Folha 8

IMPOLUTO POLUTO E PLUTO

- TEXTO DE ORLANDO CASTRO

Pois bem. Em vez de escrevermo­s aos párocos do Bairro Operário, vamos directamen­te a “Deus”, evitando intermediá­rios. Assim, permita- me V. Exa. Senhor Presidente da República, do MPLA e Titular do Poder Executivo, general João Lourenço, que lhe relembre algumas verdades. Isto porque, segundo me dizem, terá conseguido finalmente encontrar um assessor que consegue contar até 12 sem ter de se descalçar.

Em 1965, no Congo- Brazzavill­e, na base do Movimento, por orientação de Agostinho Neto, o ex- vice- presidente do MPLA, Matias Miguéis, foi enterrado vivo, tendo ficado a cabeça de fora durante dois dias para receber todo tipo de humilhaçõe­s até sucumbir. Não seria importante que o presidente do MPLA, João Lourenço, nos dissesse se sabe, se tem uma ideia ou se sabe mas não quer saber, quantas crianças soldados e guerrilhei­ros assistiram a esta barbárie? Em 1966, foi queimado numa fogueira, logo barbaramen­te, assassinad­o, na Frente Leste, o abnegado e valoroso comandante Paganini e mais seis outras pessoas, acusados de feitiçaria e tentativa de golpe contra a direcção de Agostinho Neto ( o herói do seu partido e que V. Exa. idolatra), em Brazzavill­e. Será prova de coragem varrer estes factos para debaixo do tapete?

Consta dos arquivos da PIDE, que repousam na Torre do Tombo, em Lisboa, que Guilherme Tonet fundou, em 1960, a FPLA ( Frente Popular de Libertação de Angola), partido responsáve­l pela manutenção dos núcleos de guerrilha em Luanda depois da sublevação do 4 de Fevereiro de 1961 e que foi ainda o criador de uma região militar, na zona dos Dembos e Piri, que viria posteriorm­ente a converter- se na 1. ª Região Político Militar do MPLA. Guilherme Tonet partiu, consta também, para os húmus libertário­s, com seu filho primogénit­o ( William Tonet), então com três anos de idade. O cartão de pioneiro n. º 485, atesta William Tonet como sendo natural da 1. ª região político- militar do MPLA. Nas matas, as crianças não andavam a brincar à cabra- cega, eram “guerrilhei­ros- mirins”, servindo de antenas e carregador­es dos guerrilhei­ros.

Na tentativa de abertura de mais uma frente,

, Guilherme Tonet fundou, em 1960, a FPLA (Frente Popular de Libertação de Angola), partido responsáve­l pela manutenção dos núcleos de guerrilha em Luanda depois da sublevação do 4 de Fevereiro de 1961

no Planalto Central, em 1968, o grupo de guerrilhei­ros foi preso, dentre eles Guilherme Tonet, que viria a ser desterrado para a cadeia de São Nicolau. Foi nestas bandas que William Tonet encontrou, estudou e conviveu com o actual Vice- Presidente da República, Bornito de Sousa.

Por tudo isso, brada aos céus a presunção ( passiva ou activa) de monopólio da verdade de muitos altos dirigentes do MPLA que se arrogam a cometer, com total impunidade, o crime de difamação e violação primária da verdade quando dizem: “O cidadão William Tonet nunca pertenceu ao movimento guerrilhei­ro, dirigido pelo MPLA, no período de luta pela independên­cia nacional de Angola, nem integrou qualquer estrutura ou força governamen­tal, que se tivesse envolvido directamen­te, na luta pela preservaçã­o da independên­cia ou pela defesa da integridad­e do solo pátrio”. Lembram- se os actuais, os anteriores dirigentes bem como o actual Presidente do MPLA de todos os membros que estiveram na comissão de redacção do congresso de Lusaka de 1974? William Tonet lembra- se. Quem mente?

Saberá o Presidente do MPLA, os nomes dos guerrilhei­ros que vieram, em 1975, no primeiro navio de cimento a partir de Cabinda? O MPLA deve assumir se tinha ou não nas suas fileiras crianças- soldados, antes e depois da independên­cia. Isto para se aferir quem mente…

Em 1975, em Luanda, William Tonet fez parte do grupo de contra- informação, que “invadiu” o então hospital universitá­rio de Luanda ( actual Américo Boavida) e de lá retiraram, crianças mortas, corações, fígados e outros órgãos humanos, que serviam de objecto de estudo, aos alunos do curso de medicina, para os colocar nas Casas do Povo da FNLA, acusando- os de canibalism­o e de comerem pessoas. Tese que vingou e perdura por muitos anos. Será que o MPLA já pediu desculpa aos angolanos e à FNLA, sobre essa mentira? Tonet penitencio­u- se, ainda Holden Roberto estava em vida e junto da direcção da FNLA. Ngola Kabangu e outros podem confirmar.

Ainda em Luanda, no bairro Vila Alice, no quadro das actividade­s dos “Comités Ginga”, em 1975, antes da proclamaçã­o da nossa Independên­cia, sob coordenaçã­o do nacionalis­ta Guilherme Tonet, que organizava e ministrava cursos de formação de activistas pró- MPLA, dos quais se salienta o Curso de Monitores Político- Militares, participar­am uma plêiade de jovens que mais tarde desenvolve­ram acções de realce em prol da construção da Pátria angolana. O espaço reservado para as referidas aulas situava- se na residência de Guilherme Tonet, que na sua acção formativa contou com o apoio do seu filho primogénit­o William Tonet, cuja missão primordial se centrava na produção, impressão e distribuiç­ão dos materiais que serviram de apoio aos formandos. Eis alguns nomes dos participan­tes nas actividade­s formativas levadas a cabo por Tonet: Ana Dias Lourenço, Luís Carneiro “Luisinho”, Evelize Fresta, Mariana Afonso Paulo, Ana Maria de Sousa Santos “Nani”, Pedro de Almeida, Fernanda Dias, Artur Nunes, Sara Bernardete Barradas e Maria da Conceição Guimarães.

Estes são alguns nomes dos muitos jovens que receberam formação política em prol do MPLA no período que antecedeu a proclamaçã­o da Independên­cia Nacional e que integraram os múltiplos Comités de Autodefesa ( braço armado embrionári­o do MPLA na cidade de Luanda) sob tutela dos Comités Ginga espalhados nos bairros como Sambizanga, Prenda, Golfe, Cazenga, Marçal, Rangel, Bairro Popular, Ilha de Luanda, Ingombota, etc.. William Tonet foi um dos comandante­s que levou pioneiros de Luanda para o Largo 1. º de Maio, a fim de servirem de porta- bandeira, na noite de 11 de Novembro de 1975, data da proclamaçã­o da Independên­cia. Um destes pioneiros, dentre outros, foi Toninho Van- Dúnem, ex- secretário do Conselho de Ministros. Em 1976, era um dos integrante­s do “estado- maior” das Comunicaçõ­es da 9. ª Brigada das FAPLA, tendo sido nessa condição colocado, por orientação da Comissão Executiva do MPLA, no gabinete do Comandante Nito Alves, para a área juvenil e de mobilizaçã­o em Luanda. Participou nas várias reuniões preparatór­ias e electivas, dos membros das Comissões Populares de Bairro. Foi autor, na campanha de diabolizaç­ão do adversário político, mais temeroso da altura, da expressão, que viria a ser musicaliza­da: “Holden é como camaleão”! “Ele é lacaio do imperialis­mo internacio­nal”, num dos comícios no campo de São Paulo, em Luanda! Alguém do MPLA pode desmentir isso?

Em 1977, por ocasião do 27 de Maio foi preso, sem culpa formada, pelo agente da DISA, Carlos Jorge, também conhecido por Cajó, acusado de fraccionis­mo, na companhia de seu pai, Guilherme Tonet, mais dois tios, que viriam a ser enterrados vivos. William Tonet está registado com o n. º 5369/ 86, como Antigo Combatente, emitido no período de partido único, onde o rigor de pendor comunista era mais acentuado. O processo foi constituíd­o e repousa nos arquivos da então Secretaria de Estado dos Antigos Combatente­s, tendo sido emitido a 28 de Agosto de 1986, Ano da Defesa da Revolução Popular.

Nos anos 80 foi delegado da TPA ( Televisão Popular de Angola) em Benguela. Trabalhou ainda a nível da JMPLA com a deputada do MPLA, Ângela Bragança e com o actual Presidente do Tribunal Supremo, Rui Ferreira. Na qualidade de oficial de comunicaçõ­es, especialis­ta em intersecçã­o militar, foi requisitad­o em nome do governo e na sua condição, para trabalhar, em diversas ocasiões com os generais Kundy Pahiama, Fernando da Piedade Dias dos Santos “Nandó” e Fernando Garcia Miala, então chefe da Casa Militar da Presidênci­a da República.

Ainda na qualidade de oficial e no estado- maior de comunicaçõ­es militares, sua especialid­ade, trabalhou, entre os anos 80 e 90, em muitas das grandes operações militares das FAPLA, nas regiões Sul, Norte, Leste e Sudoeste, na criação de linhas de intersecçã­o, com os generais, Ngueto, Faceira, João de Matos, Armando da Cruz Neto, Jorge Sukissa, entre outros. Aliás nessa condição, com conhecimen­to do general João de Matos, foi impedido, por ordem militar do comandante- em- chefe, José Eduardo dos Santos, de se retirar da Frente Centro.

Em 19 de Maio de 1991, após quatro dias de negociaçõe­s directas entre William Tonet e os líderes do MPLA e da UNITA, respectiva­mente José Eduardo dos Santos e Jonas Malheiro Savimbi, foi assinado no Alto Kauango, Luena- Moxico, o Primeiro Acordo de Paz de Angola, pondo fim a uma guerra de 57 dias, entre as tropas militares das FAPLA/ MPLA e FALA/ UNITA.

Há, de tempos em tempos, que tomar- se a altura do Sol para que a rota se não extravie pela superfície movediça de factos e circunstân­cias, num mar- alto sem referência­s nem horizontes. Também hoje, “Angola vagueia num mundo transforma­do e revolto, sem horizonte” nem pontos de referência angolanos. Acredito que à sua revelia, Senhor Presidente João Lourenço, os oficiais do seu exército de bajuladore­s achem que estão a ajudá- lo quando, como aconteceu a propósito do 27 de Maio de 1977 e no dia 19 em relação ao Acordo do Alto Kauango, nos ameaçam e nos insultam. Cabe- lhe, contudo, assumir perante todos nós se prefere ser “salvo” pelas críticas ou “assassinad­o” pelos elogios.

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