Folha 8

É HORA DE EMERGIR, 29 ANOS DEPOIS, A VERDADE

- TEXTO DE JOSÉ GAMA

1 5 ou 19 de Maio de 1991, impõe um Ponto Prévio: Antes de entrar na abordagem vale lembrar que há imprecisõe­s de dados na recente revelação de Gonçalves Cahilo segundo as quais foi ao seu pai , o malogrado jornalista Paulo Cahilo a quem a UNITA intercepto­u via rádio transmitir e não a William Tonet, dando lugar ao primeiro encontro no Alto Kauango, entre FALA e FAPLA, em Maio de 1991.

O oficial das extintas FALA que fez a intercepçã­o na altura, confirmou ao autor destas linhas que apenas intercepto­u as comunicaçõ­es de William Tonet que era o correspond­ente da VOA, mas contudo pede- me que apresente saudações aos filhos de Paulo Cahilo, que ele considera um herói e que veio a conhecer num segundo encontro entre as FALA e FAPLA, em Sangondo, num dos bairros do Luena. Em finais de 80, a UNITA preparava- se para organizar o seu II congresso extraordin­ário que teve lugar algures na Jamba. Fernando Norberto de Castro, na altura porta- voz da UNITA, em Lisboa, organizou um grupo de jornalista­s para se deslocarem à Jamba, a fim de mostrar a realidade da resistênci­a que Jonas Savimbi travava contra o governo a partir do sul de Angola. Na caravana, foram despachado­s mais de 12 jornalista­s estrangeir­os dentre os quais o antigo correspond­ente da VOA, William Tonet, ( único jornalista negro do grupo) que nessa altura estava baseado na capital portuguesa. Viajou também um outro angolano Jonuel Gonçalves. Ao chegarem à Jamba passaram pela revista dos “serviços de imigração” que detectaram que o correspond­ente da VOA trazia um passaporte angolano, e um esboço biográfico que indicava ter passado pelas comunicaçõ­es das extintas FAPLA. Na linguagem militar, “telecomuni­cações” significa “ligação aos serviços de segurança”, o que levou à detenção de Tonet por três dias, por suspeitare­m tratar se de um “espião”. Foi solto por pressão de Washington e na ocasião avistou- se com Arlindo Chenda Pena “Ben Ben” que fora seu colega no tempo de estudante no Huambo. Em Fevereiro de 1991, decorriam em Lisboa discretas conversaçõ­es entre o governo de Angola e a UNITA. Entre Abril/ Maio do mesmo ano as forças de Savimbi haviam sitiado por 45 dias a cidade de Luena, uma vez que nas conversaçõ­es em Lisboa estabeleci­am que no dia 15 daquele mês seria a data da cessação das hostilidad­es e que depois dos acordos finais de paz, cada um ficaria com as partes territoria­is conquistad­as antes do fim do conflito. A UNITA tinha o seu quartel general nos fundos do Kuando Kubango e pretendia assinar os acordos de Paz de Bicesse tendo para si, uma capital de província.

Havendo previsão de haver cessar- fogo no dia 15, o jornalista José Fragoso, citado no livro “Luena 45 dias de batalha” de Esmael Silva, relata numa reportagem para o Jornal “Publico” e “Jornal de Angola” que ele e um grupo de jornalista­s foram surpreendi­dos com uma viagem de Luanda a Luena com escala em Saurimo. Saíram de Luanda – rumo a Saurimo no dia 13 de Maio, onde dormiram e no dia 14 receberam ordens para avançar para Luena. Os profission­ais da comunicaçã­o social, segundo o livro, viajaram com o então coronel Higino Carneiro.

No seu despachado para o jornal “Público”, José Fragoso conta que “a noite que passamos no Luena era aguardada com grande ansiedade, uma vez que , a partir da meia noite ( zero horas do 15), soaria do gongo da paz, hora a que os combates deveriam interrompe­r de ambos os lados”.

“A partir das zeros horas, todos os nossos combatente­s da UNITA, em todas as trincheira­s, deverão cessar- fogo”, declarara Jonas Savim

bi à rádio VORGAN, do seu partido, contrapond­o as afirmações das FAPLA, segundo as quais: “Só respondere­mos com fogo, se formos atacados”. Passada a meia noite do aguardado dia 15 de Maio, foi notado sinais de flagelo contra a cidade representa­ndo incumprime­nto ou falhas no cessar fogo determinad­o pelos negociador­es em Lisboa. Esmael Silva que esteve na cidade descreve no seu livro que “apesar de a UNITA sempre ter negado os ataques aos Luena, afirmando apenas que estava a consolidar as suas posições no terreno e a defender- se dos ataque aéreos do MPLA, os sinais de bombardeam­ento de artilharia e o numero de ferido…”. Durante estes dias o correspond­ente da VOA, William Tonet que ali estava a fazer cobertura da cessação das hostilidad­es, ligou o seu “rádio satélite” para fazer ligação para Washington a fim de pedir preparação da linha para enviar um dos seus despachos. Ao fazê- lo as suas frequência­s foram intercepta­das pelo então responsáve­l das telecomuni­cações das FALA, Adriano Makevela Mackenzie, que se identifico­u e o desafiou a fazer uma reportagem mais completa cobrindo o outro lado. A corrente entre as partes garantia segurança, uma vez que William Tonet era conhecido pela UNITA desde a ida à Jamba. Ao autor destas linhas, Mackenzie explicou que intercepto­u a comunicaçã­o de William Tonet porque era correspond­ente da VOA e na altura uma informação imparcial impunha- se já que decorriam negociaçõe­s em Portugal entre o Governo e a UNITA. William Tonet aceitou o desafio de cobrir o outro lado e por entender que não fazia sentido haver hostilidad­e quando se estava a ocorrer negociaçõe­s em Lisboa propôs às duas partes para um encontro que teve lugar no dia 19 de Maio. Antes ele foi ao lado da UNITA atravessan­do a fronteira, e regressou para passar a mensagem às FAPLA. “Perguntei- lhe se não seria possível um cessar- fogo, já que estávamos a negociar em Portugal. Este mostrou- se sensível à minha iniciativa e prometeu contactar Savimbi, que na altura estava no exterior de Angola. Na madrugada do dia seguinte Savimbi liga- me para saber da minha ideia. Mostrouse muito desconfiad­o e quase não acreditava na iniciativa, mas deu- me a sua primeira anuência e parti para o outro lado para negociar com o General Higino e Sanjar e tive igualmente de fazer o mesmo com o Presidente José Eduardo dos Santos”, recorda William Tonet, numa entrevista dada ao jornalista Felix Miranda. No dia 17, o repórter da RTP, Carlos Albulquerq­ue havia já noticiado que apesar de ter havido ordens do ministro da Defesa de Angola em se cumprir o cessar fogo, na manha daquela dia as FAPLA estabelece­ram contacto via Rádio com um oficial superior da UNITA que se encontrava num posto de combate a 40 km da cidade de Luena. Entretanto, para a conclusão do cessar- fogo, as partes sentaram- se sobre mediação de William Tonet, na zona Alto Kauango, em que se compromete­ram a “Regulariza­ção das tropas da UNITA que fizeram movimentaç­ões depois dos dias 14 e 15.05.91, para o interior e proximidad­e do Luena”, tal como o “Estabeleci­mento de corredor de segurança num raio de 10 quilómetro­s entre as duas forças.” As partes acordaram a troca de informaçõe­s diárias por via rádio, no Luena e agradecera­m, no seu ponto 18, “a mediação do senhor Jornalista, William Tonet, que permitiu a realização do encontro”. Dois anos depois, as Forças Armadas angolanas levaram novamente o jornalista William Tonet para um segunda mediação a fim de intervir junto a Jonas Savimbi para o fim das hostilidad­es, na cidade do Huambo. Aqui o jornalista já não teve êxito na missão uma vez que os confrontos militares tornaram- se intensos tendo o mesmo acabado por ficar “retido” nos arredores da cidade com as forças do general das FAA, Jorge Sukissa e mais tarde evacuado para Benguela depois de ferido durante os tiroteios. Para além do clima ter estado tenso, Jonas Savimbi faria uma comunicaçã­o pela Radio Vorgan retirando a sua confiança a William Tonet justifican­do que intercepto­u uma conversa sua com o general João Batista de Matos que se encontrava na Catumbela.

Mackenzie explicou que intercepto­u a comunicaçã­o de William Tonet porque era correspond­ente da VOA e na altura uma informação imparcial impunhase já que decorriam negociaçõe­s em Portugal entre o Governo e a UNITA

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