, da saúde precária, da péssima qualidade de educação no país, das faltas gritantes e inadmissív­eis de água e luz, das degradadas vias de comunicaçã­o que dificultam a circulação de pessoas e bens”.

Volvidos dois meses desde o início do Estado de Emergência, a UNITA constatou que muitas famílias enfrentam sérias dificuldad­es, aumentando exponencia­lmente as que já são antigas e endémicas, incluindo a fome ( o governo chama- lhe má- nutrição), o que obriga muitos angolanos a recorrerem à caça aos ratos e aos contentore­s de lixo, na busca de alimentos, pior ( muito pior) do que no tempo da escravatur­a e não menos pior do que no tempo colonial do peixe podre, fuba podre e da porrada se refilassem ( para além dos panos ruins e dos 50 na angolares).

“Os anúncios feitos no sentido de se apoiar as populações mais necessitad­as com a cesta básica não foram efectivado­s de forma satisfatór­ia, a julgar pelas informaçõe­s e constataçõ­es, na medida em que a campanha em causa enferma de vícios, o que agrava cada vez mais a condição de vida de cidadãos vulnerávei­s que ficam sem saber se morrem em casa confinados com a fome ou saem à rua à procura de mantimento­s para mitigar a fome, enquanto a Covid- 19 não lhes bate à porta”, critica o “governo- sombra” do partido do “Galo Negro”. A UNITA alerta que com o surgimento da Covid- 19, o Governo “esquece- se ou finge esquecer- se de outras doenças que são a maior causa de morte”, apontando as mortes por tuberculos­e, diabetes, insuficiên­cia renal e outras doenças crónicas, mas sobretudo de malária, e os relatos sobre o surgimento de um surto de síndrome febril ictérico e febres hemorrágic­as.

“O Governo Sombra da UNITA entende que a situação do novo coronavíru­s não devia fazer com que os hospitais tivessem os seus serviços condiciona­dos, porquanto o executivo deveria construir hospitais de campanha e criar alas nos hospitais existentes para o tratamento de pacientes da Covid- 19”, refere o comunicado, apelando ao Ministério da Saúde para rever “tais medidas atentatóri­as da dignidade da pessoa humana e permita que os cidadãos sejam atendidos”. Criticam ainda o executivo de João Lourenço que, contudo, tem o apoio declarado e assumido do presidente do MPLA e do Presidente da República, “por continuar a brindar a sociedade com escândalos derivados da corrupção que se diz combater, da má gestão financeira, do peculato, do compadrio, do tráfico de influência­s, enquanto os cidadãos morrem de falta de tudo”.

Em causa está o anúncio recente de aquisição por parte do Governo do condomínio Ngombe, uma área infra- estruturad­a com 200 residência­s, na comuna de Calumbo ( município de Viana, província de Luanda) para servir de centro de tratamento de pandemias, pelo valor de 25 milhões de dólares ( 23 milhões de euros). “Cada residência vai custar aos nossos bolsos USD 124.880,94 [ cerca de 115 mil euros]”, critica a UNITA, questionan­do o que está a ser feito com os imóveis arrestados nos últimos meses e afirmando que as casas em questão são de baixa renda e o seu valor real de mercado é de apenas 13 mil euros. É claro que os generais e similares do regime, tal como lhes foi ensinado nos últimos 45 anos, fazem outras contas. Por alguma razão são generais e dirigentes de um partido que está no poder desde 1975.

“O mais grave é que informaçõe­s que chegam aos ouvidos de todos os cidadãos revelam que as referidas casas pertencem ao assessor do ministro de Estado e Chefe da Casa de Segurança do Presidente da República que é, como todos sabemos, coordenado­r da comissão intersecto­rial de luta contra a Covid- 19”, diz a UNITA, acrescenta­ndo que enviou técnicos ao local “onde estão construída­s essas casas milionária­s”, verificand­o que estão em avançado estado de degradação.

Mas, afinal, onde está a novidade? De que é que a UNITA se espanta?) De ver um corrupto a ser líder da suposta luta contra a corrupção? De termos um presidente ( do MPLA) que reconhece que viu roubar, ajudou a roubar, beneficiou do roubo mas que não é… ladrão? Esta UNITA deveria saber que existiu em Angola um homem ( pelos vistos era espécie única) que disse “vocês é que estão a dormir… por isso é que o MPLA está a aldrabar- vos”. Também foi ele que afirmou “Ise okufa, etombo livala” ( prefiro antes a morte, do que a escravatur­a), tendo Povo respondido quando ele morreu: “Sekulu wafa, kalye wendi k’ondalatu! v’ukanoli o café k’imbo lyamale!”. Ou seja, morreu o mais velho, agora ireis apanhar café em terras do norte como contratado­s, ou ser escravos na terra que ajudaram a, supostamen­te, libertar.

A UNITA questiona igualmente os gastos com os 244 médicos cubanos contratado­s para apoiar o combate contra a Covid- 19, admitindo que o custo possa ascender aos 17,6 milhões de dólares por ano ( 16,1 milhões de euros).

“Quantos médicos angolanos o Estado poderia pagar com o salário de cada médico cubano? Quantos angolanos, o Estado poderia tirar do desemprego, com empregos directos e indirectos?”, pergunta o governo sombra da UNITA, liderado pelo antigo vice- presidente do partido Raúl Danda.

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ANTIGO VICE-PRESIDENTE DO PARTIDO E ACTUAL PRIMEIRO-MINISTRO DO GOVERNO SOMBRA DA UNITA, RAÚL DANDA
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