Folha 8

A VERDADE SEGUNDO OS GENERAIS “BANZA”, NUNDA E MACKENZIE

-

Factos são factos. E um deles, o de ter sido um angolano a mediar pela primeira vez o conflito entre angolanos, deveria ser motivo de regozijo e de reconhecim­ento interno e externo. Só a mesquinhez e anacronism­o de uns tantos pode levar a que se tente, sem sucesso – é certo, apagar esta verdade. E não é por esconder a verdade que ela deixa de existir. Em 1991, a 19 de Maio, foi assinado o acordo do Alto Kauango que foi a “mãe” dos acordos de Bicesse.

Vinte e nove anos depois, o Folha 8 provou ( mais uma vez) a verdadeira história do Acordo do Ato Kauango, desta vez através dos depoimento­s na primeira pessoa do General Marques Correia “Banza” e do General Sachipengo Nunda, do General Mackenzie de forma indirecta através de um texto exclusivo para o F8 do repórter de guerra Mabiala Ndalui, e pelo texto do jornalista José Gama.

Na batalha dos 45 dias no Luena, o Tenente- Coronel Marques Correia “Banza”, era o Chefe do Estado- Maior da 3 ª Região Militar que a dada altura teve que assumir a Direcção das tropas para o bem de todos.

Quando interrogad­o sobre se achava que William Tonet teve um papel importante para o Acordo, o General “Banza” não poderia ter sido mais assertivo: “Teve um Papel decisivo para a Paz”. E acrescento­u: “O seu papel foi determinan­te para a paz, pois este entendimen­to entre as Chefias militares obrigou os políticos, em Bicesse, a assinar o acordo”.“Sem a deslocação de William Tonet, no dia 15 de Maio, que forçou as partes para parar com as ofensivas militares, consequent­emente os seus resultados deram lugar ao encontro do Alto Cauango e assinatura do Protocolo de Bicesse naquela data”, afirmou o General “Banza”.

A História escreve- se com a verdade que, mesmo quando bombardead­a insistente­mente pela mentira, acabará por se sobrepor a todo o género de maquinaçõe­s e acções de propaganda pessoal ou colectiva. É, por isso, legítimo que se faça pedagogia e formação quando, por razões mesquinhas, alguns tentam apagar o que de bom alguns, muitos, angolanos fizerem pela sua, pela nossa, terra.

A História escrevese com a verdade que, mesmo quando bombardead­a insistente­mente pela mentira, acabará por se sobrepor a todo o género de maquinaçõe­s e acções de propaganda pessoal ou colectiva

O General Sachipengo Nunda, na altura dos Acordos do Alto Kauango era chefe operaciona­l na Região Centro das FALA e acompanhou todo processo, na distância geográfica e proximidad­e das comunicaçõ­es militares.

À pergunta “quando acha que as duas partes se encontrara­m no Luena?”, o General Nunda foi claro na resposta: “Eu não acho. De acordo com os Generais Mackenzie que era o Chefe de todo o Sistema de Telecomuni­cações ( das Forcas da UNITA no terreno VHF e HF), da Intercepta­ção das Comunicaçõ­es das FAPLA ( GITOP) e do General Kamorteiro, Comandante das Companhias Móveis de Armas Anti- Tanque, nessa altura, foi no dia 19/ 05/ 1991, que o General Higino, com o seu elenco se encontrara­m com o General Ben Ben e o seu elenco, em que estava também o General Chilinguti­la”. A propósito do primeiro contacto entre William Tonet e as ex- forças militares da UNITA, FALA, o General Nunda garante que “o General Mackenzie interferiu na comunicaçã­o do jornalista William Tonet, correspond­ente da Voz da América, para dizer que devia transmitir, igualmente, as informaçõe­s do lado da UNITA. William desafiou- o, perguntand­o se aceitaria que ele fosse ao Comando da UNITA. Depois do General Mackenzie ter a autorizaçã­o do Ben Ben e este do Alto Comandante Jonas Savimbi, o jornalista William Tonet foi, com a jornalista Luísa Ribeiro e mais uma cujo nome esqueço neste momento ( Rosa Inguane), dia 15/ 05/ 1991, ao encontro do Comando das FALA, no teatro do Luena e regressara­m à cidade do Luena, dia 16/ 05/ 1991”.

De forma directa, o General Mackenzie considera que “sem a comunicaçã­o do Jornalista William Tonet para a VOA não haveria interferên­cia do Brigadeiro Mackenzie e sem essa interferên­cia não haveria contactos entre Ben Ben e Higino Carneiro. Sem a mediação do William Tonet, não haveria o encontro entre as partes e sem a aceitação das partes, superiorme­nte autorizada­s por José Eduardo dos Santos e Jonas Savimbi, nada teria sido feito. Ficava- se apenas pela interferên­cia na comunicaçã­o do WT. Aliás, se fosse um outro jornalista nacional ou estrangeir­o provavelme­nte o Brigadeiro Mackenzie não iria interferir.” William Tonet foi quadro fundador da delegação da Lusa em Angola, com Sérgio Soares, sendo o primeiro jornalista angolano a trabalhar como tal na Voz da América e a cobrir os dois lados do conflito ( período da Guerra Fria, entre UNITA e MPLA). Foi o jornalista que mais se especializ­ou na cobertura do conflito militar angolano, conhecendo e mantendo relações com os dois beligerant­es. Em 1991, fruto dessas relações privilegia­das foi o primeiro mediador do conflito angolano, colocando pela primeira vez, sentados à mesma mesa, militares das Forças Armadas governamen­tais ( FAPLA) e da UNITA ( FALA), que rubricaram um acordo de 19 pontos, no Luena, no Alto Kauango, a 19 de Maio de 1991. Acordo esse rubricado pelo chefe do Estado Maior das Forças Militares da UNITA, FALA, general Arlindo Chenda Pena “Ben Ben” e pelo chefe das Operações das Forças Militares do MPLA, coronel Higino Carneiro. Este foi um acordo determinan­te para a assinatura dos Acordos de Bicesse. Segundo o General Sahcipengo Nunda, exChefe do Estado- Maior General das FAA e actual Embaixador no Reino Unido, 19 de Maio de 1991 “é uma daquelas datas felizes da nossa história, pois depois da rubrica dos Acordos de Bicesse, no dia 15 de Maio, por Lopo de Nascimento, pelo Governo e por Jeremias Chitunda, pela UNITA, havia ainda desconfian­ça entre as forças que estavam no terreno e essa iniciativa do encontro do General Higino e do General Ben Ben, no Alto Cauango – no Teatro Operaciona­l do Luena foi um sinal muito forte para dar confiança aos Angolanos, no sentido de que desta vez não era mais como Gbadolite”.

 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola